Ministro da Economia preocupado com impacto da instabilidade política nos investidores. “O meu trabalho tem sido tranquilizar”
“Há conversações avançadas com múltiplos investidores", diz António Costa Silva. “E aí noto algum nervosismo”, admite. “O meu trabalho tem sido serenar e tranquilizar”, sublinha.
“Estou mais preocupado com os efeitos da instabilidade política nos investidores”, admite o ministro da Economia em declarações ao ECO, na sequência dos dados publicados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, que superaram as expectativas do próprio Executivo. “Temos um grande pipeline de investimentos”, justifica, por isso, está concentrado em tranquilizar os investidores.
“Nunca tivemos o Governo da República e das duas regiões autónomas numa situação como esta. Isto é preocupante porque a estabilidade política é fulcral para o desenvolvimento da economia e para continuarmos a captar investidores”, sublinha António Costa Silva, numa referência ao facto de o Governo estar em gestão após a demissão do primeiro-ministro, António Costa, de os Açores irem também para eleições regionais antecipadas devido ao chumbo do orçamento regional e ao facto de o líder do governo regional da Madeira ter apresentado a demissão na segunda-feira, embora ainda sem efeitos imediatos, depois de ter sido constituído arguido numa caso de corrupção.
Nunca tivemos o Governo da República e das duas regiões autónomas numa situação como esta. Isto é preocupante porque a estabilidade política é fulcral para o desenvolvimento da economia e para continuarmos a captar investidores.
“Há conversações avançadas com múltiplos investidores para ver se o país consegue reindustrializar-se e abraçar esta onda de transformação, sobretudo para as indústrias verdes, como o aço verde e outras”, revela Costa Silva. “E aí noto algum nervosismo”, admite. “O meu trabalho tem sido serenar e tranquilizar os investidores”, sublinha.
O ministro da Economia, que está em gestão, garante que não houve mais nenhum caso de uma empresa a desistir de investir em Portugal devido à crise política, à semelhança do que aconteceu com o consórcio europeu Naima, que abrange 15 parceiros de sete países e que estava interessado em fabricar baterias a partir de Portugal.
“Até agora não há mais nenhuma” desistência, “mas há sempre preocupações e hesitações que temos de explicar continuamente”, diz Costa Silva. “A minha mensagem tem sido sempre muito clara. Os dois grandes partidos que governaram em Portugal ao longo da democracia portuguesa nestes 50 anos partilham uma visão pró-europeísta, pró-atração de investimento estrangeiro, pró-economia de mercado e, portanto, tento tranquilizá-los explicando que o país vai encontrar a melhor solução”, defende. “Esses investidores podem estar tranquilos que o país vai responder em todas as frentes. Espero que a mensagem passe”, desabafa.
Fora do radar estão para já as preocupações com as agências de rating. “Nesta altura não são uma preocupação, porque temos uma trajetória impressionante de redução da dívida e, muitas vezes, as agências olham, não para os valores absolutos da dívida, mas para a trajetória”, sublinha. “A nossa trajetória é tão consistente e tão sólida que penso que, para já, poderão não existir preocupações a esse nível”, reitera sem, no entanto, querer levantar a ponta do véu sobre qual será a percentagem da dívida pública face ao PIB. Um indicador que será revelado “em breve”.
Exportações são um bom sinal para 2024
Apesar das incertezas que que existem a nível internacional, António Costa Silva está confiante relativamente ao próximo ano, sobretudo, depois dos vários indicadores revelados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
“Todos os resultados divulgados hoje pelo INE são acima das expectativas, incluindo do Governo. Temos um crescimento, em 2023, de 2,3%, quando o crescimento médio na União Europeia é de 0,5%, estamos mais de quatro vezes acima do crescimento da União Europeia. Por outro lado, Portugal tem a maior subida do PIB na União Europeia. É o primeiro país, em termos da subida do PIB no quarto trimestre, com um crescimento em cadeia de 0,8%. São dados significativos, que dão tranquilidade”, sublinha Costa Silva, recordando ainda o bom desempenho dos indicadores de confiança. “O dos consumidores subiu em dezembro e voltou a subir em janeiro e o indicador de confiança do clima económico subiu em novembro, em dezembro e voltou a subir em janeiro. Um indicador que abrange múltiplos setores da indústria transformadora, à construção, das obras públicas, aos serviços”, precisou.
Quanto às exportações, que voltaram a ter um contributo positivo para o crescimento do PIB, “são um bom sinal para 2024”, diz Costa Silva.
A intensidade exploradora do país, em setembro, estava perto dos 48% e, de acordo com todo os indicadores que temos recebido dos vários setores, vamos ter outra vez um resultado das exportações muito perto dos 50% do PIB.
“A intensidade exploradora do país, em setembro, estava perto dos 48% e, de acordo com todo os indicadores que temos recebido dos vários setores, vamos ter outra vez um resultado das exportações muito perto dos 50% do PIB”, revela o responsável. “É evidente que houve um declínio das exportações, se compararmos com 2022, um ano histórico. O crescimento foi de 6,8%, o maior desde 1987. Portanto, aqui temos claramente uma desaceleração que está relacionada com tudo aquilo que se está a passar no mundo, em particular a União Europeia”, disse, recordando que 70% das exportações nacionais vão para a União Europeia. “Temos de diversificar”, reitera.
Caso a estagnação económica na Alemanha seja ultrapassada e as guerras que hoje decorrem não gerem um novo pico inflacionista, então a meta de crescimento de 1,5% em 2024 é “válida”, diz Costa Silva, ainda que seja “cautelosa”. “A economia portuguesa tem-nos ensinado repetidamente que desmente as projeções mais pessimistas”, ironiza, sublinhado que “estão a existir transformações na economia que ainda não estão completamente analisadas”.
“A tendência indicada no último trimestre do ano passado é positiva e pode manter-se em 2024”, conclui o responsável.
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