Bruxelas dá selo de qualidade a projeto cancelado da Galp, mas rejeita financiá-lo com 129 milhões
Comissão Europeia revela que os promotores da refinaria de lítio requisitaram, na respetiva candidatura, um financiamento de 129 milhões de euros, mas não lhes foram atribuídos quaisquer apoios.
A Comissão Europeia atribuiu um selo de “alta qualidade” ao projeto da Galp e Northvolt para a construção de uma refinaria de lítio em Setúbal, apesar de este ter sido cancelado. Na candidatura a este selo, os promotores pediram um financiamento de 129 milhões de euros, mas não lhes foi atribuída qualquer verba.
A Plataforma Europeia de Tecnologias Estratégicas (STEP, na sigla em inglês) foi lançada a 1 de março deste ano, para reforçar a competitividade industrial da União Europeia ao mesmo tempo que se reduzem dependências externas, no que toca a tecnologias consideradas críticas para o Velho Continente, como componentes para a produção de energia eólica offshore, tecnologia de captura de carbono ou o fabrico de módulos fotovoltaicos.
O selo STEP identifica os projetos de “alta qualidade” que serão apoiados através desta plataforma para terem acesso a financiamento comunitário. A 9 de dezembro, a Comissão Europeia publicou uma lista com os primeiros projetos aos quais atribuiu este selo. Um deles foi o Aurora Lith, projeto que resulta de uma parceria da Galp e da Northvolt para a construção de uma refinaria de lítio, em Setúbal. Contudo, a Galp já havia anunciado o cancelamento deste projeto a 26 de novembro.
Na informação disponibilizada sobre os projetos selecionados, a Comissão Europeia indica que os promotores do projeto requisitaram, na respetiva candidatura, um financiamento de 129 milhões de euros. Contactada pelo ECO/Capital Verde, fonte oficial da Comissão Europeia indica que não foram atribuídos quaisquer fundos ao Aurora Lith “devido a falta de orçamento no âmbito da call do Fundo de Inovação 2023”.
Na apresentação da plataforma STEP, a Comissão Europeia estima que esta sirva para impulsionar até 50 mil milhões de euros em investimento, através de instrumentos europeus combinados com fundos públicos e privados. A plataforma vai beber de 11 diferentes programas de financiamento, entre eles o Horizon Europe, o Fundo de Inovação e InvestEU, assim como fundos do âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).
Tal como o ECO avançou na altura, a Galp esteve à procura de novas fontes de financiamento depois de ter perdido o direito a 11 milhões de euros que lhe seriam assegurados através do PRR, uma vez que o cronograma do projeto não se coadunava com os prazos exigidos. A petrolífera virou-se, no início de outubro, para o novo sistema de incentivos a investimentos em setores estratégicos, mas depois de divulgado um pedido de insolvência por parte do parceiro Northvolt, em meados de novembro, o projeto acabou mesmo por ter um ponto final. A refinaria de lítio estava orçada em 1,3 mil milhões de euros e a entrada em operação marcada para 2028, antes de anunciado o cancelamento.
De acordo com a Comissão Europeia, o selo STEP é válido para a duração do projeto, a não ser que este seja realocado para territórios fora da União Europeia ou caso este não seja implementado dentro de cinco anos a contar desde a data em que o selo foi atribuído.
Questionada sobre a atribuição do selo ter sido anunciada já após o cancelamento do projeto, a Comissão justifica dizendo que a decisão teve como base única a informação enviada pelos candidatos no momento da submissão das candidaturas. “A proposta foi avaliada pela Comissão com o apoio de especialistas externos e foi considerado que cumpria com os requisitos mínimos e a qualidade necessária para receber o selo STEP”, explica fonte oficial do executivo comunitário. A mesma resposta, de que a proposta cumpre com os requisitos, é dada face à pergunta de se o cancelamento do projeto terá sido apenas uma opção de negócio, embora o projeto apresentasse fundamentais de qualidade.
O abstrato da proposta entregue a Bruxelas apresenta o projeto como “a primeira refinaria de lítio do seu tipo na Europa e a mais inovadora, eficiente, sustentável, circular e escalável”. Como evidências do caráter sustentável do projeto, são citadas na proposta a eletrificação dos processos, reduzindo a necessidade de gás natural, a reutilização de calor entre processos, o uso de energia 100% renovável, fornecida pela Galp, e uma redução do consumo de água de 37%. O projeto também prometia valorizar 83% dos resíduos e usar água reutilizada para todas as necessidades. As emissões deveriam ser 85% abaixo das de outras unidades que operam atualmente.
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