Euribor já estão abaixo dos 3% em todos os prazos. Vão continuar a baixar?
O indexante do crédito à habitação deverá continuar a descer, a refletir as reduções das taxas de juro do BCE. A expectativa é que a autoridade monetária anuncie novos cortes até meados de 2025.
As três taxas que servem de indexante para o crédito à habitação já estão todas abaixo de 3%, depois de a Euribor a três meses ter baixado esta fasquia no final da semana passada. Esta correção ocorre depois de três anos marcados pelo agravamento das taxas de juro, com impacto nas prestações dos empréstimos da casa. E as descidas não devem ficar por aqui. A expectativa é que o BCE continue a descer juros, puxando para baixo as taxas do crédito.
A Euribor a três meses baixou, na última sexta-feira, para 2,998%, juntando-se assim à taxa a seis (2,748%) e a 12 meses (2,475%), que já negociavam abaixo de 3%.
Calculadas diariamente por um conjunto de bancos da Zona Euro com base nos empréstimos que fazem entre si, as Euribor refletem as perspetivas dos mercados para as taxas oficiais do BCE. Depois de um movimento de agravamento de taxas de juro nos últimos três anos, para travar a escalada da inflação, o banco central iniciou um ciclo de descidas de juros na reunião de junho.
Desde o anúncio do primeiro corte de juros, o banco central já desceu a taxa diretora por mais duas vezes, em setembro e outubro. E, de acordo com as estimativas dos economistas, as descidas estão longe de estar terminadas.
Com a inflação controlada — situou-se em 2% na Zona Euro em outubro — e a economia a mostrar sinais de dificuldade, o conselho de governadores do BCE tem dado sinais que neste momento está mais preocupado com o outlook económico do que com a evolução de preços, sobretudo depois dos resultados das eleições americanas, que vieram avultar as nuvens que pairam sobre a economia europeia.
“Outubro foi o mês de uma importante reviravolta no BCE”, comenta Carsten Brzeski, responsável global de macro do ING, adiantando que em vez de preocupações relacionadas com a inflação interna “ainda elevada e rígida, parece que as preocupações com o crescimento se tornaram o fator predominante que impulsiona a política monetária“.
A questão para a reunião de Dezembro já não é se o BCE reduzirá novamente as taxas, mas se o corte será de 25 pontos base, ou 50 pontos base.
O especialista considera que “com os resultados das eleições nos EUA, os riscos para as perspectivas de crescimento da zona euro mudaram claramente para o lado negativo, tanto a curto como a longo prazo, representando um desafio ainda mais complicado para o BCE.”
“Na verdade, o risco de um ambiente mais estagflacionário aumentou”, aponta Brzeski, antecipando que perante esse “cenário estagflacionário e a pressão adicional sobre o crescimento por parte das políticas dos EUA, a questão para a reunião de Dezembro já não é se o BCE reduzirá novamente as taxas, mas se o corte será de 25 pontos base, ou 50 pontos base.”
Ao contrário dos EUA, onde o presidente Jerome Powell adiantou que não tem pressa para descer juros, na Europa, vários membros do BCE, como o vice-presidente Luis de Guindos, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, ou o francês François Villeroy de Galhau, têm defendido que a autoridade monetária deve ser mais ágil a descer os juros na região.
Felix Feather, economista da Abrdn, concorda que o BCE “poderá reduzir as taxas de forma mais agressiva se o bloco entrar em recessão”.
“Os comentários desta semana de responsáveis do BCE mostram maiores preocupações em torno do outlook de crescimento, aumento da confiança num retorno antecipado da inflação para 2% e ênfase de que o ritmo dos cortes nas taxas dependerá dos dados”, refere um comentário do Goldman Sachs, após a reunião de 17 de outubro, onde o banco central anunciou o seu terceiro corte de 25 pontos base, trazendo a taxa dos depósitos para 3,25%.
Perante estes comentários, o Goldman Sachs ajustou as suas estimativas para a reunião de dezembro, passando a prever a possibilidade de um corte de 50 pontos antes do fim do ano. O gigante de Wall Street, que antes antecipava descidas sucessivas de 25 pontos base até os juros baixarem para 2%, no próximo mês de junho, vê agora como mais provável “um ciclo de cortes prolongado, bem como de cortes mais rápidos e profundos“.
A economia europeia continua a revelar dificuldades em retomar uma trajetória de crescimento. Com o poder de compra dos consumidores a recuperar, as taxas de juros a descer e o investimento a acelerar impulsionado pela bazuca europeia, as últimas estimativas da Comissão Europeia apontam para um “crescimento modesto” em 2025. Mas, se no próximo ano, todas as economias vão crescer, Bruxelas estima que este ano cinco economias da zona euro vão terminar o ano no vermelho, incluindo a Alemanha, o “motor” da Europa.
As previsões de Inverno da Comissão Europeia, divulgadas esta sexta-feira, apontam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 de 0,9% na União Europeia e de 0,8% na zona euro. Mas a atividade económica deverá acelerar para 1,5%, nos 27 Estados, e para 1,3% na área da moeda única no próximo ano.
Com perspetivas de crescimento modestas e a inflação longe dos níveis que obrigaram o BCE a acelerar a subida dos juros para travar a escalada dos preços, a entidade deverá continuar a descer taxas. Um movimento que vai repercutir-se nas Euribor, continuando, assim, a aliviar os encargos das famílias com as prestações da casa.
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