Exclusivo Auditoria identifica offshores nas transferências do Benfica

A auditoria forense foi realizada pela consultora EY que, durante dois anos, analisou os contratos de transferência de 51 jogadores do clube dos encarnados e respetivos 76 agentes – de 2008 a 2022.

Dez das empresas envolvidas nas transferências de mais de 30 jogadores do Benfica tinham sede em paraísos fiscais – como Dubai, Malta, Chipre e Panamá – bem como dez casos de negociação de jogadores revelaram conflitos de interesse entre os agentes e os jogadores ou entre os os agentes e a SAD do Benfica. Estas são algumas das conclusões da auditoria forense realizada pela consultora EY que, durante dois anos, analisou os contratos de transferência de 51 jogadores do clube dos encarnados e respetivos 76 agentes – de 2008 a 2022 – identificados nas suspeitas no chamado processo Cartão Vermelho.

No mesmo documento de 208 páginas, a que o ECO teve acesso em primeira mão, foram identificadas “várias situações” nas quais os beneficiários efetivos das entidades envolvidas na transferência de 51 jogadores não puderam ser confirmados.

No processo Cartão Vermelho, estão em causa os indícios criminais, acredita o Ministério Público (MP), que recaem sobre o ex-líder das águias, Luís Filipe Vieira, de burla qualificada, abuso de confiança agravada, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada, numa investigação que resultou na sua detenção em julho de 2021. Agora, esta auditoria forense já está com o MP e foi disponibilizada aos sócios encarnados esta sexta-feira.

Concretizando, a auditoria identifica mais de 30 transferências (no universo de 51 jogadores) feita por dez empresas sediadas em offshores: Arcadia Consulting, Bibella Investments, S.A. (dona de 80% da US11 que foi utilizada em várias transações), Foot&Ball Sport International FZE, Leiston Holdings, Lian Sports Limited, Master Internacional FZC, Primus Sports Consultancy Limited, Sports Contact Limited, The Ville Holding Corp (dona de 60% da portuguesa Sportis II Management que foi utilizada em várias transações) e Zile Football Management Ltd.

Isso mesmo foi identificado nos casos das negociações e renegociações de jogadores como Gabriel Pires, Seferovic, Raúl de Tomás, Ongenda, Talisca, Cláudio Correia, Fejsa, César Martins, Pêpê, Ronaldo Camará, Erdal Rakip, Vlachodimos, Zivkovic, Pelé, Fernando Marçal de Oliveira, Mitroglou, Ferro, Dálcio Gomes, Derlis Gonzalez e Yartley, entre outros.

Foram identificadas “várias situações” onde os beneficiários efetivos das entidades envolvidas na transferência de 51 jogadores não puderam ser confirmados.

Auditoria forense da EY

Já no caso de conflito de interesses, a auditoria foca o caso de Bruno Macedo. Este, arguido no processo e detido em julho de 2021, tratou da transferência de Talisca e Nuno Santos, representando a empresa ARB Sport, mas era ainda gerente da promotora imobiliária Promotav — de fevereiro de 2018 a dezembro de 2020 — em que Luís Filipe Vieira vigora como acionista indireto de 50% das quotas através das empresas Inland e Votion.

São referidas também, neste âmbito do conflito de interesses, as transferências de Yony Copete, Jonas, Benito, Pelé, Mitroglou, Ferro, Dálcio Gomes e Zivkovic. Muitas destas realizadas por Ulisses Santos, nome aliás recorrente na análise destes contratos, em que atuava como intermediário. Já Jorge Mendes, presidente da Gestifute e visto durante anos como pessoa com grande influência nas transferências do Benfica, apenas é referido em seis das 51 transferências analisadas, num total de 76 agentes de futebol envolvidos.

O documento não identifica “nenhuma situação ou particularidade em que a SAD do Benfica tenha sido lesada por qualquer um dos seus representantes”. Ou seja, por Luís Filipe Vieira. No dia 23 de maio, o presidente do clube dos encarnados, Rui Costa, em entrevista, já tinha avançado que essa auditoria estava concluída. Do total de 176 transferências de jogadores ocorridas entre os anos de 2008 a 2022, a auditoria analisou cerca de 29% (51 casos), que são os que estão referenciados no inquérito que decorre no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).

Ao longo do extenso documento, apenas uma vez é referido o nome do atual presidente das águias. “A EY discutiu as conclusões vertidas no presente relatório com os seguintes interlocutores: Rui Costa, Domingos Soares de Oliveira, Miguel Lourenço, Paulo Alves, Célia Falé e Joana Galante.” Adicionalmente, analisaram “as caixas de correio de três intervenientes, a saber: Domingos Soares de Oliveira, Miguel Moreira e Paulo Alves”.

Da revisão de emails sobre as transações ficou claro “que havia uma troca de informações importantes dentro de um grupo restrito de pessoas. Em relação à autorização ou confirmação para realizar pagamentos, Miguel Moreira, ex-diretor financeiro e administrador da SAD do Benfica, e Paulo Alves, ex-controller financeiro da Benfica SAD, procuravam, quase sempre, validar se Luís Filipe Vieira estava de acordo com qualquer pagamento, antes da sua realização. No que diz respeito à gestão do futebol profissional, é possível verificar ao longo do tempo uma grande envolvência por parte do diretor desportivo em funções em cada momento da análise”.

Relativamente aos indivíduos que participaram nas negociações, relativas às transferências dos 51 jogadores em causa, “não nos foi possível discutir as conclusões com Luís Filipe Vieira nem com Paulo Gonçalves, ex-assessor jurídico da SAD, mas foi possível perceber o seu grau de envolvimento no fluxo de emails analisados dos outros intervenientes”, concluiu a auditoria forense.

A EY discutiu as conclusões vertidas no presente relatório com os seguintes interlocutores: Rui Costa, Domingos Soares de Oliveira, Miguel Lourenço, Paulo Alves, Célia Falé e Joana Galante.” Adicionalmente, analisaram “as caixas de correio de três intervenientes, a saber: Domingos Soares de Oliveira, Miguel Moreira e Paulo Alves”.

Auditoria forense da EY

Bruno Macedo: o testa de ferro de Luís Filipe Vieira?

O Ministério Público (MP) acredita que o empresário de futebol Bruno Macedo participou no esquema fraudulento, com vista a beneficiar o ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, em prejuízo do clube lisboeta e do Estado português.

Segundo o despacho de indiciação do MP, conhecido em 2021, Bruno Macedo é descrito como testa de ferro de Luís Filipe Vieira. “Apurou-se ainda que, nos anos de 2015 e 2016, a SL Benfica SAD realizou pagamentos diretos à Master International FZE no montante global de 2.636.362,62 euros, sendo que tais ganhos foram mobilizados, na sequência do acordado entre Luís Filipe Vieira e Bruno Macedo, para, pelo menos em parte, virem a beneficiar as sociedades do Grupo de Luís Filipe Vieira”, acusa o MP.

De forma a “ocultar a origem dos fundos nas contas da Master”, indica o despacho, os suspeitos acordaram utilizar outra estrutura societária, constituída na Tunísia, “forjando a existência de faturação emitida por esta à Master, de forma a justificar a circulação de fundos”.

Em causa estão “factos ocorridos, essencialmente, a partir de 2014 e até ao presente” e suscetíveis de configurem “crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento”.

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