Do passado ao presente. O discurso de Marcelo sobre os 50 anos do 25 de abril em três pontos
Presidente da República recordou os vários "ciclos" e "revoluções" de Abril e urgiu para a necessidade de se ir recriando Portugal, face ao aparente "saudosismo".
O Presidente da República encerrou o rol de discursos proferidos na sessão solene dos 50 anos do 25 de abril, na Assembleia da República, optando por se focar na “história” das últimas cinco décadas, ao invés de fazer um balanço do país, tal como os vários discursos que antecederam ao do Chefe de Estado.
Evitando responder às críticas que vieram da bancada mais à direita — Iniciativa Liberal, CDS-PP e Chega — a propósito dos comentários sobre a importância de reparação colonial, no dia anterior, Marcelo Rebelo de Sousa, no seu fato de professor, centrou o seu discurso em três períodos temporais — o passado, o presente e o futuro.
Uma revolução liderada por “jovens capitães” e “sem sangue”
“Parece que foi ontem. Mas foi há meio século. Há 48 anos, estava sentado neste hemiciclo, e não encontro aqui (…) muitos mais desse tempo nesta sala. É a lei da vida“, começou por afirmar Marcelo, hoje com 75 anos, na sua intervenção.
“Vale a pena tentar compreender o 25 de abril“, continuou, recordando que o momento foi acompanhado de “várias revoluções”, “ciclos muito diversos” e protagonistas, todos eles importantes para o fim do Estado Novo. E prosseguiu, lançando a primeira primeira questão: “Porque foi tão tarde?”. Para responder, recordou todo os passos que levaram à queda da ditadura naquela noite de abril, em 1974, lembrando que os “jovens militares” “decidiram que a ditadura devia cair” e que fizeram a revolução “sem sangue”.
Mas nem todo o processo foi indolor. O Presidente da República recordou as “vítimas inocentes” da PIDE que, por desespero das autoridades, viram o seu “sangue derramar” nos anos da revolução. Nas galerias, assistiram ao discurso — pela primeira vez e a convite do Presidente da Assembleia da República, José Aguiar Branco — as famílias das vítimas da PIDE, que foram aplaudidas de pé pelos deputados no hemiciclo.
A ditadura nasceu pelas mãos de jovens militares e cairia pelas mãos de outros jovens militares. Saúdo com gratidão que não prescreve os jovens capitães de Abril.
Marcelo prossegue, e responde assim à questão inicial que tinha lançado: “Porque vários impérios coloniais ainda eram tidos por quase eternos até ao fim da Segunda Guerra. Porque esse sonho, ilusão, durou entre nós nos anos 50 (…) E porque o sucessor do chefe do regime só em 1972 tornou totalmente visível a impossibilidade de democratizar, liberalizar e, sobretudo, de descolonizar.” Questionou ainda porque foi como foi, reiterando que “só assim teria sido possível”.
No mesmo momento, mas sem dizer os nomes, saudou Ramalho Eanes, que como habitual, assistia à sessão solene das galerias, pelo seu papel essencial para “transitar para a democracia”, Mário Soares, o “imediato vencedor civil da revolução”, e ainda Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e Freitas do Amaral.
25 de Abril foi catalisador para a história do país
Evocando a história recente europeia, Marcelo sublinha que nenhum outro regime teve de lidar com uma revolução de tal forma como aconteceu em Portugal, e concluiu, por isso, ser “injusto comparar o incomparável” e “esquecer os custos globais daquilo que” se viveu “e da revolução que só aconteceu porque a ditadura não soube ou não quis fazer uma transição”.
Marcelo lembra, assim, como o 25 de Abril acelerou a história e o desenvolvimento do país: levou ao fim de um império de cinco séculos, resultou no fim de uma ditadura de 48 anos, espoletou um processo de descolonização, provocou a mudança de regime económico e levou à integração de Portugal na Comunidade Europeia Económica e, mais tarde, na União Europeia.
À semelhança do período de revolução, Marcelo também destaca protagonistas deste período, nomeadamente, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva, que reforçaram a estabilidade governativa.
Memória sobra do 25 de Abril precisa “de impulso de novas ideias e gerações”
Evocando os períodos de ”estabilização do regime político” e “do ciclo económico”, o Presidente da República deixou ainda um olhar para o futuro, referindo que as recentes sondagens sugerem um aumento do “saudosismo” e “nostalgia do passado”.
Perante esta realidade, o Chefe de Estado apelou ser necessário pegar “naquilo que é mais promissor” do 25 de Abril e no “sentimento que nunca enfraqueceu” para “recriar Portugal”: “Chama-se liberdade, democracia e vontade do povo”, disse.
“Muito parece precisar de um impulso de novas ideias e gerações”, recomendou ainda o Presidente da República. “Tenhamos a humildade de preferir sempre a democracia imperfeita à ditadura. Ninguém quer trocar uma democracia menos perfeita por uma ditadura. Queremos melhor e muito melhor democracia”, rematou.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Do passado ao presente. O discurso de Marcelo sobre os 50 anos do 25 de abril em três pontos
{{ noCommentsLabel }}