CTT fizeram estudos para conhecer os seus acionistas, mas não revelam se sabiam da Parpública
Correios fazem um estudo todos os anos para saber quem são os seus acionistas, incluindo perfil e localização. Empresa não diz se permitiram identificar posição minoritária do Estado no seu capital.
A compra de 0,24% dos CTT pela Parpública em 2021 foi sujeita a “reserva” pelo Governo, que temia “perturbações indevidas” no preço das ações dos Correios em bolsa, apesar de o PCP ter sido informado dessa operação. E os CTT, sabiam?
A empresa liderada por João Bento não reagiu às notícias que vieram a público esta semana sobre a compra de ações dos CTT pela Parpública, a pedido do então ministro das Finanças, João Leão. Mas todos os anos realiza um estudo para saber quem são os seus acionistas.
Não se sabe se esse trabalho terá permitido à administração dos CTT identificar a Parpública como um dos mais de 100 investidores institucionais detentores das suas ações, informação que só foi tornada pública esta semana, mais de dois anos depois. Contactada, não diz se esses estudos permitiram identificar a posição do Estado no seu capital.
Perfis, localizações e estratégias
Ano após ano, a realização deste estudo de “caracterização da estrutura de capital” é dada a conhecer pelos CTT nos Relatórios Integrados. Por exemplo, a empresa fê-lo no final de 2019 e no final de 2020, anos imediatamente anteriores à data dos factos. Contudo, repetiu-os em 2021 e 2022.
Além do perfil dos acionistas e do número de investidores institucionais, verifica-se que este trabalho anual permite aos CTT conhecer a distribuição geográfica desses investidores e até as respetivas estratégias de investimento. A empresa tem mais de metade das suas ações dispersas na bolsa.
“Foi realizado no final de 2021 um estudo com vista à caracterização da estrutura de capital dos CTT”, lê-se no Relatório Integrado de 2021. Nesse ano, foram identificados, segundo os CTT, “151 acionistas institucionais detentores de cerca de 48% do capital social da empresa, dois investidores industriais que detinham aproximadamente 27%, sendo 24% do capital detido por investidores de retalho e outros”, como mostra o gráfico disponibilizado pelos Correios.
“De acordo com o mesmo estudo, no que se refere à distribuição geográfica, a base acionista institucional e industrial dos CTT encontrava-se sobretudo na América do Norte (mais de 32%), seguindo-se Espanha com 29%, Portugal com cerca de 22% e Europa continental (incluindo Alemanha e França) com mais de 7%”, referiam ainda os CTT na altura.
Em 2022, a empresa voltou a realizar um estudo deste género, tendo concluído que os investidores institucionais detinham 28,6% dos títulos da companhia. Sabe-se agora que a Parpública será um desses investidores institucionais, visto que detém 0,24% das ações dos CTT.
Compra de ações pelo Estado sob escrutínio
A informação de que o Estado tinha comprado ações dos CTT por ordem do Governo foi revelada esta semana pelo Jornal Económico. Depois, o ECO noticiou em primeira mão que a posição era de cerca de 0,25%, o que foi confirmado na quarta-feira à noite pela Parpública, que divulgou o despacho de João Leão a instruir a compra das ações.
A intenção do Governo seria a de construir gradualmente uma posição nos Correios até perto dos 2%, com preços limitados, patamar a partir do qual a estratégia seria reavaliada, pois o Estado teria de se assumir acionista dos CTT se tivesse mais de 2% da empresa, em cumprimento das regras da bolsa. O objetivo era mais ambicioso, o de deter 13% dos Correios, ficando quase em linha com o maior acionista na altura, a holding Manuel Champalimaud.
O tema está a aquecer a pré-campanha política, com os partidos da direita a colarem a decisão ao ex-ministro da tutela das comunicações à data, o atual líder do PS, Pedro Nuno Santos. Além disso, o PCP veio confirmar que sabia da compra de ações dos CTT, e, em 2020, o então líder parlamentar do PS, João Paulo Correia, tinha assumido ao ECO que a entrada do Estado nos CTT estava a ser negociada com o partido comunista.
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