Inapa deixa pequenos investidores com 37,7% do capital em situação “frágil”
Representante dos pequenos investidores recomenda a acionistas da Inapa, que tinha uma dívida líquida que superava o EBITDA em mais de sete vezes, que avancem com processos contra auditores e gestão.
Os pequenos investidores são, logo depois do Estado, o maior grupo de lesados com a falência da Inapa. Com 37,7% do capital disperso em pequenas participações, os investidores minoritários ficam numa situação “vulnerável”. Sem grande alternativa a não ser esperar pelo desfecho da situação da distribuidora de papel, que tinha, no final de 2023, uma dívida líquida sete vezes superior ao EBITDA e maior que os capitais próprios da empresa, os acionistas serão os últimos a receber num cenário de insolvência. Associação de pequenos investidores recomenda pedido de responsabilidade à gestão e aos auditores.
A Inapa informou, no último domingo, dia 21 de julho, que não foi capaz de obter financiamento para suprir “uma carência de tesouraria de curto prazo da sua subsidiária” na Alemanha, na ordem dos 12 milhões de euros, o que levou a empresa a pedir a insolvência da operação alemã e, “nos próximos dias” da própria Inapa IPG.
O desfecho surge depois do acionista Estado, que controla cerca de 45% do capital, através da Parpública, ter recusado a injeção de capital por considerar que faltava “estratégia de recuperação” e garantia de “ressarcimento do Estado”. Este desfecho volta a deixar os pequenos investidores na iminência de verem as suas participações numa cotada da bolsa portuguesa reduzidas a zero – neste momento ações valem menos de três cêntimos em bolsa, uma vez que, num processo de insolvência, os pequenos investidores são os últimos a receber.
Em primeiro lugar está o próprio Estado e os trabalhadores, seguindo-se os detentores de dívida sénior, subordinada, as ações preferenciais e, em último, as ações ordinárias. Uma vez iniciado o processo de insolvência, o próximo passo será a liquidação do património da empresa e a repartição do produto obtido pelos credores, processo este que poderá demorar, por lei, até três anos.
Face aos mecanismos de um processo de insolvência, os pequenos investidores estão numa situação frágil.
A Inapa tinha reportado no final de 2023 uma dívida líquida de 206,7 milhões de euros – para um EBITDA de 28,6 milhões de euros no mesmo período – e capitais próprios de apenas 166 milhões de euros. Segundo cálculos do Jornal Económico, BCP, a CGD e o Novobanco são os maiores credores da dívida bancária da Inapa.
O relatório e contas de 2023 da papeleira revela que os empréstimos bancários somavam 115,3 milhões de euros no fim do ano passado, a que acrescem obrigações convertíveis e passivos de locação financeira, elevando o total para 237,6 milhões de euros. O pagamento destes valores – a haver verbas – terá prioridade sobre as participações bolsistas, cujo valor de mercado atual está nos 15,47 milhões de euros.
“Face aos mecanismos de um processo de insolvência, os pequenos investidores estão numa situação frágil”, admite Carlos Rodrigues, presidente da Maxyield, uma associação que representa pequenos investidores. O responsável admite, ao ECO, que “neste momento a situação é frágil e a capacidade de intervenção dos pequenos acionistas é muito débil.”
Para Octávio Viana, presidente da Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM), “já era previsível este cenário”, realçando que uma análise às contas e ao goodwill da empresa permitia verificar que a empresa estava falida e “a Inapa vale próximo de zero”. O representante defende que “os acionistas deviam, na opinião da ATM, pedir responsabilidades à gestão e aos auditores”, aconselhando-os a agir judicialmente. Contactada pelo ECO, a PwC, que audita as contas da Inapa, não se pronunciou até ao fecho desta notícia.
A Parpública é o exemplo de uma participação irresponsável e injustificada do Estado numa empresa privada, em que nem como “fiscal” serviu. O Estado vai perder muito dinheiro com isso, tal como os restantes acionistas.
Quanto à posição da Parpública, “desde sempre, geriu muito mal a participação da Inapa que nem estratégica é. De relembrar que a Inapa chegou a levar a maior multa até há altura aplicada pela CMVM por distorcer contabilisticamente as contas”, aponta Octávio Viana. “A Parpública é o exemplo de uma participação irresponsável e injustificada do Estado numa empresa privada, em que nem como “fiscal” serviu. O Estado vai perder muito dinheiro com isso, tal como os restantes acionistas”, conclui.
Também Carlos Rodrigues concorda que a participação do Estado “faz pouco sentido”. Dito isto, reconhece que mesmo que a Parpública tivesse concordado com a injeção de capital, a Inapa “já estava com uma capitalização bolsista bastante baixa, em torno de 16 milhões, no início do ano”, um valor “muito inferior ao que são os capitais próprios da companhia. É uma situação que tem algum historial”.
Ações suspensas deixam investidores presos
Com as ações da empresa suspensas desde esta segunda-feira, dia 22 de julho, após a Inapa ter comunicado que avançava com o pedido de insolvência “dentro de alguns dias”, os investidores têm poucas – ou nenhumas – opções para se livrarem das ações, caso assim o quisessem. Os títulos, avaliados abaixo de 0,03 cêntimos (0,0294 euros) e uma capitalização bolsista de 15,47 milhões de euros, apenas poderão ser vendidos fora de bolsa. Ou seja, o investidor que queira vender as suas ações teria que encontrar alguém que estivesse disposto a comprar os seus papéis e negociarem um preço, uma situação pouco provável face à situação financeira da companhia.
Além de não poderem transacionar os seus títulos – e mesmo que a suspensão fosse levantada, o mais provável é que o valor das cotações baixasse para níveis próximos de zero –, os investidores terão que ter “nervos de aço”, conforme explica Carlos Rodrigues, presidente da Maxyield. Para o responsável desta associação de pequenos investidores, “há que aguardar, mas a capacidade de intervenção dos pequenos acionistas é muito débil”.
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