“Overstock” penalizou exportações no setor das duas rodas em 2023. Alemanha ultrapassa França como principal destino

  • Joana Abrantes Gomes
  • 4 Julho 2024

Só o segmento das bicicletas elétricas, cujas vendas subiram 5%, escapou à ligeira quebra nas exportações nacionais. Portugal vendeu quase 240 milhões de euros ao mercado alemão.

Apesar das previsões de crescimento até pelo menos ao final da década, o setor das duas rodas registou um ligeiro recuo, de cerca de 2%, nas vendas ao exterior em 2023. No entanto, os dados facultados ao ECO pela Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas (Abimota) revelam um incremento do valor das exportações de bicicletas elétricas e de componentes como forquetas e guiadores, num ano em que a Alemanha destronou a França e se tornou o principal cliente da indústria portuguesa.

No ano passado, Portugal exportou bicicletas e componentes no valor de cerca de 760 milhões de euros, menos 1,58% do que em 2022 e ainda distante da barreira dos 800 milhões de euros. Esta retração, segundo o secretário-geral da Abimota, verificou-se também lá fora, na sequência de “um overstock de componentes de bicicletas”.

As cadeias de abastecimento eram longas, vinham muitas coisas da Ásia e, perante a falta de componentes, as empresas compravam tudo o que aparecia. Só que compraram algumas partes [de bicicletas] que as deixaram com stocks avultados“, explicou Gil Nadais, em declarações ao ECO, apontando que, agora, está a ser feita a “normalização” dos stocks de componentes.

Os números do representante dos produtores de bicicletas do país apontam para uma quebra de quase 10% na exportação de componentes para o estrangeiro, totalizando os 146,2 milhões de euros. Entre as 13 componentes made in Portugal, os raios (-76,2%), os porta-bagagens (-65,4%) e os aros (-44,68%) tiveram as reduções mais acentuadas nas vendas.

As vendas de outras componentes, como pedais, cubos (exceto de travões) e pinhões de rodas, e selins, também diminuíram de forma significativa — respetivamente, 35,47%, 31,23% e 25,79%. Ao mesmo tempo, foram exportados menos 23,29% de travões (incluindo os cubos de travões) e menos 16,1% mudanças de velocidades (desviadores) face a 2022.

Não obstante, Gil Nadais aponta que o investimento da indústria nacional das duas rodas é, atualmente, no sentido de “substituir as importações de componentes” e “evitar cadeias de abastecimento longas”, mantendo não só a sua capacidade de montagem de bicicletas, como também aumentando o volume e o número de componentes fabricados para o setor.

Exemplos desse investimento são componentes como os guiadores e as forquetas, cujas vendas ao exterior dispararam 146,34% e 60,11%, para 525.184 euros e 4,5 milhões de euros, respetivamente — ainda que os acessórios para bicicletas sejam a componente com maior peso (9,19%, quase 70 milhões de euros) no total das exportações portuguesas. “O consumidor europeu [que é o principal cliente do mercado nacional] também quer cada vez mais produtos com uma pegada ecológica reduzida”, assinala o secretário-geral da Abimota ao ECO.

As componentes representam, no entanto, quase 20% do total das exportações do setor das duas rodas em Portugal. Mais de 80% dos 760.004.697 euros vendidos pela indústria nacional em 2023 correspondem a bicicletas, dos quais 335,1 milhões provenientes das exportações de modelos convencionais e 278,6 milhões dos modelos elétricos.

Embora a bicicleta elétrica ainda não tenha ultrapassado a convencional, o cenário, segundo Gil Nadais, tem sido de maior “apetência” dos mercados pela primeira em detrimento da segunda, o que foi já notório nas exportações do ano passado: a compra do modelo elétrico subiu quase 5%, enquanto a compra da bicicleta convencional teve uma quebra ligeira de cerca de 3%.

A diminuição do “bolo” total das exportações em 2023 não desanima a indústria das duas rodas. “Os dados apontam para que o setor da mobilidade suave, sobretudo as bicicletas elétricas, vá crescer pelo menos até 2030, devido à descarbonização e aos hábitos de vida saudáveis que o uso de bicicleta ajuda a promover”, sustenta a Abimota.

Alemanha é destino de quase um terço das exportações

Tal como em 2022, as bicicletas convencionais, as bicicletas elétricas e as componentes fabricadas em Portugal no ano passado tiveram como destino, sobretudo, o continente europeu. França, Alemanha e Espanha mantêm-se como os três principais clientes e, no seu conjunto, equivalem a mais de dois terços (67,84%) do valor total das exportações portuguesas.

Os dados da Abimota indicam, porém, que o mercado alemão superou o francês. Em 2023, a indústria nacional de duas rodas exportou quase 240 milhões de euros em bicicletas e componentes para a Alemanha, mais 27,64% do que as vendas realizadas para o país no ano anterior, representando 31,46% das exportações totais.

O maior incremento nas vendas à Alemanha verificou-se nas bicicletas elétricas (+50,28%), embora o volume de exportações mais elevado para o país seja ao nível das bicicletas convencionais, que corresponde a quase 45% do total das exportações portuguesas neste segmento. Já nas componentes vendidas, houve uma queda de 15% face a 2022.

Enquanto os alemães preferem as bicicletas convencionais, os franceses — que em 2022 eram os maiores clientes de Portugal — privilegiam a mobilidade elétrica. O valor das exportações de bicicletas elétricas com destino a França aumentou quase 7% no ano passado, para mais de 105 milhões de euros, ao passo que as vendas de modelos convencionais de duas rodas e de componentes travaram 18,5% e 10,5%, respetivamente.

Com uma quota de 12,44% na totalidade das exportações portuguesas, Espanha fecha o “top 3” dos principais clientes da indústria nacional de bicicletas. Face a 2022, as vendas para o país vizinho registaram um decréscimo em todos os segmentos, sendo o mais significativo, perto dos 30%, nas bicicletas convencionais. O valor total das exportações para o mercado espanhol caiu abaixo dos 100 milhões de euros em 2023.

Dados do Eurostat, divulgados no início de junho, mostraram que o valor das exportações de bicicletas na União Europeia (UE) caiu 10% no último ano, para 1,03 mil milhões de euros, em comparação com 2022. O conjunto dos 27 Estados-membros exportou um total de 293 mil bicicletas elétricas (-21% face a 2022) e de 852 mil bicicletas convencionais, neste último caso equivalente a uma queda homóloga de 17%.

No que toca à produção, os últimos dados disponíveis, de 2022, situavam novamente a indústria portuguesa como a maior produtora de bicicletas no bloco comunitário. De acordo com o gabinete de estatísticas europeu, Portugal foi responsável, nesse ano, por cerca de 18% da produção total de bicicletas na UE, tendo saído das fábricas nacionais 2,7 milhões unidades, de um total de 14,7 milhões no conjunto dos 27 Estados-membros.

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