Da aposta falhada no Canadá, ao regresso a casa. Saiba mais sobre a centenária sueca que vai mandar na maior mina em Portugal

Com a aquisição da mina de Neves-Corvo em Portugal, a empresa sueca, que até agora estava quase exclusivamente concentrada na Escandinávia, vai duplicar a produção de zinco.

Fundada em 1924 na região, após a descoberta de um depósito de ouro em Fågelmyran, no Norte da Suécia, a Boliden prepara-se para assumir o comando da maior mina portuguesa, depois de ter acordado com a Lundin Mining a compra da mina de Neves-Corvo em Portugal e outra mina na Suécia por 1,3 mil milhões de dólares (cerca de 1,23 mil milhões de euros), acrescidos de 150 milhões de dólares variáveis. Um negócio que vai permitir à empresa sueca duplicar a produção de zinco e impulsionar a produção além do Norte da Europa.

Com 6.000 colaboradores, um volume de negócios anual em torno de 85 mil milhões de coroas suecas (7,4 mil milhões de euros) e uma capitalização bolsista próxima de oito mil milhões de euros, a Boliden conta com cinco minas – quatro na Escandinávia e uma no Reino Unido – e unidades de fundição no Norte da Europa, onde extrai e produz vários metais.

Fonte: Site da empresa

Focada no desenvolvimento de competências e tecnologia de ponta para se tornar “o fornecedor de metal mais respeitado e amigo do ambiente do mundo”, conforme advoga no seu site, a Boliden produz cobre, zinco, níquel e chumbo, “todos necessários para a transição climática e que podem ser encontrados em diversas áreas críticas de inovação, como a produção de carros elétricos ou baterias de automóveis“, explica.

Apesar do grupo ter hoje a sua atividade concentrada nos países nórdicos, tendo ainda escritórios no Reino Unido e na Alemanha, a empresa nascida na cidade que lhe dá o nome ainda tentou o salto para o Canadá, para onde chegou a transferir a sua sede, numa tentativa de se tornar um grande grupo mineiro a nível global. Uma estratégia que se revelou falhada e que terminou com vários planos de reestruturação, o desinvestimento no Canadá e o regresso ao país de origem.

Foi na década de 90, após a entrada no capital da multinacional de engenharia Trelleborg, que os novos acionistas decidiram transferir a sede da empresa para Toronto, em 1997. Foi o início de um movimento que levou à maior crise da história da empresa. A Boliden entrava no novo milénio em plena crise, provocada pela mudança para Toronto, pelos baixos preços dos metais e uma desconfiança geral em torno da indústria mineira.

A recuperação deste período negro começaria com o regresso da sede para Estocolmo e as ações da empresa são listadas na bolsa sueca, com a empresa a iniciar assim um novo ciclo, liderado pelo então administrador Carl Bennet.

Nos anos seguintes, a centenária, que se prepara para entrar em Portugal e cujo capital é dominado por gestoras de ativos e investidores suecos, conclui um grande negócio com a Outokumpu da Finlândia, acordando a aquisição das fábricas de fundição de Harjavalta, Kokkola e Odda e a mina de zinco Tara. Nos anos seguintes, a empresa completa outras aquisições que lhe permitiriam aumentar produção e iniciar uma estratégia de crescimento.

Maior produção in house e fora

A aquisição da mina de Neves-Corvo e da outra mina na Suécia vai ajudar a empresa sueca a reforçar a produção. De acordo com as estimativas da própria empresa, a Boliden estima um aumento significativo na produção de metais concentrados na área de negócios de minas, em 95% para o zinco e 43% para o cobre, com base nos números de produção de 2023.

De acordo com a Boliden, as minas de Neves-Corvo e de Zinkgruvan irão contribuir com cerca de 300 milhões a 350 milhões de dólares de resultados operacionais (EBITDA) por ano nos próximos cinco anos.

A mina portuguesa tem cinco grandes jazigos em produção: Neves, Corvo, Graça, Zambujal e Lombador. Em 2023, a faturação da Somincor apresentou uma queda face ao ano anterior, para 393 milhões de euros, um resultado operacional (EBITDA) de 83 milhões e lucros, em queda, de cerca de 1,5 milhões de euros (13 milhões em 2022).

De acordo com informação oficial da empresa, o processamento do minério em Neves-Corvo é feito através de duas lavarias. A Lavaria do Cobre processa aproximadamente por ano 2,6 milhões de toneladas de minério de cobre. A Lavaria do Zinco, que processa minério de zinco ou chumbo, tem capacidade de tratar anualmente cerca de 2,5 milhões de toneladas por ano.

Estes investimentos surgem paralelos à expansão de capacidade de produção nas fábricas do grupo. Segundo a informação divulgada no site, a companhia está num processo de aumentar a capacidade anual na sua fundição de Odda na Noruega para 350 mil toneladas de zinco, um reforço de 75%. Por outro lado, a Boliden deverá concluir as intervenções na mina de Tara, a maior mina de zinco da Europa, que tem estado temporariamente suspensa devido aos elevados custos.

“Estou satisfeito com o início do segundo semestre de 2024. Muitas de nossas unidades estão a produzir bem e demos passos em frente em vários projetos de investimento”, numa altura em que os preços dos metais valorizaram, adianta Mikael Staffas, CEO da empresa, numa mensagem nos resultados do terceiro trimestre do ano.

Após um 2022 muito forte, os resultados baixaram em 2023. No entanto, 2024 está a ser um ano de recuperação, com as receitas a subirem de 57,8 para 63,4 mil milhões de coroas suecas, no acumulado dos nove meses.

“Os volumes melhoraram em ambas as áreas de negócio devido ao aumento da produção de metais concentrados em todas as minas produtoras, bem como forte produção nas fundições finlandesas”, escreve a empresa no seu relatório de resultados dos primeiros nove meses do ano.

A empresa refere que os “preços e prazos também melhoraram. Preços mais elevados do cobre e do zinco, juntamente com os preços do ouro e da prata tiveram um impacto positivo”.

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