Altice afasta todos os fornecedores sob investigação até fim do ano

"Investigação interna" lançada após a Operação Picoas já reuniu as primeiras conclusões. O grupo quer cortar com todos os fornecedores sob investigação até ao fim de 2023 e reforça canais de denúncia.

O Grupo Altice já tem as “conclusões preliminares” da “investigação interna” que lançou depois das buscas à Altice Portugal neste verão, e que levaram à detenção para interrogatório do cofundador Armando Pereira, bem como à suspensão de vários colaboradores, incluindo na cúpula executiva. A empresa revelou esta quinta-feira que, até ao final do ano, vai cortar laços com todos os fornecedores suspeitos da Operação Picoas.

“A Altice International [inclui a Altice Portugal] e a Altice France decidiram imediatamente afastar-se de todos os fornecedores potencialmente implicados na investigação das autoridades portuguesas. Até à data, tanto a Altice International como a Altice France já completaram substancialmente essas transições de acordo com o plano e terão completado o plano de transição na totalidade até ao final de 2023″, assume o grupo num comunicado. Mas sem revelar o número de fornecedores, áreas de negócio e respetiva identificação.

Segundo a nota, os fornecedores suspeitos, principalmente ligados a Armando Pereira e ao seu parceiro de negócios Hernâni Vaz Antunes, representavam “menos de 6% da despesa total da Altice International (sobretudo em Portugal)” e “menos de 2% da despesa total da Altice France”. A Operação Picoas investiga, em linhas gerais, como estas figuras do universo Altice terão participado e influenciado negócios em benefício próprio, prejudicando a Altice e o próprio Estado português em vários milhões de euros.

Esta quinta-feira, o Grupo Altice insiste ser “vítima” das alegações que constam do processo: “O estatuto de vítima da Alice Portugal foi reforçado pela sua designação como assistente do processo conduzido pelo Ministério Público em Portugal, como reportado publicamente a 26 de outubro de 2023. Assim sendo, tendo em conta a investigação em curso das autoridades portuguesas, a Altice International e a Altice France continuarão a ter em conta todos os factos disponíveis e circunstâncias para determinar passos investigativos adicionais e tomar as decisões internas e externas necessárias para proteger os seus direitos em todas as geografias em que operamos”, aponta o comunicado.

A “investigação interna” anunciada pelo grupo no rescaldo das buscas em Portugal tem sido conduzido pela Ropes & Gray e pela DLA Piper France, enquanto “conselheiras globais”, com o apoio de consultoras externas locais “em cada geografia”. “Também estão a ser assistidos por especialistas forenses (Ernst & Young e Accuracy) na condução desta avaliação e análise da origem da alegada conduta”, salienta a companhia. “O trabalho de investigação inicialmente definido foi substancialmente concluído e não se espera um impacto material nas declarações financeiras da Altice International nem da Altice France“, sublinham as empresas na nota conjunta.

O objetivo desta investigação era “conduzir uma avaliação de risco alargada em jurisdições chave”, recorda a Altice, salientando que, à luz das revelações da Operação Picoas, “tomou medidas imediatas, incluindo melhorar os procedimentos de controlo internos e controlos, reforçar a supervisão dos processos de procurement e suspender certos trabalhadores que tinham potenciais ligações à conduta irregular sob investigação”. Não se sabe ao certo quantos trabalhadores terão sido suspensos no total, mas houve mudanças na Comissão Executiva da Altice Portugal e o co-CEO do grupo a nível internacional, Alexandre Fonseca, que era CEO em Portugal à data dos factos, solicitou a suspensão das suas funções por tempo indeterminado.

Altice melhora canais de denúncia interna

Na nota que divulgou esta quinta-feira, a Altice International e a Altice France fazem ainda um balanço dos “processos, políticas e procedimentos” que foram melhorados na sequência da Operação Picoas, e que vão operar de forma diferente “daqui em diante”. Entre as medidas tomadas está o reforço das equipas de compliance e a melhoria dos canais de denúncia interna.

“Apesar de já estarem em vigor mecanismos de controlo robustos em ambas as empresas, a Altice International e a Altice France iniciaram proativamente ações para melhorar e reforçar vários procedimentos de controlo internos, políticas e procedimentos para, efetivamente, prevenir, detetar e mitigar o risco de qualquer potencial conduta individual irregular, e designou conselheiros externos para ajudar na implementação dessas ações. Isso inclui mais um reforço das equipas de compliance de cada empresa que opere sob a liderança de conselheiros gerais locais”, referem as subsidiárias da Altice.

Além disso, “os procedimentos de whistleblowing serão melhorados e ficarão mais acessíveis a todos os colaboradores e a outras partes relevantes, para que se sintam confortáveis a usar os vários canais de denúncia”, avançam na mesma nota.

“Foi posto um ênfase particular em todas as políticas e procedimentos relacionados com: conflitos de interesse, procurement, due dilligence a terceiros, monitorização de onboarding e ongoing, condução de transações imobiliárias e controlos de contabilidade”, continua o comunicado. Para contexto, as suspeitas da Operação Picoas também dizem respeito a transações imobiliárias envolvendo património que a Altice herdou da antiga Portugal Telecom.

O grupo internacional controlado por Patrick Drahi conclui esta comunicação afirmando que tanto a Altice International, dona da Altice Portugal e da Meo, como a Altice France, dona da operadora francesa SFR, “regem-se pelos padrões mais elevados de ética e compliance e não toleram comportamento inapropriado de qualquer tipo”. As empresas afirmam que continuarão a colaborar com as autoridades “nesta avaliação” e que, em conjunto com todas as afiliadas, tomarão “todos os passos necessários para proteger os seus interesses em todas as jurisdições”.

Com esta investigação interna, a Altice tenta reerguer a sua reputação, depois de as notícias acerca da Operação Picoas terem corrido o globo e deixado Patrick Drahi sob pressão, visto que Armando Pereira era um sócio de longa data. Drahi já se demarcou da alegada conduta do seu parceiro de negócios e tem ainda outra questão sensível e premente para gerir: uma dívida que ascende a 55 mil milhões de euros nos três ramos do negócio: a Altice France, a Altice International e a Altice USA.

Uma das consequências imediatas da Operação Picoas, apurou o ECO, foi a suspensão da venda do centro de dados da Altice na Covilhã, uma operação que o grupo pretende agora concluir no outono. A empresa também confirmou estar à procura de parceiros de capital ou dívida em várias jurisdições, havendo rumores de que a unidade portuguesa está novamente à venda. De acordo com a Bloomberg, Patrick Drahi tem sondado o mercado e solicitou propostas de potenciais negócios até dezembro, incluindo para a venda da Altice Portugal.

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