Transição energética castiga salários de portugueses que trabalham em setores poluentes
Entre 14 países da OCDE, Portugal é aquele onde trabalhadores de setores poluentes que percam emprego mais veem rendimentos cair. Demora a encontrar novo emprego e salários menos atrativos explicam.
À medida que a transição energética avança, os empregos nos setores altamente poluentes tenderão a diminuir, castigando, à boleia, os rendimentos de quem lá trabalha. Mas há países onde essa pressão na carteira dos trabalhadores está a ser sentida mais do que noutros: os portugueses estão entre os que estão a sofrer mais, de acordo com um novo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
“A transição para a neutralidade carbónica terá efeitos significativos nos mercados de trabalho”, avisa a OCDE, na nova análise divulgada esta terça-feira. “Ainda que seja necessária para combater as alterações climáticas, esta transição está a aumentar o risco de despedimentos em setores com elevados níveis de emissões de gases com efeitos de estufa“, acrescenta a organização, que prevê que, entre 2019 e 2030, o emprego nestes setores cairá, em termos anuais, mais de 2%.
E tal poderá levar a “grandes e consistentes perdas de rendimento dos trabalhadores”, sublinha a mesma organização. Contudo, nem todos os trabalhadores enfrentam as mesmas dificuldades, isto é, há “diferenças grandes” entre os vários países da OCDE.
Por exemplo, enquanto na Austrália, no Canadá, na Alemanha, na Holanda, na Noruega e na Suécia perder o posto de trabalho num setor poluente (como os transportes, a produção de energia e a indústria) leva a uma redução de menos de 30% dos rendimentos anuais, em Portugal a perda quase chega aos 70%.
Ou seja, por cá o custo do despedimento é “especialmente elevado“, salienta a referida organização. É mesmo o mais expressivo entre os 14 países analisados pelos especialistas da OCDE, como mostra o gráfico abaixo.
Há três fatores que explicam aquela quebra. Primeiro, o tempo que o profissional demora até encontrar uma nova oportunidade (ficar um ano inteiro sem conseguir um novo emprego é o fator que mais castiga os rendimentos dos portugueses).
Depois, há um recuo do número de dias no novo emprego face ao posto de trabalho antigo e, por fim, o facto de os salários oferecidos nas novas posições serem menos atrativos do que os anteriormente praticados.
Segundo a OCDE, os setores mais poluentes tendem a oferecer salários mais elevados, embora os trabalhadores tenham qualificações mais baixas. Logo, ficar sem esses empregos significa ter de encontrar oportunidades com vencimentos menos atrativos.
De resto, a OCDE observa que, quer estejam em causa setores altamente poluentes ou setores mais amigos do ambiente, os mercados de trabalho que funcionam bem tendem a reduzir estes custos dos despedimentos. Mas em países como Portugal, a Hungria e Espanha esse impacto é o dobro de outros países, como Austrália, Alemanha e Suécia.
“As diferenças entre países, no que diz respeito às perdas de rendimentos dos trabalhadores despedidos, refletem sobretudo divergências estruturais na dificuldade de encontrar um novo emprego e no funcionamento dos mercados do trabalho. E estas divergências estão provavelmente ligadas à presença de políticas laborais efetivas e coerentes, em particular políticas que facilitem as transições no mercado”, sublinha a OCDE.
Por exemplo, a Alemanha, a Holanda e a Dinamarca gastam o equivalente a 20% ou mais do Produto Interno Bruto (PIB) per capita com cada pessoa desempregada, e são países onde os custos do desemprego por causa da transição energética nem chega aos 30%. Já a Estónia gasta apenas 5% do PIB per capita com estes indivíduos e, nesse país, o corte no rendimento dos despedidos excede os 50%.
Perante este cenário, a OCDE recomenda que sejam implementados apoios “bem desenhados” para quem esteja sem trabalho, sublinhando que essas medidas podem ser fundamentais para mitigar a redução dos rendimentos durante o desemprego. Além disso, esses apoios ajudam a que os profissionais tenham tempo para procurar um posto de trabalho alinhado com as suas competências ou até para atualizarem os seus conhecimentos.
“Políticas efetivas e visionárias de upskilling e reskilling são necessárias para apoiar as transições para indústrias emergentes e com procura”, declara, portanto, a OCDE.
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