Baixa literacia financeira penaliza rendimento na reforma e acesso à saúde

  • ECO
  • 18 Setembro 2024

Falta de literacia financeira, aversão ao risco e ausência de planeamento reduzem rendimento disponível na reforma e capacidade para cobrir despesas de saúde inesperadas, aponta estudo da Nova SBE.

A baixa literacia financeira em Portugal, nomeadamente nas faixas etárias mais velhas, prejudica a reforma, agrava a situação económica das pessoas idosas e dificulta o acesso à saúde, segundo um estudo realizado pelo Observatório da Despesa em Saúde em parceria com a Fundação ‘La Caixa’, o BPI e a Nova SBE.

O estudo, divulgado na terça-feira, aponta que a maioria das pessoas em idades acima dos 50 anos tem uma “natureza maioritariamente ilíquida da riqueza” que “condiciona a sua capacidade de cobrir despesas diretas em saúde inesperadas e avultadas”. Esta população idosa tem tendência a fazer poupanças a longo prazo em ativos com baixo rendimento, não investindo em ações ou fundos de investimento e evitando ter risco financeiro. Além disso, concentra quase todo o seu dinheiro na habitação própria e não faz uma preparação a longo prazo para a reforma.

O aumento da esperança média de vida, a redução da natalidade, a diminuição dos números da mortalidade e a redução significativa da Taxa de Substituição Bruta das Pensões de Velhice, valor médio das novas pensões como percentagem do último salário dos indivíduos, são fatores para o empobrecimento das pessoas idosas na reforma e para a insustentabilidade do sistema de pensões, aponta o estudo da autoria dos economistas Pedro Pita Barros e Carolina Santos, investigadores da Nova SBE.

Estes fatores, segundo o estudo, indicam ser necessário mais conhecimento financeiro em Portugal, nomeadamente na população mais idosa, para uma melhor transição financeira para a reforma e melhor rentabilidade das poupanças dos portugueses.

Poupanças e investimentos pouco rentáveis

O relatório divulgado esta terça-feira assinala que “a população com 50 anos ou mais residente em Portugal demonstra uma baixa diversificação dos seus ativos, com grande parte da riqueza concentrada na habitação própria”. Quase 80% das pessoas acima dos 50 anos, em 2022, têm habitação própria, representando 75% da riqueza bruta desta faixa etária.

Nas poupanças a longo prazo, só 25% das pessoas com mais de 50 anos é que têm poupança-reforma, contas poupança-habitação e seguros de vida. Por sua vez, apenas 8,8% dos idosos portugueses com habitação própria é que possui investimentos em títulos, ações, obrigações e fundos de investimento, que representam apenas 0,75% da sua riqueza. As pessoas entre os 60 anos até aos 69 são as que mais investem neste tipo de títulos (11,4%) e só 5,9% das pessoas entre os 50 até aos 59 anos fazem este investimento.

O relatório aponta que “os ativos financeiros correspondiam, em média, a 17,31% da riqueza total bruta dos agregados em 2022, em Portugal” sendo que o peso médio de contas bancárias, contas à ordem, contas poupança ou certificados de aforro na riqueza bruta total representam 14,16%.

A maioria da faixa etária com mais de 50 anos, 88,52%, indica “não estar disposto a correr riscos financeiros”, em contraste com outros países europeus. Os portugueses têm, além disso, um planeamento das suas poupanças reduzido, sendo que a maior fatia (48,9%) só poupa para os meses seguintes.

Saúde representa despesa “permanente” na reforma

O estudo refere que um dos aspetos mais importantes do planeamento e da poupança a longo prazo são as despesas inesperadas ou até permanentes relacionadas com a saúde, que ocupam parte do orçamento das pessoas com mais de 50 anos. Segundo dados da OCDE, citados no relatório, “Portugal é o terceiro país da OCDE em que o peso da despesa direta em saúde no consumo final das famílias é mais elevado”. Nos idosos com mais de 70 anos, as despesas diretas em saúde ultrapassam os 8% do rendimento líquido anual por pessoa do agregado familiar.

O relatório ainda alerta para o perigo de “situação de pobreza ou risco de pobreza devido a despesas em saúde”, que pode atingir 6% dos idosos com cerca de 80 anos.

A faixa etária das pessoas com mais de 50 anos tem aumentado desde 2011, de 16,35% para 23,43% em 2022. Em contraste, conforme as projeções da Comissão Europeia, a Taxa de Substituição Bruta das Pensões de Velhice vai passar de 69,4% em 2022 para 38,9% em 2070 em Portugal.

O estudo reforça, por isso, a importância da literacia financeira para melhor preparar a transição para a reforma sem perder riqueza. Aponta ainda como essenciais a estratégia de literacia financeira digital para Portugal elaborada pela OCDE para o Banco de Portugal e a introdução de uma unidade curricular de literacia financeira no ensino secundário.

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