87% dos trabalhadores gostariam de ver salários nos anúncios de empregos
Transparência salarial é valorizada pelos trabalhadores nacionais, especialmente mais jovens. Novo estudo mostra também que trabalhadores presenciais fazem mais horas extra e estão menos satisfeitos.
Quase 87% dos trabalhadores portugueses gostariam que as faixas salariais viessem indicadas logo nos anúncios de emprego, sendo que entre os jovens essa vontade é ainda mais evidente. Esta é uma das conclusões do estudo “O estado da compensação“, que a Coverflex, empresa de gestão de benefícios para colaboradores, apresentou esta quinta-feira. Outra é que, atualmente, apenas um terço dos trabalhadores estão satisfeitos com a sua compensação.
“Quando o foco muda para a transparência nas ofertas de emprego, a esmagadora maioria dos portugueses (86,6%) deseja que as faixas salariais sejam incluídas desde o início“, lê-se no estudo, que teve por base as respostas de 2.641 trabalhadores nacionais de todo o país e de vários setores.
Entre os mais jovens, com idades entre 18 e 34 anos, essa vontade é ainda maior: 92,6% dos inquiridos admitiram ter essa expectativa, o que compara com 83,4% dos inquiridos dos 35 aos 54 anos e 70,5% dos inquiridos com 55 anos ou mais.
“O apelo por mais clareza é, portanto, maior entre as gerações mais jovens, que exigem práticas mais transparentes“, salienta a Coverflex neste estudo.
Os trabalhadores portugueses não valorizam a transparência só no recrutamento. Também dão valor a políticas desse tipo no seio das empresas. A análise divulgada esta quinta-feira de manhã indica que mais de metade (52,7%) acredita que partilhar internamente os salários traz mais benefícios do que desvantagens.
Este não é, contudo, um tema tão consensual quanto a publicação das faixas salariais nos anúncios de emprego. É que quase três em cada dez (26,5%) discordam da partilha interna da informação salarial, avisando para “possíveis complicações”. E um “número significativo dos inquiridos (20,8%)” permanece indeciso, “refletindo a complexidade deste tema dentro das organizações”.
Também neste ponto são as gerações mais jovens as mais defensoras da transparência, como mostra o gráfico acima. Entre os inquiridos dos 18 aos 34 anos, 64% reconhecem mais vantagens do que desvantagens na transparência salarial interna, enquanto apenas 35% daqueles que têm mais de 55 anos assumem essa posição.
Quanto à perceção dos portugueses em relação à sua compensação, apenas 35,3% dos trabalhadores estão satisfeitos com a sua situação atual, ou seja, a maioria não está contente com o que recebe do seu empregador, todos os meses.
“A insatisfação com o pacote de compensação revela um desalinhamento entre as expectativas dos colaboradores e o que as empresas oferecem, numa altura em que a compensação é fator decisivo na hora de contratar e fidelizar colaboradores”, assinala a Coverflex.
Trabalho presencial sinónimo de mais horas extra e menos satisfação
O estudo divulgado esta quinta-feira mostra também que os níveis de satisfação dos trabalhadores são maiores entre aqueles que exercem as suas funções forma remota ou híbrida, em comparação com quem trabalha só de forma presencial.
Em concreto, 88,6% dos trabalhadores em regime remoto e 72,9% dos trabalhadores em regime híbrido expressam níveis elevados de satisfação, enquanto apenas 51,5% dos trabalhadores presenciais apontam níveis semelhantes, de acordo com a análise da Coverflex.
Ainda sobre a diferença entre regimes de trabalho, importa notar que 39,9% dos que trabalham em regime presencial relatam trabalhar mais de oito horas por dia, em comparação com 29,1% dos colaboradores em regime híbrido e 25,6% dos colaboradores em regime remoto.
“Estes números reforçam a perceção de que os modelos mais flexíveis proporcionam um melhor equilíbrio entre a esfera profissional e a pessoal“, lê-se no estudo agora conhecido.
Estes dados são particularmente relevantes porque os regimes de trabalho continuam a ser um tema quente em Portugal, mas não só. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Amazon decidiu exigir que todos os seus trabalhadores regressem ao regime presencial a partir de janeiro, o que fez correr muita tinta nas últimas semanas.
Já em Portugal, o modelo híbrido tem ganhado terreno, conforme já escreveu o ECO, ainda que o trabalho presencial continue a ser o regime dominante.
Seguros de saúde são benefício mais valorizado
Entre os mais de dois mil trabalhadores ouvidos pela Coverflex, quase nove em cada dez (87,6%) disseram considerar os benefícios flexíveis um ponto “muito relevante” na sua compensação, mas apenas 67,2% têm, neste momento, acesso a este tipo de compensação. “Mostra ainda que há muito espaço para melhorar a oferta aos colaboradores”, defende a Coverflex.
Já quanto aos benefícios mais atrativos, os seguros de saúde continuam a ser dos mais valorizados. Hoje, 83,6% dos trabalhadores têm acesso a um plano deste tipo oferecido pela empresa, sendo que 36% têm a possibilidade de incluir membros do agregado familiar.
É de destacar também “a consolidação do cartão-refeição, que abrange 90,5% dos portugueses inquiridos, com os dados a revelar que quem recebe o subsídio em cartão tende a obter valores superiores de subsídio de alimentação“.
Quando o subsídio de refeição é pago em cartão, a isenção fiscal é superior. Para pagamentos em dinheiro, o teto da isenção fiscal está, atualmente, nos seis euros. Já para pagamentos em cartão, está nos 9,6 euros, e passará para 10,2 euros no próximo ano, se a proposta de Orçamento do Estado for aprovada pelo Parlamento.
Ainda sobre os benefícios flexíveis, o estudo indica que “há espaço para crescimento em áreas como stock options, desejadas por 57,3% dos inquiridos, mas ainda pouco acessíveis“.
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