Trabalhadores estrangeiros aumentaram a um ritmo de 24% por ano na última década
A crescente presença de trabalhadores estrangeiros está a suprir lacunas de mão-de-obra em vários setores. Mais de 22% das empresas nacionais emprega estrangeiros, quase o triplo do que em 2014.
Nos últimos anos, o mercado laboral nacional tem assistido a uma mudança significativa no perfil dos seus trabalhadores, com um crescimento expressivo da presença de trabalhadores estrangeiros: entre 2019 e 2023, o número de trabalhadores por conta de outrem registados na Segurança Social aumentou 13%, sendo que 9,3 pontos percentuais deste crescimento são atribuíveis aos trabalhadores de nacionalidade estrangeira, refere o Banco de Portugal numa análise publicada no Boletim Económico de junho, que será divulgado na sexta-feira.
Este aumento reflete a dinâmica e as necessidades do mercado de trabalho, que tem sido impulsionado por fatores como a globalização, a redução da população em idade ativa e a procura por mão-de-obra em setores específicos.
Segundo os técnicos do Banco de Portugal, com base numa análise aos microdados mensais da Segurança Social dos últimos dez anos, “entre 2014 e 2023, cerca de um milhão de trabalhadores estrangeiros exerceram atividade por conta de outrem durante pelo menos um mês em Portugal”.
Os dados da Segurança Social revelam ainda que o número médio de trabalhadores estrangeiros foi multiplicado por nove vezes ao longo da última década, passando de 55,6 mil pessoas em 2014 para mais de 495 mil no final do ano passado, como resultado de um crescimento anual médio de 24%.
Um crescimento igualmente assinalável foi também sentido no número de empresas que emprega estrangeiros. Segundo o Banco de Portugal, “enquanto em 2014 apenas 7,9% das empresas tinham trabalhadores com nacionalidade estrangeira entre os seus colaboradores, essa proporção subiu para 22,2% em 2023”.
Os técnicos da entidade liderada por Mário Centeno destacam que “não se observam diferenças assinaláveis em termos do peso dos trabalhadores estrangeiros entre pequenas, médias e grandes empresas. No entanto, as remunerações dos trabalhadores estrangeiros são, em média, inferiores às dos trabalhadores portugueses, com uma mediana muito próxima do salário mínimo nacional.
“A distribuição das remunerações brutas regulares dos trabalhadores por conta de outrem com nacionalidade estrangeira apresentou uma mediana e uma dispersão inferiores à distribuição para os trabalhadores por conta de outrem com nacionalidade portuguesa em 2023, quer nos mais jovens, quer nos com mais de 35 anos de idade”, destaca o estudo.
Em 2023, por exemplo, a mediana das remunerações mensais dos trabalhadores estrangeiros foi de 769 euros para os mais jovens e 781 euros para os mais velhos, contra 902 euros e 945 euros, respetivamente, dos trabalhadores nacionais.
Impacto da força de trabalho estrangeira na economia
Os dados da Segurança Social permitem concluir que os trabalhadores estrangeiros têm uma presença marcante nos setores do alojamento e restauração, atividades administrativas e construção, com estes trabalhadores a serem responsáveis por 31,1%, 28,1% e 23,2% em 2023, respetivamente, do total de empregos gerados por estas atividades.
A maioria está predominantemente concentrada no litoral, com maior incidência nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, bem como na costa do Alentejo e no Algarve. No entanto, os municípios com maior percentagem de trabalhadores estrangeiros incluem Odemira, Ferreira do Alentejo e Cinfães, destacando-se pela significativa atividade agrícola. Em Odemira, por exemplo, no ano passado, 76,1% dos trabalhadores tinha nacionalidade estrangeira.
A análise detalhada do Banco de Portugal revela também que os brasileiros são o grupo mais numeroso, com 209,4 mil indivíduos registados na Segurança Social em 2023, representando 42,3% do total de trabalhadores estrangeiros. Seguem-se os trabalhadores indianos, nepaleses, cabo-verdianos e bengalis.
A idade mediana dos trabalhadores estrangeiros é de 33 anos, o que compara com os 42 anos dos trabalhadores portugueses. E 36,7% dos trabalhadores estrangeiros são mulheres, com variações significativas entre nacionalidades. Por exemplo, mais de 40% dos trabalhadores brasileiros e cabo-verdianos são mulheres, enquanto, entre os trabalhadores indianos e bengalis, essa percentagem é consideravelmente menor, refere a análise do Banco de Portugal.
O fluxo crescente de trabalhadores estrangeiros para Portugal tem implicações significativas para a economia e o mercado de trabalho. Este fenómeno não só ajuda a colmatar a falta de mão-de-obra em setores específicos, como também contribui para a diversificação cultural e económica do país, como referem vários estudos sobre o tema.
Para o futuro, a análise do Banco de Portugal salienta a necessidade de monitorizar e analisar continuamente o impacto destes trabalhadores na economia portuguesa, garantindo que as políticas laborais e de imigração sejam ajustadas para maximizar os benefícios e minimizar possíveis desafios.
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