Loopack tem “prova de fogo” em arraial universitário para acabar com copos descartáveis
A Loopack nasceu após participar no Projeto Premier, da Startup Leiria, através do qual recebeu mentoria e um "pequeno financiamento para desenvolver os primeiros protótipos e o primeiro piloto".
Imagine este cenário. Uma faculdade de engenharia com milhares de estudantes, que todos os dias procuram energia no café de máquinas de vending, e centenas de copos diariamente descartados até transbordarem dos caixotes de lixo. Foi o confronto com esta realidade que levou Diogo Valente Polónia a arrancar com a Loopack, “para tornar a reutilização de copos fácil, vantajosa e, acima de tudo, sustentável, com tecnologia inteligente, conveniência e gamificação”. A solução faz a sua “prova de fogo” no Arraial de Engenharia’24, a 31 de outubro e 1 e 2 de novembro na Exponor.
“Só podemos ter verdadeira reutilização se tornarmos mais fácil e atrativo devolver do que o descartar. Por isso, criámos um sistema circular, sem barreiras e extremamente conveniente, que se adapta às necessidades dos vários tipos de implementação — desde cafés em máquinas de vending até cerveja em grandes eventos. A nossa missão é simples mas ambiciosa: livrar o planeta de toda a poluição dos descartáveis e dos pseudo-reutilizáveis de uma vez por todas”, diz Diogo Valente Polónia, cofundador da Loopack.
A União Europeia tem vindo a apertar as restrições sobre os descartáveis, tendo em março, o Conselho da UE e o Parlamento Europeu chegado a um acordo que estabelece novas restrições, metas de reutilização e implementação de esquemas de caução e devolução.
Potenciais impactos ambientais
Nos três pilotos já efetuados, a Loopack já atingiu “92% de taxa de devolução”, valor que Diogo Valente Polónia espera aumentar “à medida que vamos melhorando o sistema”. E com impactos ambientais positivos. “Os copos reutilizáveis podem ter uma pegada de carbono dez vezes inferior ao copo descartável de plástico e três vezes inferior ao de papel, desde que sejam realmente reutilizados“, destaca. Por cada copo devolvido no sistema Loopack, a pegada carbónica reduzir 47 vezes, poupando-se cerca de 425 gramas de CO2eq por copo devolvido, face aos copos que acabam esquecidos, no lixo ou no chão, refere.
“Num festival de 200 mil pessoas que usem um copo reutilizável cada uma, mesmo atingindo apenas 50% de devolução, podemos evitar a emissão de até 40 toneladas de CO2eq. O nosso objetivo é atingir acima de 90% (75 toneladas de CO2eq poupado)”, diz ainda o cofundador.
Uma solução que, diz, visa facilitar a reutilização. “Em vez de tentarmos pôr o ónus da sustentabilidade no consumidor, construímos um sistema que torna mais fácil e atrativo reutilizar copos do que descartá-los”, diz. Com a solução da Loopack, “o consumidor tem uma experiência tão simples como quando usa copo descartável: compra, bebe, deita fora. A chave é esta: garantimos que o consumidor deita o copo fora nos smart bins, que deixamos nos locais mais convenientes“, continua. “Adicionamos mecanismos de incentivo, recompensa e de caução totalmente automatizados e em tempo real para garantir o máximo de devolução possível. Depois recolhemos os copos dos smart bins, lavamos e repomos”, descreve.
O sistema circular da Loopack é baseado em tecnologia IoT (Internet of Things). Esta “conecta os copos, os consumidores, e os contentores de recolha (smart bins), através de uma aplicação que monitoriza e recompensa os utilizadores no momento em que deixam um copo num dos smart bins“, explica.
“Temos também dispensadores de copos automáticos e trabalhamos com parceiros de limpeza locais para recolher e lavar os copos. Isto permite que uma grande capacidade de escalar este sistema para qualquer tipo de aplicação, incluindo grandes eventos”, reforça.
“A nossa solução circular inclui não só os copos reutilizáveis, mas também toda a infraestrutura necessária para o ciclo completo dos mesmos: smart bins, dispensadores automáticos, recolha, lavagem e reintrodução no sistema. Podemos adaptar o sistema a todo o tipo de casos de implementação”, refere.
Depois da “prova de fogo” os próximos passos
A “prova de fogo” será no Arraial de Engenharia’24, que decorre a 31 de outubro e 1 e 2 de novembro, na Exponor, onde são esperadas diariamente entre 5 a 10 mil pessoas.
“No arraial a distribuição dos copos vai ser feita pelos bares (e por uma banca nossa). Vamos ter dois bins (colocados estrategicamente) e a nossa banca como pontos de devolução. No total, estamos a falar de entre sete a oito mil copos”, explicam.
“Até ao momento, todo o sistema tem sido construído de forma manual e em ‘modo garagem’, com a ajuda e interação de diversos parceiros e fornecedores que garantem a eletrónica envolvida, a matéria-prima e os componentes mecânicos”, diz Diogo Valente Polónia.
“Estamos a avaliar quais as possibilidades para industrializar o produto, uma vez que esse passo é fundamental para garantir que conseguimos chegar a mais clientes, mais rápido. Procuramos parceiros que possam ajudar-nos a atingir esta meta e que tenham flexibilidade e capacidade instalada para acomodar um crescimento substancial ao longo do próximo ano”, afirma.
O objetivo é “expandir o conceito para outros festivais e eventos que tenham o tema da sustentabilidade das suas operações como prioritário na sua agenda”.
“Em paralelo, queremos continuar a fazer a diferença no mercado de vending, onde já implementamos pilotos com sucesso no passado, pois acreditamos que esta tecnologia também pode ser muito útil nesse espaço, não só pela sustentabilidade, mas também pela eficiência operacional”, continua.
E dado que 60% da equipa — hoje são sete pessoas — está na Bélgica, Luxemburgo, Suíça, “a internacionalização é um passo que vemos também como natural”. Tudo vai depender, sobretudo, “da maturidade do produto para acomodar as necessidades de diferentes mercados e da rede de contactos certa para facilitar o lançamento.”
Modelo de negócio
Ao nível de modelo de negócio, a Loopack tem várias opções. “Podemos optar por esquemas de caução, recompensas ou por fee de utilização, em que o consumidor paga uma vez para usufruir do sistema durante todo o evento. De qualquer das formas, é possível integrar os sistemas de pagamento dos eventos, sejam cashless ou não, no sistema Loopack, e disponibilizamos também uma app com um sistema de pagamento próprio. O valor do serviço pode ser ajustado ao consumo e à taxa de devolução atingida.”
Na área de vending o “foco está em substituir os copos descartáveis sem que o consumidor pague mais por isso. Podemos disponibilizar a tecnologia como um produto ou serviço, indexado ao número de utilizações”.
Nesta fase, não existe plano relativamente a rondas de investimento. “Ainda não sabemos se queremos seguir caminho típico de startup, com capital de risco, ou um caminho de negócio tradicional. De facto, procurar investimento externo permitirá acelerar o desenvolvimento de produto e o product market fit, e poderá ser uma opção num futuro próximo. Permanecemos, também, atentos a fundos públicos para esta área”, refere.
A Loopack nasceu após participar no Projeto Premier, da Startup Leiria, através do qual receberam mentoria e um “pequeno financiamento para desenvolver os primeiros protótipos e o primeiro piloto”. Foram ainda premiados com o 2.º lugar no programa “Inspire. Explore. Compete” do EIT Food (European Institute of Innovation and Technology). “Temos uma candidatura aberta ao Startup Voucher do PRR, e foi esse o principal motivo de termos aberto empresa ainda em 2023.”
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