Chega troca de família europeia e junta-se ao partido de Viktor Orbán no Parlamento Europeu

Chega vai deixar de integrar a família política à qual pertence o partido de Marine Le Pen para se juntar aos Patriotas da Europa, o novo grupo formado por Viktor Orbán no Parlamento Europeu.

O Chega vai trocar de família política europeia e juntar-se ao Patriotas da Europa, um novo grupo de extrema-direita que está em vias de se estrear no Parlamento Europeu, na próxima legislatura. A decisão foi confirmada por fonte oficial do partido ao ECO, esta sexta-feira, e deverá ser anunciada esta tarde já depois de a direção nacional do partido ter votado o convite recebido por Viktor Orbán que, segundo André Ventura, foi recebido “com bons olhos”. O próximo passo será a aprovação pelo Conselho Nacional.

O partido liderado por André Ventura, que elegeu dois deputados nas últimas eleições, abandona desta forma o Identidade e Democracia (ID), do qual faz parte o Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen, para se juntar ao Fidesz da Hungria, liderado por Viktor Orbán, ao Aliança dos Cidadãos Descontentes (ANO) da República Chéquia e ao Partido da Liberdade da Áustria (FPO) num novo grupo político.

Além do Chega, também o Vox anunciou que trocaria de família europeia para se juntar aos Patriotas da Europa esta sexta-feira. O partido de Santiago Abascal conseguiu eleger seis eurodeputados nas últimas eleições, o que retira meia dúzia de representantes aos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), liderado pela primeira-ministra italiana Georgia Meloni, que são, neste momento, a terceira força política no Parlamento Europeu.

A decisão de Ventura não surpreende. Durante a campanha eleitoral, António Tânger-Corrêa já tinha antecipado que haveria movimentações no hemiciclo em Estrasburgo antes da tomada de posse dos eurodeputados eleitos. Na altura, estava em cima da mesa a possibilidade de o Chega transacionar do ID para o ECR, uma vez que havia especulação de que os dois grupos se juntariam na próxima legislatura. Mas tal acabou por não se confirmar.

Orbán em busca de ser nova força política no Parlamento

A estreia do Patriotas da Europa na próxima legislatura, porém, não é garantida. Segundo as regras europeias, para a formalização de um novo grupo político são necessários 23 eurodeputados que representem sete Estados-membros. Neste momento, os cinco partidos já confirmados ocupam 39 assentos no Parlamento Europeu, mas será necessário recrutar mais dois partidos de outros países para formalizar esta nova família. Viktor Orbán mantém-se confiante de que tal será possível.

“Mais quatro ou cinco dias e muitas pessoas ficarão surpreendidas”, disse o primeiro-ministro húngaro numa entrevista ao canal M1 TV, antecipando que este novo grupo se torne “muito rapidamente no terceiro e depois no segundo maior grupo” no hemiciclo da União Europeia. A ambição poderá ser fácil de concretizar.

Neste momento, o Parlamento Europeu (PE) é composto por sete grupos políticos, sendo que o Partido Popular Europeu (PPE), família política do PSD e do CDS, ocupa 188 lugares. Já o segundo lugar é composto pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), da família europeia do PS, que conta com 136 eurodeputados. Já o ECR, da direita radical, tornou-se recentemente na terceira força política ao aumentar a sua bancada para 84 lugares. No entanto, com a saída do Vox, o partido encolhe para os 78. Feitas as contas, os Patriotas da Europa precisariam, no mínimo, de 79 eurodeputados para conseguir chegar a terceira força política no PE.

De olho na possibilidade de assinar o manifesto desta nova família está também o partido de Matteo Salvini, La Lega, que referiu estar a “analisar todos os documentos” necessários. “Penso que formar um grande grupo que aspire a ser o terceiro maior no Parlamento Europeu pode ser o caminho certo“, disse Salvini num programa de rádio, no início da semana.

Além do Lega, há outros partidos (e eurodeputados independentes) que poderão estar interessados em juntar-se aos Patriotas da Europa. Um deles poderá ser o Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen, que elegeu 30 eurodeputados nas últimas eleições.

“Tudo o que promova os interesses dos Patriotas no Parlamento Europeu é bom para nós. Orbán é um excelente político que tem as competências necessárias para atuar a nível da UE”, disse ao Financial Times uma fonte do partido de Le Pen.

O partido francês é um dos pilares do Identidade e Democracia (ID) que, sem o RN, deixaria de ter condições para existir no Parlamento Europeu, na próxima legislatura. O grupo político conta neste momento com 57 eurodeputados eleitos, mas com a saída confirmada do Chega e uma eventual debandada da extrema-direita francesa, passaria a ocupar 25 assentos.

O Partido pela Liberdade dos Países Baixos (seis eurodeputados), o belga Vlaams Belang (três eurodeputados) e o Partido Popular Dinamarquês (um eurodeputado) também estarão em vias de acompanhar o RN nesta mudança de família política. Caso se verifiquem todas estas alterações, o Patriotas da Europa passaria a contar com 79 representantes oriundos de 10 Estados-membros.

As negociações para a formalização de novos grupos políticos ou para o recrutamento de novos eurodeputados vão decorrer até 16 de julho, altura em que 720 eurodeputados eleitos tomarão posse na primeira sessão constitutiva em Estrasburgo. Nessa sessão, será votado também o presidente e vice presidente do Parlamento Europeu, e ainda a nomeação de Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia e a Kaja Kallas para alta representante da União Europeia para a política externa. Para a aprovação de ambas são precisos 361 votos.

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