“A mobilidade sustentável é muito mais do que a eletrificação das frotas”
Débora Fernandes, da Pérez-Llorca, destacou na conferência Outlook Auto que a eletrificação das frotas não será o único caminho para a mobilidade sustentável.
“A mobilidade sustentável é muito mais do que a eletrificação das frotas”, referiu Débora Melo Fernandes, Partner Pérez-Llorca, durante o painel sobre “Sustentabilidade e Regulamentação”, na conferência Outlook Auto, que decorreu nos dias 24 e 25 de setembro, no Estúdio ECO.
Segundo a especialista, é preciso “uma aposta clara e coerente no transporte público e uma facilitação da utilização dos modos de mobilidade ativa”, através de um “plano multinível e multissetorial”.
A responsável da Pérez-Llorca também afirmou que “o setor dos transportes representa 25% das emissões de gases com efeito de estufa na Europa”, e que, por essa razão, a regulamentação também deve ser um caminho. “Sem os instrumentos regulatórios certos, não vamos conseguir fazer avançar a mobilidade no sentido da sustentabilidade”, disse, ressalvando a proibição da venda de carros com motor de combustão interna a partir de 2035.
"O setor dos transportes representa 25% das emissões de gases com efeito de estufa na Europa.”
O painel, moderado por Ana Batalha Oliveira, Diretora do Capital Verde, também contou a presença dos especialistas António Cavaco, Diretor do Depto. Económico-Estatístico da ACAP; e Susana Baptista, Diretora de Supervisão na Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, que também destacaram a importância das mudanças para se cumprirem as exigências climáticas.
Susana Baptista começou por sublinhar a centralidade da sustentabilidade nos transportes, destacando as três transições: ambiental, energética e digital. “Há vários instrumentos, como a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, o Acordo de Paris, o Pacto Ecológico Europeu, e outros instrumentos legais a nível nacional que apontam para a neutralidade carbónica em 2050, com metas de transição em 2030, que andarão em torno de uma redução de 55% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030, comparando com níveis de 1990“, disse.
Na mesma linha, também mencionou o “estudo sobre obrigações de serviço público verdes” apresentado durante a COP, que estimou a necessidade de um investimento entre dois e três mil milhões de euros para descarbonizar a frota de veículos pesados de passageiros até 2034. Contudo, a especialista salientou que “esse investimento, por si só, não resolveria o problema” e acrescentou que “se não forem adotadas medidas mais ambiciosas, estas metas poderão estar comprometidas”.
"Quando olhamos para o total das emissões no setor dos transportes, uma percentagem significativa, mais ou menos 60%, de acordo com os dados da Agência Portuguesa do Ambiente, são produzidos pelo transporte particular.”
Para isso, referiu a necessidade de aumentar a atratividade do transporte público como parte da solução: “Quando olhamos para o total das emissões no setor dos transportes, uma percentagem significativa, mais ou menos 60%, de acordo com os dados da Agência Portuguesa do Ambiente, são produzidos pelo transporte particular. Por isso, a descarbonização, por si só, não será uma solução para resolver o problema”.
“Estamos a falar de objetivos que, se não forem acompanhados por uma avaliação da situação dos diferentes mercados, podem ser demasiado ambiciosos”, disse, por sua vez, António Cavaco, que também chamou a atenção para a necessidade de melhorar a rede de transportes públicos. “A mobilidade é, de facto, um direito. E aqui temos que ter uma visão holística. Todos os modos de transporte têm que coexistir”, declarou, referindo-se ao transporte individual e coletivo.
"Em Portugal, a quota de mercado de veículos elétricos alcançou 17% em comparação com apenas 5% na Espanha.”
O responsável da ACAP alertou ainda que “com o aumento do preço das casas, há uma faixa da população, sobretudo jovem, que está a sair das cidades e a procurar zonas suburbanas”, o que intensifica a pressão sobre a circulação rodoviária. Nesse sentido, falou da importância dos incentivos, e fez uma comparação entre Portugal e Espanha, de forma a evidenciar a importância de ajudas que impulsionem a transição para uma mobilidade mais sustentável.: “Em Portugal, a quota de mercado de veículos elétricos alcançou 17% em comparação com apenas 5% na Espanha”.
A educação e a sensibilização da população também foram reconhecidas como essenciais para o sucesso da mobilidade sustentável. “A aceitação por parte da sociedade é um fator determinante”, concluiu Débora Melo Fernandes, sublinhando a importância de envolver os cidadãos nas discussões sobre mobilidade e as suas implicações.
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