Agricultura: Combinar otimização de recursos e produtividade
No 1º Fórum de Agricultura Sustentável, o segundo painel de debate centrou-se no tema: "Combinar a otimização de recursos com produtividade das culturas".
No dia 14 de maio, decorreu, no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, o 1º Fórum de Agricultura Sustentável, uma iniciativa organizada pelo ECO em parceria com a Câmara Municipal de Santarém, no qual decorreram vários painéis de debate para discutir o futuro da agricultura sustentável no país.
O segundo painel do evento, dedicado ao tema “Combinar a otimização de recursos com produtividade das culturas”, contou com a presença de Gonçalo Santos Andrade, Presidente Portugal Fresh; Francisco Gomes da Silva, Diretor-Geral AGROGES; Abílio Pereira, Administrador Área Agrícola da Quinta da Lagoalva; e José Palha, Presidente da Direção da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC). O debate foi moderado por Shrikesh Laxmidas, diretor adjunto do ECO.
“Eu, na minha faceta de agricultor, benefício da colaboração com a Universidade para a resolução de problemas que têm a ver com a qualidade do recurso, com a eficiência no uso do recurso, no caso do solo, um pouco também da água, e a forma como tenho, no sistema de agricultura que pratico, de otimizar a utilização do recurso. Claro que podíamos estar melhores do que estamos, mas eu acho que não devemos minimizar a importância daquilo que é feito hoje em dia em Portugal e que tem sido feito ao longo dos últimos 15/20 anos. Nós não conseguimos melhorar eficiências nem produtividades se não tivermos conhecimento e tecnologia. Não há outra forma”, começou por dizer Francisco Gomes da Silva.
“Existe, de facto, problemas que têm a ver com a qualidade dos recursos e da produtividade, de eficiência, de capacidade de gerar mais valor sem deteriorar outros valores. Cada vez mais os agricultores têm consciência disso e sabem que têm um caminho a percorrer. Portanto, a grande esperança que eu acho que se abre para a agricultura radica, por um lado, numa população que está a crescer e vai ter mais necessidade de alimento, que se espera que se baseie numa dieta melhor, com novas formas de alimentação que existem. E este é o estímulo positivo que temos, aliado ao grande desafio que é fazer isso mais bem feito do que fizemos no passado, com a consciência de que aquilo que se fez menos bem no passado não foi por maldade, isto é, os agricultores sempre tentaram usar o conhecimento existente e disponível em cada momento para resolver cada problema. A grande vantagem é que hoje em dia há menos interrupções de comunicação”, continuou.
A corroborar esta ideia estava Gonçalo Santos Andrade, que afirmou: “Portugal, ao longo dos últimos 10/15 anos, fez um percurso extraordinário. Acho que todas estas parcerias entre as empresas e as universidades têm tido uma evolução muito positiva. Nós, ao nível das organizações de produtores, que surgiram de acordo com a organização comum de mercado das frutas e legumes, em 1997, temos programas operacionais. Mas dentro dos programas operacionais do PEPAC, 2% do investimento do programa operacional tem que ser para investigação e desenvolvimento. E, portanto, isto às vezes também ajuda a acelerar alguns processos de investigação“.
“Na minha organização de produtores, a Lusomorango, lançamos, há cerca de um ano, um centro de investigação para a sustentabilidade, muito focado na água, no qual temos duas linhas de investigação: temos uma, utilizando bastante tecnologia, mas sendo muito agressivo na questão das dotações de água para a planta, de forma a perceber até que ponto conseguindo reduzir a utilização de água, conseguimos manter a nossa rentabilidade económica. E, por isso, estamos a estudar, por um lado, essa situação, e por outro lado, apostar na economia circular, uma segunda linha de investigação, com a reutilização de água do substrato, recolhendo o que a planta não absorve, quer a nível da água e de nutrientes e voltando a colocar no sistema“, explicou.
Já ao nível da Portugal Fresh, o presidente da associação referiu que o tempo que passam fora do país permite-lhes recolher “muita informação do que se passa nos outros países”. “E é muito interessante ver, nalguns destes eventos internacionais, empresas que têm como prioridade a comunicação com os clientes, orientada para práticas de sustentabilidade, não só a nível do uso eficiente da água, mas o cuidado que tem de se ter com as pessoas, na integração dos migrantes na sociedade, onde os municípios têm um papel fundamental”.
“Este caminho de uma lógica de intensificação sustentável tem vindo a ser feito e não acho que seja negativo. E posso dar uma série de exemplos de coisas boas que têm vindo a acontecer, e começo por uma figura, que são os grupos operacionais, que têm de ter investigação e que obrigam a ter uma empresa agrícola, uma universidade e uma empresa para resolver um determinado problema. Parece-me que esta é das maneiras melhores de transferir conhecimento. No fim, tem de se fazer ações de divulgação desses conhecimentos e tem sido feito um grande trabalho nesta área pelos grupos operacionais. Por outro lado, muitas universidades candidataram-se ao PRR para estudos mais ligados com as alterações climáticas e com outras coisas“, disse, por sua vez, José Palha.
O presidente da ANPOC acrescentou, ainda: “A intensificação sustentável é o caminho que eu acho que todos os agricultores, em todas as áreas, obrigatoriamente, têm de fazer. Passa muito pela renovação geracional e por as novas gerações terem uma atitude em relação às questões ambientais que as gerações mais antigas não tinham. Este problema da idade dos agricultores que nós temos na Europa, especialmente em Portugal, terá de ser substituído. E, nessa substituição geracional, eu acho que o foco nesta intensificação vai estar na cabeça de todos os agricultores. É um caminho inevitável, que pode levar mais ou menos tempo, mas eu acredito que vá acontecer“.
Nesse sentido, Abílio Pereira disse, ainda, que “há uma série de conhecimentos de produtos que estão a chegar à agricultura, sobre formas diferentes de rentabilizar, sobre como serem mais eficazes e eficientes, e sobre como continuar a aumentar as produções e a rentabilidade”.
“E isto é muito importante porque a população mundial está a aumentar e temos de responder a essas exigências. Cada vez mais, vamos ter que produzir mais com menos. Não sei se será com a ajuda da IA ou outras formas, mas é um processo contínuo“, concluiu.
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