Custos dos pagamentos sobem 20% em meia década e pesam mais sobre os comerciantes
Utilização dos instrumentos de pagamento, como o numerário e os cartões, custou 0,95% do PIB em 2022, num total de 2.293,1 milhões de euros, onerando bancos, comerciantes e consumidores.
A utilização dos instrumentos de pagamento de retalho em Portugal teve custos globais de 2.293,1 milhões de euros em 2022 para o sistema bancário, comerciantes e consumidores. O valor engloba os pagamentos com numerário, cartões, transferências, débitos diretos e cheques e representa um aumento de 20% em relação a 2017.
Estes dados fazem parte de um estudo que o Banco de Portugal realiza pontualmente, cuja última edição foi publicada esta terça-feira. Os dados mostram que os pagamentos representaram um custo equivalente a 0,95% do Produto Interno Bruto (PIB) nominal desse ano e um custo per capita de 219,1 euros, um agravamento face ao custo de 188,5 euros registado meia década antes.
“Os custos globais da utilização dos instrumentos de pagamento de retalho em Portugal correspondem aos custos do sistema bancário, comerciantes e consumidores para disponibilizar e viabilizar a utilização dos diferentes instrumentos de pagamento de retalho”, explica o Banco de Portugal.
Segundo o estudo, os comerciantes arcaram com mais de metade desses custos (52%) e os os bancos estudados (BCP, Novobanco, Santander Totta, Crédito Agrícola, Caixa Geral de Depósitos e Unicre) pagaram 39% da conta. A restante parcela (9%) recaiu sobre os consumidores (ver gráfico).
Estes custos globais representam a soma dos custos internos dos três intervenientes, que resultam dos custos privados subtraídos das comissões e taxas pagas às outras partes envolvidas na disponibilização desses instrumentos, “para evitar uma dupla contabilização dos custos”, explica a nota metodológica.
Com isso em mente, “dos três intervenientes considerados, foram os comerciantes que apresentaram o maior aumento dos custos internos entre 2017 e 2022 (+28%)”, refere o Banco de Portugal.
Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.
Bancos ficam a ganhar
Olhando para os custos privados – que contemplam a totalidade dos custos de cada interveniente — os comerciantes tiveram custos de 1.520,2 milhões de euros em 2022 com a aceitação de pagamentos de retalho (+19%) e os consumidores tiveram custos de 1.095,2 milhões de euros (+39%).
Já o sistema bancário teve custos de 892,2 milhões de euros (+12%) em 2022, que foram mais do que compensados pelas receitas associadas à disponibilização de instrumentos de pagamento de retalho na ordem dos 1.215,9 milhões de euros no mesmo ano.
“Assim, a disponibilização dos instrumentos de pagamento de retalho gerou uma situação líquida positiva para o sistema bancário de 323,7 milhões de euros, mais 191,6 milhões de euros do que em 2017″, refere o Banco de Portugal, sublinhando: “Em particular, do lado das receitas, merece destaque o incremento significativo das comissões cobradas por via dos pacotes de gestão e manutenção de contas.”
Para os bancos, os gastos com pessoal representaram 28% dos custos totais, seguidos dos serviços especializados (27%), uma diferença que o Banco de Portugal nota ser agora “marginal” em comparação com 2017. “O encurtar desta diferença entre 2017 e 2022 justifica-se pela redução dos gastos com pessoal, em 22%, e pelo aumento dos custos com serviços especializados, em 26%”, evolução que “pode indiciar um aumento do recurso a outsourcing em atividades associadas à disponibilização de instrumentos de pagamento”.
Já as comissões pagas às marcas de cartões — como Visa e Mastercard — foram responsáveis por 17% dos custos dos bancos e 2022, ascendendo a 158,3 milhões de euros, e foram “a rubrica de custos que mais subiu em relação” a 2017, segundo o estudo do Banco de Portugal.
Na ótica dos comerciantes, entre as componentes de custo mais relevantes estão as “comissões pagas ao sistema bancário e, no caso do numerário e dos cheques, também os encargos relativos à contratação, com empresas de transporte de valores, de serviços que permitem a obtenção, troca e depósito de notas, moedas e cheques”.
No caso específico dos cartões, segundo o Banco de Portugal, “a contratação com um adquirente” para aceitação de uma ou mais marcas de cartões e pela disponibilização do terminal de pagamentos automático (TPA) representou 44% do total de custos com cartões de débito e 71,3% no caso dos cartões de crédito.
Já em relação aos consumidores, os custos suportados “incluem os encargos associados ao tempo necessário para efetuar o pagamento [desde o momento em que toma conhecimento do montante a pagar até ao momento em que recebe o troco e o talão] e as comissões bancárias”, representando estas últimas um custo de 885,3 milhões de euros para estes intervenientes.
Analisando novamente em termos globais, “o numerário foi o instrumento que mais contribuiu para os custos com os instrumentos de pagamento em 2022” e, conjuntamente com os cartões, os dois mais utilizados nos pontos de venda físicos, representaram pouco mais de 80% do total dos custos.
“Os custos do numerário e dos cartões de débito foram maioritariamente suportados pelos comerciantes (na proporção de 70% e de 45%, respetivamente). Nos restantes, foi o sistema bancário que suportou a maior parte dos custos”, resume o supervisor bancário português.
De forma agregada, os débitos diretos continuaram a ser o instrumento mais eficiente em termos de custos, com custo de 22 cêntimos por transação. “Seguiram-se o cartão de débito, as transferências e o numerário, que custaram, respetivamente, 34 cêntimos, 41 cêntimos e 50 cêntimos”, continua o estudo.
“Os instrumentos menos custo-eficientes foram o cheque, com um custo de 4,16 euros por pagamento, e o cartão de crédito, com 2,38 euros por pagamento”, ressalva o Banco de Portugal.
Numerário é mais eficiente para pagamentos inferiores a 1,07 euros
A análise do banco central permitiu ainda concluir que, para pagamentos de montantes inferiores a 1,07 euros, o numerário revela-se o mais eficiente, enquanto acima desse valor é o cartão de débito que mais compensa, “com economias de escala a compensar os custos fixos deste instrumento”, explica.
Este estudo estimou também que em 2022 os agentes económicos fizeram 5,7 mil milhões de pagamentos no país, um aumento de 2% face a 2017, com o número de pagamentos com cartões a superar pela primeira vez o número de pagamentos com numerário (46% vs. 43%, respetivamente).
O uso de instrumentos de pagamentos de retalho resultou na circulação de mais de dois biliões de euros na economia. E o numerário, “apesar da sua utilização expressiva”, representou apenas 1% do valor total dos pagamentos realizados em 2022, visto ser maioritariamente usado em pagamentos de menor valor.
Para este estudo, o Banco de Portugal recolheu dados junto de vários bancos e de uma amostra de comerciantes e promoveu um inquérito junto de uma amostra representativa de consumidores. Por isso, os dados relativos ao numerário são estimativas e só englobam o uso por particulares, excluindo as empresas e a Administração Pública.
Este estudo é apresentado na tarde desta terça-feira na conferência SPIN – Sobre Pagamentos e INovação, promovida pelo Banco de Portugal no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
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