Nova adega da Symington no Douro teve “desvio” de cinco milhões nos custos
Grupo de vinhos que detém as marcas Graham’s ou Altano pagou mais de 12 milhões pela nova adega na Quinta do Ataíde, acima dos 7 milhões orçamentados. Produção no Douro subiu 33% na última vindima.
A Symington Family Estates, que detém as casas de Porto Graham’s, Cockburn’s, Dow’s e Warre’s, vários projetos no Douro (Quinta do Vesúvio, Quinta do Ataíde, Altano, Prats & Symington – Chryseia), a Quinta da Fonte Souto (Alentejo) e desde este ano também a Casa de Rodas (Verdes), acaba de estrear na vindima de 2023 uma nova adega com capacidade para 500 mil litros por ano no Vale da Vilariça, onde tem à volta de 200 hectares de vinha biológica.
Em entrevista ao ECO no verão do ano passado, Rupert Symington, presidente do grupo que fatura mais de 100 milhões de euros por ano, já tinha antecipado que esta obra — classificada como “uma aposta nas credenciais ‘verdes’ da Symington, para a próxima geração” e apresentada como o “cartão-de-visita da família em termos de sustentabilidade” — iria custar bem mais do que os sete milhões de euros inicialmente estimados. A fatura chegou agora: o investimento ficou “ligeiramente acima dos 12 milhões de euros”.
No tradicional relatório de vindima, o grupo fundado em 1882 e sediado em Vila Nova de Gaia descreve “seis anos de planeamento meticuloso e de construção” até inaugurar esta nova “adega de impacto reduzido”. A Adega do Ataíde, que passa a ser a “casa” dos vinhos tintos da Quinta do Ataíde, da Quinta do Vesúvio e dos Altano Tinto Reserva e dos tinto e rosé biológicos, é “um dos projetos mais ambiciosos da família e reflete a confiança que [tem] no futuro dos DOC Douro de qualidade”.
Descrita pelo diretor de produção como “uma adega de sonho para qualquer enólogo”, este novo equipamento na propriedade localizada a sul de Mirandela foi concebido por uma equipa interna de arquitetos, engenheiros e enólogos para ser “altamente eficiente” no uso de energia e de água. Os painéis fotovoltaicos na cobertura produzem eletricidade para ser autossuficiente, tem uma estação de tratamento própria para as águas pluviais e residuais e teve a candidatura aceite ao processo de certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design).
“Aproveitando a orografia do terreno, trata-se de uma adega gravítica que permite a transferência de massas frescas pelo edifício, sem recurso a bombas mecânicas e tubos de massas. As cubas de fermentação estão equipadas com air-mixing, processo que injeta ar dentro da cuba de forma ascendente, proporcionando uma remontagem natural que poupa energia e favorece a qualidade do vinho”, resume Charles Symington, que é também o principal enólogo do grupo que começou a produzir vinhos tranquilos em 1999 e que no ano passado vendeu 270 mil caixas de vinho provenientes desta região.
O Douro enfrenta um grande desafio com um sistema de regulamentação ultrapassado que permite a livre transação no mercado aberto para as uvas destinadas aos vinhos DOC Douro, frequentemente abaixo do preço de custo e com excesso de oferta.
Neste relatório, o porta-voz da maior proprietária de quintas do Douro — tem 26, com uma área de vinha total de 1.114 hectares — contabiliza que a produção na última vindima ficou 33% acima do registo de 2022, mas em linha com o valor médio dos últimos dez anos — as produções por videira ascenderam a 1,15 quilogramas. E aproveita para repetir as críticas habitualmente verbalizadas pelas grandes empresas estabelecidas na região duriense.
“O Douro enfrenta um grande desafio com um sistema de regulamentação ultrapassado que permite a livre transação no mercado aberto para as uvas destinadas aos vinhos DOC Douro, frequentemente abaixo do preço de custo e com excesso de oferta. Em contrapartida, a produção de vinho do Porto é altamente regulada através do sistema do benefício. Este quadro está a impactar a sustentabilidade socioeconómica da região e o futuro dos vinhos do Douro nos mercados internacionais”, dramatiza Charles Symington.
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