Clima volta a marcar agenda em Davos, de mãos dadas com natureza e energia

Em Davos, onde líderes empresariais, governamentais e representantes da sociedade civil se reúnem para discutir as prioridades económicas para este ano, o clima volta a estar em foco na agenda.

Os participantes da reunião anual do Fórum Económico Mundial, em Davos, vão sentar-se em torno de uma mesa onde o clima volta a estar no centro. A organização identifica-o mesmo como um dos quatro principais temas deste evento, cujo mote para 2024 é “reconstruir a confiança”.

A sustentabilidade é um dos grandes tópicos este ano em Davos”, avalia a Mckinsey, no guia que elaborou para ajudar a seguir o evento deste ano. A consultora acredita que os líderes empresariais estarão este ano a trabalhar “num espírito de oportunidade em vez de ameaça”, no que diz respeito a temas como a descarbonização.

O encontro em Davos vai ser organizado em torno de quatro áreas: “Atingir segurança e cooperação num mundo fraturado”, “Criação de emprego e empregos para uma nova era”, “Inteligência artificial como uma força motriz para a economia e sociedade” e, finalmente, “Uma estratégia de longo prazo para o Clima, Natureza e Energia”.

No âmbito deste último tópico vai ser discutido como atingir os objetivos de neutralidade carbónica até 2050, preservando a natureza. Por outro lado, pretende-se pensar sobre como garantir o acesso seguro e inclusivo a energia, água e alimentos.

A servir de forças impulsionadoras nestas conversações estarão duas iniciativas do Fórum Económico Mundial, a CEO Climate Leaders (Líderes Climáticos) e a First Movers Coalition (Coligação dos Pioneiros).

A aliança de CEO pelo clima conta com mais de 120 empresas, espalhadas por 26 países e que se inserem em 12 indústrias, empregando 9 milhões de trabalhadores. O objetivo é “construir uma rede influente de líderes de negócio de diversos setores e regiões, com o poder de acelerar o ritmo da ação climática”, apresenta-se a iniciativa.

A mesma lança um relatório anual, tendo o último sido publicado no passado mês de novembro, assinalando que as emissões estão a subir cerca de 1,5% anualmente quando é necessário que caiam 7% a cada ano para manter viva a meta de Paris, de que o aquecimento global não supere os 1,5 graus. No mesmo documento, os responsáveis comprometem-se a avançar com recomendações em janeiro deste ano.

Entre os líderes desta aliança está o CEO da EDP, Miguel Stilwell d’Andrade. O gestor vai estar em Davos, com a administradora executiva da EDP Vera Pinto Pereira. “A EDP irá dar o seu contributo no debate e na definição de soluções que garantam um futuro mais inclusivo, justo e sustentável”, indicou a energética portuguesa numa nota enviada às redações. Estes responsáveis da EDP irão participar em diversas sessões de trabalho, reuniões bilaterais e painéis de discussão, e apontam como tema relevante a “colaboração com as comunidades para acelerar a transição energética e combater a crise climática.”

A First Movers Coalition (FMC) assenta numa ótica diferente, mais focada. A missão parte de um dado: em 2050, 50% das reduções de emissões necessárias para que a neutralidade carbónica seja uma realidade deverão ser concretizadas por tecnologias que hoje ainda não estão disponíveis, ou pelo menos não à escala necessária. A FMC quer por isso criar, até 2030, a procura que estimulará a aposta nestas tecnologias disruptivas. A coligação quer facilitar compromissos de compra e apresentá-los a fornecedores “qualificados”, para “acelerar projetos pioneiros no mercado”.

A FMC surgiu na COP26, há cerca de dois anos, e era na altura constituída por 35 membros. Agora, o número cresceu para 96, os quais assinara um total de 121 acordo, no âmbito de sete setores. Em 2030, estes compromissos deverão representar uma procura anual de 16 mil milhões de dólares para tecnologias climáticas emergentes, traduzindo-se na redução de 31 milhões de toneladas de emissões poluentes.

É esta segunda-feira que o encontro tem início, com os participantes a inundarem uma cidade suíça já está coberta de neve, mas onde, logo no início de janeiro, já eram visíveis os efeitos das alterações climáticas. A Bloomberg relata como, no início do mês, temperaturas mais amenas não permitiram a formação de neve e a prática de desportos como ski, o que seria habitual para a época. E é neste contexto que se poderão, ou não, criar condições para avançar mais depressa na causa climática.

De Goodall a Georgieva na discussão do clima

Na agenda de sessões do evento contam-se nomes fortes das áreas da energia e do clima, como Fatih Birol, o líder da Agência Internacional da Energia, que no dia 16 de janeiro é um dos oradores da sessão “Transformar a procura de energia”. No mesmo dia, a ativista Jane Goodall fala sobre “Florestas como uma solução para o clima e qualidade de vida”, e o investidor de renome Ray Dalio, que discorre sobre “Clima e Natureza: Capital de risco necessário”, a par da portuguesa Mafalda Duarte, que é e CEO do Green Climate Fund (Fundo Verde para o Clima). Kristalina Georgieva, atual diretora do Fundo Monetário Internacional, é oradora da sessão “Clima e Natureza: Uma resposta sistémica é necessária”.

Na quarta-feira, dia 17, “Triplicar renováveis: Rápida e Responsavelmente” terá os contributos da comissária europeia da Energia, Kadri Simson, do enviado dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, e do presidente da Iberdrola, Ignácio Galán.

Um evento neutro em carbono (com compensações)

Tendo em conta a dimensão do evento, a própria reunião tem impactos ambientais palpáveis. O transporte é a maior fonte de dióxido de carbono, reconhece a organização. De acordo com números recolhidos pela Greenpeace e noticiados pela Euronews, em 2022, um em cada dez participantes viajou para a conferência de jato privado, sendo que 53% destas deslocações seriam facilmente substituídas por carro ou comboio, dado que se trataram de trajetos abaixo dos 750 quilómetros.

Em resposta, o FEM diz assegurar que os participantes têm “alternativas sustentáveis” para se deslocarem até Davos. Para encorajar o transporte de comboio até ao evento, os participantes têm bilhete gratuito desde que a viagem seja feita a partir de qualquer ponto na Europa. Já em Davos, os participantes receberão sapatos apropriados ao clima, para se poderem deslocar a pé sem contrariedades, e terão disponíveis autocarros gratuitos, além dos transportes públicos.

Já no espaço do evento, a iluminação é 100% LED, para que o consumo seja mais eficiente, e 100% a energia renovável. Foram, inclusivamente, instalados painéis solares no Centro de Congressos.

E os cuidados estendem-se ao menu. Em 2023, 82% dos alimentos servidos eram da época. “Evento após evento, melhoramos os objetivos em termos de alimentação sazonal e de origem local, em combinação com opções vegetarianas e veganas, e com o uso de produtos orgânicos e de comércio justo”, indica o FEM, sem mais detalhes. As sobras deverão ser entregues, através de uma associação local, a restaurantes e cidadãos. Além disso, já não são utilizados plásticos de uso único para servir bebidas.

Quanto aos eventos privados que se realizam em torno do grande encontro, o Fórum Económico Mundial emitiu um guia em que dá orientações sobre como tornar esses eventos, também, mais sustentáveis, desde os espaços que os acolhem até à acessibilidade e aos materiais disponibilizados.

Mas como estas medidas não garantem a anulação de todos os impactos negativos, o Fórum Económico Mundial compromete-se em compensar o total das emissões associadas ao encontro, e as quais contabiliza desde 2017. A compensação é feita através do apoio a projetos ambientais “na Suíça e no estrangeiro”, refere.

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