Nobel da Economia: “Há uma série de autores que serão prémio nobel influenciados pelo trabalho destes autores”

Acemoglu, Johnson e Robinson, os três laureados, explicam como a qualidade das instituições contribuem para o progresso das nações. E como a democracia propicia as condições para a prosperidade.

Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson foram distinguidos com o prémio Nobel da Economia pelos “estudos sobre como as instituições são formadas e afetam a prosperidade”. A distinção, atribuída pela Real Academia Sueca de Ciências, surge após mais de duas décadas de publicações dedicadas ao tema, onde os autores procuram perceber o papel das instituições no desenvolvimento das nações. Um trabalho que, segundo os economistas, tem motivado a academia e sustentado novas investigações, que poderão dar lugar a futuros Nobel.

Porque é que algumas nações prosperam e outras não? Esta é a pergunta à qual Acemoglu, Johnson e Robinson procuram responder, ao longo de vários estudos desenvolvidos desde o início deste século. O trabalho desenvolvido pelos três investigadores, os dois primeiros do Massachusets Institute of Technology (MIT) e o terceiro da Universidade de Chicago, ajudou a compreender como “sociedades com um Estado de direito deficiente e instituições que exploram a população não geram crescimento nem mudanças para melhor”, explica a equipa que atribuiu o conceituado prémio deste ano aos três autores.

“A análise dos laureados deste ano mostrou a importâncias da qualidade das instituições, económicas e políticas, para as trajetórias de progresso dos países“, explica Pedro Pita Barros, professor da Nova SBE. Para o responsável, “não é só explicar porque num momento do tempo são diferentes, é perceber quais os mecanismos pelos quais diferentes tipos de instituições geram dinâmicas de crescimento diferentes”.

Conforme descreve Pedro Pita Barros, os três investigadores “utilizam a ideia de ‘instituições extrativas’ e de ‘instituições inclusivas’ para diferenciar entre organizações da vida social que têm um papel de redistribuir recursos (riqueza) de todos para um pequeno grupo beneficiário (as “instituições extrativas”) e as que promovem oportunidades de uma forma geral e limitam a concentração de poder (as “instituições inclusivas”)”.

Nos seus estudos, os autores exploraram como a colonização feita pelos países europeus mudou as instituições nesses países. “Em alguns locais o objetivo era explorar a população indígena e extrair os recursos em benefício dos colonizadores. Noutros, os colonizadores formaram sistemas políticos e económicos inclusivos para benefício a longo prazo dos migrantes europeus”, refere a academia.

[O trabalho destes investigadores] permite perceber porque razão países mais democráticos, com mais abertura para a inovação, e com quadros legais que protegem a igualdade de oportunidades, acabaram por se desenvolver de forma mais rápida, mais profunda e com mais igualdade entre pessoas.

Pedro Pita Barros

Professor da Nova SBE

“Em termos práticos, permite perceber porque razão países mais democráticos, com mais abertura para a inovação, e com quadros legais que protegem a igualdade de oportunidades, acabaram por se desenvolver de forma mais rápida, mais profunda e com mais igualdade entre pessoas. Os estudos que realizaram, e que levaram a estudos de outros autores, mostram que democracias com instituições inclusivas tendem a ter mais igualdade e crescimento a longo prazo”, conclui Pita Barros.

João Pereira dos Santos, doutorado em Economia pela Nova School of Business and Economics e professor Auxiliar Convidado na mesma universidade, destaca que o “grande mérito destes autores é terem motivado uma série de autores para estudar como as instituições podem moldar o crescimento económico”, realçando o “papel da democracia e como este sistema é muito importante para dar condições económicas no longo prazo”.

O grande mérito destes autores é terem motivado uma série de autores para estudar como as instituições podem moldar o crescimento económico. Há uma série de autores que serão Nobel influenciados pelo trabalho destes autores.

João Pereira dos Santos

Economista e professor convidado da Nova SBE

São os pais desta linhagem. Motivaram as pessoas a estudar as instituições“, reforça o economista. Ainda que distinga o trabalho realizado por Acemoglu (que assina juntamente com Robinson o livro “Porque falham as nações”) — poderia ter ganho um Nobel sozinho só pelo trabalho desenvolvido no mercado de trabalho e como a automação e Inteligência Artificial influenciam o crescimento e as instituições — , João Pereira dos Santos “há uma série de autores que serão Nobel influenciados pelo trabalho destes autores”.

Francisco José Veiga, professor de economia da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, destaca que “o trabalho deles já vem evoluindo nesta área ao longo deste século, com muitas publicações em revistas científicas”. O responsável realça que os estudos dos três investigadores pretendem “explicar como foram evoluindo as instituições ao longo do tempo — por instituições entenda-se todo o conjunto de regras formais ou informais — e como os países/economias dependem de como as instituições vão evoluindo ao longo do tempo.”

Esta é uma questão antiga e que já vinha a ser explorada por Adam Smith, no final do século XVIII na “A Riqueza das Nações”, porque alguns prosperam e outros não? Não há uma resposta definitiva, mas os três dão um contributo importante.

Francisco José Veiga

Professor da Universidade do Minho

“Esta é uma questão antiga e que já vinha a ser explorada por Adam Smith, no final do século XVIII na “A Riqueza das Nações”, porque alguns prosperam e outros não? Não há uma resposta definitiva, mas os três dão um contributo importante.”

“A investigação deles mostra como há países cujas características quase iguais que tiveram contributos diferentes em função de como se organizam as instituições”, acrescenta.

Tiago Bernardino, atualmente a tirar um doutoramento em Economia na Universidade de Estocolmo, e antigo Assistente de Investigação na Nova SBE, também recebeu a notícia da atribuição do Nobel com grande entusiasmo. Para o investigador, esta distinção era aguardada entre os economistas.

A combinação do trabalho destes três economistas teve um papel fundamental a ajudar a compreender porque os países têm diferentes níveis de prosperidade.

Tiago Bernardino

Investigador da Nova SBE

A combinação do trabalho destes três economistas teve um papel fundamental a “ajudar a compreender porque os países têm diferentes níveis de prosperidade”, destacando o papel das instituições no sentido lato, justifica. O seu trabalho mostra que os países que têm instituições mais fortes são mais prósperos“.

Bernardino destaca ainda que, num momento em que vários países enfrentam ondas de populismo, estes estudos ajudam a perceber as repercussões que estes ataques à democracia podem ter ao nível da prosperidade.

“Na medida em que mundialmente se assiste a um retroceder dos países com sistemas democráticos, e um aumento de países que têm sistemas autocráticos, resultantes ou não de movimentos populistas, a previsão resultante do conhecimento gerado pelos trabalhos dos laureados deste ano é que a prazo se terá menos desenvolvimento e menor igualdade social e económica nesses países“, remata Pita Barros.

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