“Totalmente normal”, diz convidado de honra no jantar de Galamba com Startup Campus no JNcQUOI
Michael Liebrich, consultor especializado em energia, conta ao ECO que esteve no jantar pago pelo CEO do projeto e em que participou o ex-ministro. "Normal, podia acontecer em qualquer lado", afirma.
“Quem foi o convidado de honra? Fui eu”, assume Michael Liebreich. Em declarações ao ECO, Liebreich admite ser o misterioso “Michael” que o despacho do Ministério Público (MP) sobre a Operação Influencer diz ter estado presente no polémico jantar com João Galamba, na altura secretário de Estado da Energia, e com Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, CEO e administrador da Start Campus, respetivamente.
O jantar no restaurante JNcQUOI Ásia, em Lisboa, realizado a 19 de junho de 2022, foi uma das várias refeições que o então governante terá partilhado com os representantes do centro de dados em Sines, um armazém de informação digital que previa um investimento total de 3,5 mil milhões de euros. Segundo o MP, as refeições pagas por Salema, e em que também esteve presente Nuno Lacasta, na altura presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, indicam “um sentimento de permeabilidade e vontade de favorecer os interesses [da Start Campus]”.
Michael Liebreich é um dos sócios-gerentes da EcoPragma Capital e diretor executivo da Liebreich Associates. Entre as anteriores funções contam-se a de membro do grupo de trabalho para a eficiência energética do Reino Unido, de conselheiro da ONU para a Energia Sustentável para Todos e a de membro do conselho de administração da Transport for London. É também o fundador e colaborador sénior regular da Bloomberg New Energy Finance.
Em entrevista ao ECO realizada em Munique (Alemanha), onde esteve no palco da segunda edição da conferência “We Choose Earth Tour”, organizado pela empresa esta quinta-feira, Liebreich explicava a importância dos data centers para a Europa, quando falou sobre a presença no polémico jantar.
A digitalização é um dos “pontos de verdadeiro entusiasmo no sistema elétrico”, pois estamos a viver um momento na Inteligência Artificial “que é incrivelmente excitante e, de certa forma, também ameaçador”. O entusiasmo reside no facto de ajudar a empresas a gerir melhor o sistema e a obter mais capacidade nas linhas de transmissão porque podem geri-las digitalmente, argumenta.
“A parte ameaçadora é que vão ser necessários centros de dados muito grandes. Curiosamente, Portugal é um dos locais interessantes, com o desenvolvimento em Sines do Start Campus“, vincou. “É incrível e é o caminho certo a seguir. Participei um pouco nesse projeto”.
“Um dos problemas foi o facto de Galamba ter aceitado a ‘hospitalidade’ de um jantar 260 euros no restaurante. Quem é que foi o convidado de honra do jantar? Fui eu”, revelou o empresário e consultor especializado em energia.
João Galamba, que entretanto, em janeiro de 2023, acabaria por ser nomeado ministro das Infraestruturas, demitiu-se a 13 de novembro do ano passado, seis dias depois da demissão do próprio primeiro-ministro António Costa, também na sequência da Operação Influencer.
A 27 de abril deste ano, João Galamba, que é arguido no processo, disse à CNN Portugal que a Operação Influencer terá um de dois desfechos: ou um arquivamento ou uma absolvição, caso seja acusado.
Mesa para nove
O valor total do jantar foi de 1.301 euros, uma média de 260,3 por cada uma das cinco pessoas, segundo foi noticiado em novembro de 2023. No entanto, Michael Liebreich diz que, afinal, estavam nove pessoas no jantar, sem divulgar os nomes dos restantes convidados.
“O problema é que a mesa estava reservada para cinco pessoas. A fatura do restaurante foi de 1.301 euros e, se fizermos a divisão, ele [Galamba] devia ter participado com 260 euros. Mas não eram cinco pessoas, eram nove pessoas”, disse.
O problema é que a mesa estava reservada para cinco pessoas. A fatura do restaurante foi de 1.301 euros e, se fizermos a divisão, ele [Galamba] devia ter participado com 260 euros. Mas não eram cinco pessoas, eram nove pessoas.
Liebreich recorda como se apercebeu que aquele jantar estava na origem de um escândalo. “Eu não sabia nada sobre isso. Mas de repente houve um grande escândalo. E quando li que tinha a ver com o jantar, disse: ‘espera aí, em que data? Esse jantar foi o meu, foi organizado para eu conhecer as pessoas'”, relata.
“Foi muito profissional e totalmente normal. Há pessoas que dizem que isto nunca aconteceria na Escandinávia. Errado. Acontece todo o tempo um jantar com um especialista visitante”, salientou.
Para Michael Liebreich, o próprio projeto nunca esteve na origem do escândalo, até porque o vê como de enorme importância.
“Enquanto país, Portugal deveria estar muito orgulhoso desse projeto porque a Europa tem agora dificuldade em construir estes grandes centros de dados“, explica. “Necessitam de muita eletricidade verde, 24 horas por dia, sete dias por semana. E se não conseguirmos resolver o problema por causa da proteção de dados ou da eletricidade, ficaremos atrás dos EUA e da Ásia, e eles colocarão estes grandes centros de dados no Golfo ou noutro local. É um problema sério”, resume.
“É claro que temos de fazer as coisas corretamente, não estou a dizer que temos de cortar caminhos“, conclui.
(O jornalista viajou para Munique a convite da EDP)
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