EUA apoiam lítio em Portugal para aguentar “preços predatórios” da China

Subsecretário de Estado para Assuntos Económicos, Energia e Meio Ambiente de Biden acusa China de 'inundar' o mercado. Promete ajudar empresas portuguesas com financiamento, clientes e fornecedores.

Os Estados Unidos querem ajudar as empresas portuguesas na produção do lítio com financiamento, clientes e fornecedores, para os projetos aguentarem uma “fase difícil” em que a China está a produzir mais do que o mundo precisa e a dizimar os preços no mercado, afirmou esta segunda-feira o subsecretário de Estado para Assuntos Económicos, Energia e Meio Ambiente dos Estados Unidos.

“Tivemos conversas com duas empresas portuguesas e disseram-nos quais são as suas necessidades”, afirmou Jose W. Fernandez, numa mesa redonda com jornalistas durante uma visita de três dias a Lisboa. “Têm grandes planos, acreditam que existem depósitos substanciais na esfera do lítio e vão procurar financiamento, vão procurar clientes, vão procurar fornecedores e nós queremos ajudá-los, e pensamos que podemos”.

“As empresas com as quais falei estão muito animadas com a sua exploração, com o que descobriram, com as perspetivas, mas o que as preocupa é basicamente o ambiente que se criou quando os preços do lítio baixaram de 80.000 para 10.000 dólares [por tonelada métrica] “, sublinhou.

Para o governante norte-americano, só há uma responsável por essa queda que começou em dezembro de 2022 – a China, que acusa de criar excesso de oferta no mercado.

A China está a produzir muito mais, no caso do lítio, do que o mundo precisa atualmente, de longe. Está a prejudicar a capacidade das empresas portuguesas de desenvolverem os seus minerais críticos.

Jose W. Fernandez

Subsecretário de Estado para Assuntos Económicos, Energia e Meio Ambiente dos Estados Unidos

“A China está a produzir muito mais, no caso do lítio, do que o mundo precisa atualmente, de longe”, explicou. “Está a prejudicar a capacidade das empresas portuguesas de desenvolverem os seus minerais críticos”.

Fernandez sublinhou que a posição da China torna o financiamento mais difícil, torna a angariação de capital mais difícil, e essa é a resposta intencional ao que os EUA e os seus parceiros estão a tentar fazer. “O que é que um monopolista faz? Pratica preços predatórios, baixa os preços até que a concorrência desapareça”, disse. “É isso que está a acontecer e é isso que também preocupa as vossas empresas aqui”.

José W. Fernandez, Vice-Secretário dos EUA para Crescimento Económico, Energia, e AmbienteHugo Amaral/ECO

 

42 vezes o lítio atual

A situação oferece, contudo, aos Estados Unidos uma oportunidade para reforçar as relações comerciais, mas também para ajudar na transição energética.

“Neste momento, e este número não é meu, é da Agência Internacional da Energia (AIE), que estima que até 2050, para atingirmos os nossos objetivos energéticos claros, para ficarmos abaixo do [aumento de] 1,5 graus centígrados vamos precisar de 42 vezes a quantidade de lítio que utilizamos atualmente”, recordou.

“Assim, a menos que encontremos esse lítio, a menos que invistamos na extração, refinação e processamento desse lítio, não conseguiremos atingir os nossos objetivos e a administração Biden acreditou desde o primeiro dia que a nossa crise climática é a crise existencial do nosso tempo”, salientou.

O subsecretário vincou que o contexto atual também representa uma oportunidade para os países produtores beneficiarem dos seus recursos de uma forma responsável e sustentável.

Lembrou que os EUA, com 14 parceiros e a União Europeia, criaram a Parceria para a Segurança Mineral, que representa 55% do PIB mundial.

“Queremos fazer três coisas. Queremos partilhar informações entre os parceiros, investir conjuntamente, se necessário, e também, e isto é algo que salientamos, fazê-lo de uma forma que beneficie as comunidades, proporcionando bons empregos e não obrigando os países a escolher entre danos ambientais e crescimento económico”, adiantou.

“Pensamos que a nossa tarefa enquanto governos é garantir que as empresas conseguem sobreviver a este período”, referiu, vincando que a AIE estima que, mesmo com o excesso de oferta chinesa, os preços recuperarão até 2030.

“Portanto, de certa forma, estamos perante uma situação em que as empresas mineiras, as empresas mineiras de lítio, em todo o lado, têm de sobreviver a esta fase difícil que foi criada por preços predatórios“.

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