Metsola procura reeleição num Parlamento fragmentado e com eurodeputados “eleitos para destruir”
Presidente maltesa tem caminho livre para um segundo mandato em Estrasburgo, mas admite que será uma presidência difícil numa altura de grandes tensões geopolíticas e um Parlamento fragmentado.
Depois de António Costa ter conseguido a confirmação de que será o próximo presidente do Conselho Europeu, será a vez dos restantes candidatos aos cargos de topo passarem no teste. A primeira será Roberta Metsola para o cargo de presidente do Parlamento Europeu, uma recandidatura que ao contrário da de Ursula von der Leyen, para a presidência da Comissão Europeia, não enfrenta grandes entraves entre os eurodeputados — sobretudo da bancada socialista que terá direito à segunda metade da presidência no Parlamento, embora ainda não se saiba quem seria o sucessor.
Embora a reeleição por mais dois anos e meio seja previsível, não deverá ser alcançada com o mesmo resultado de 2022. Na altura, a maltesa Roberta Metsola Tedesco Triccas, que assumiu o cargo de forma interina na sequência do falecimento do anterior presidente David Sassoli, foi eleita com 458 votos dos 705 eurodeputados, em Estrasburgo. Mas já não deverá ser assim com a nova composição do Parlamento Europeu, que toma possa esta terça-feira.
“A questão que pode subsistir são dois fatores: um grande número de novos eurodeputados, que são menos previsíveis, e um grande número de de eurocéticos, que terão tendência a complicar as coisas“, antecipa ao ECO Paulo Sande, especialista em assuntos europeus e ex-conselheiro da Presidência da República.
Este ano, o número de eurodeputados no Parlamento Europeu voltou a aumentar. São agora 720. O PPE continua a ter a maior bancada, ocupando 188 lugares no Parlamento Europeu e a segunda ainda é a da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), da família europeia do PS, que conta com 136 eurodeputados. Mas os liberais deixaram de ocupar o terceiro lugar, passando para quinto com 76 eurodeputados, depois de terem sido substituídos pelos recém constituídos Patriotas da Europa, com 84 eurodeputados. Logo atrás, surgem os Conservadores e Reformistas Europeus com 78.
Os Verdes ocupam uma bancada composta por 53 lugares. Já o grupo da Esquerda elegeu 46 representantes nas últimas eleições. O grupo mais pequeno, com 25 eurodeputados, é o da nova família de extrema-direita, a Europa das Nações Soberanas. De fora, continuam 33 eurodeputados que permanecem sem filiação política.
Esta alteração na composição do Parlamento Europeu, não é, porém, “substancial”, garante José Filipe Pinto.
“Mesmo com o surgimento destes novos grupos populistas culturais e identitários, que resulta, em parte, do esvaziamento do Identidade e Democracia (ID), continuamos a ter um Parlamento controlado pelo PPE, S&D e liberais, ainda que [o Renovar Europa] tenham descido nas eleições. Continuam a fazer parte do pacote”, explica ao ECO o politólogo e professor catedrático de Relações Internacionais na Universidade Lusófona. “Não vejo dificuldades em Metsola ser eleita, mas pode haver uma diferença no número de votos“, acrescenta.
Para garantir a eleição, Metsola precisa de uma maioria de 361 votos, não sendo permitido que os eurodeputados se abstenham de apresentar o seu sentido de voto, que é secreto. Os dois grupos políticos que ocuparão a presidência do Parlamento somam 324 votos, mas juntando os liberais sobem para 400 votos.
“À partida não haverá grandes dificuldades porque [Metsola] vem de um país pequeno, fez uma boa presidência e não criou anticorpos”, analisa Pedro Sande.
Mesmo que um segundo mandato seja expectável, a maltesa de 45 anos admite que a próxima legislatura será “muto diferente da anterior”, salientando que, nas últimas eleições, “muitas pessoas foram eleitas para destruir” o que foi feito até agora.
“Não será um mandato fácil“, admitiu a presidente maltesa durante uma reunião do Comité Económico e Social Europeu (CESE), que decorreu na semana passada. Isto sem falar das crises em curso, que continuam: a guerra na Ucrânia, o conflito no Médio Oriente e as tensões comerciais com a China.
A maioria pró-europeia pode manter-se, mas precisamos de respostas coletivas em matéria de segurança, crescimento, políticas contra os elevados custos da habitação. Se não conseguirmos responder a estes desafios, os cidadãos sentir-se-ão tentados a voltar-se para os extremistas.
A votação de Roberta Metsola para a presidência do Parlamento Europeu decorre esta terça-feira numa sessão em que serão também votados os vice-presidentes. Portugal não terá candidatos, ao contrário do ano passado, altura em que Pedro Marques Pereira foi um dos 14 vices, em Estrasburgo. A semana ficará marcada também pela votação de Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Metsola procura reeleição num Parlamento fragmentado e com eurodeputados “eleitos para destruir”
{{ noCommentsLabel }}