Acionistas da Galp mantêm confiança na petrolífera apesar de saída do CEO

A demissão de Filipe Silva surpreendeu o mercado, mas não afetou a confiança dos acionistas. As ações da Galp seguem em linha com os seus pares e alguns investidores reforçaram as suas posições.

A demissão do CEO da Galp Energia GALP 1,49% , Filipe Silva, anunciada esta terça-feira, surpreendeu o mercado e os pequenos investidores, que até então manifestavam preocupação com uma possível saída precipitada da liderança.

A decisão, comunicada como sendo por “razões familiares”, surge na sequência de uma investigação interna sobre um alegado relacionamento próximo e pessoal com uma diretora de topo da companhia.

Apesar da notícia inesperada, o mercado reagiu com relativa calma. Na quarta-feira, as ações chegaram a subir 0,4% e a cair 1,7%, fechado com uma perda de 0,4%, em sintonia com a queda de 0,5% do PSI, mas longe da desvalorização de 1,4% do Stoxx Europe 600 Oil & Gas, o índice que agrega as 21 maiores empresas do setor e do qual a Galp faz parte.

A mesma tranquilidade é partilhada por Pedro Barata, gestor do GNB Portugal Ações, que em novembro tinha na Galp a segunda maior posição do fundo de ações nacionais, com um peso de 9,55% da carteira. “A situação foi inesperada, mas acreditamos que o novo CEO irá seguir a estratégia até agora definida”, refere Pedro Barata, sublinhando ainda que se tal se confirmar não vê razões para alterar a confiança no título.

Com uma atitude mais proativa esteve Carlos Pinto, gestor do Optimize Portugal Golden Opportunities, que apesar da petrolífera nacional ser a terceira maior posição do fundo em novembro, com um peso de 7,1% do portefólio, reforçou recentemente a aposta na empresa. “Aproveitámos para aumentar a nossa exposição à Galp para diminuir a subponderação ao índice”, destaca o gestor, que antecipava uma saída de Filipe Silva “pró-ativa” logo no dia seguinte à sua audição no Comité de Ética.

Embora considerando que a demissão do CEO não seja uma boa notícia, Carlos Pinto refere que “o impacto não deve ser materialmente significativo, dado que o plano estratégico está delineado pelo principal acionista, a Amorim Energia.”

A perspetiva dos gestores de fundos parece alinhar-se com a visão de longo prazo que os pequenos investidores já manifestavam antes da demissão. “O mercado em geral, tendo em conta a abertura da cotação em ligeira alta (apesar de atualmente em queda ligeira), ignorou absolutamente o efeito da demissão do CEO da Galp”, refere Octávio Viana, presidente da ATM – Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais, reforçando a ideia de que “esse sentimento é o mesmo de vários dos nossos associados, quer acionistas quer obrigacionistas.”

Evolução das ações da Galp

Próxima liderança deverá ser uma escolha interna

Antes da demissão, os pequenos investidores expressavam mais preocupação com uma possível saída do CEO do que com o alegado conflito de interesses associado ao relacionamento do gestor da empresa com uma diretora de topo, refere Ocávio Viana ao ECO.

O caso do alegado conflito de interesses, além de materialmente irrelevante, não constituiu preocupação para os acionistas da Galp, cuja cotação não sofreu grande efeito, o que se deduz acontecer por acreditarem que a sociedade tem mecanismos de controlo interno que permitam mitigar ou pelo menos reduzir os riscos derivados de qualquer conflito ao nível da imaterialidade, mesmo quando considerando o potencial agregado de eventos”, destaca Octávio Viana.

Esta confiança nos mecanismos internos da Galp para gerir riscos e conflitos de interesse parece ter sido um fator crucial na reação relativamente serena do mercado. Os investidores acreditam que a empresa possui sistemas robustos que não dependem exclusivamente da responsabilidade das partes envolvidas.

No entanto, o presidente da ATM alerta que, uma “demissão inesperada de um CEO merece sempre um acompanhamento do mercado, por forma a verificar se tal é suscetível de afetar a gestão operacional da empresa, pelo menos no curto prazo.” Esta cautela reflete a necessidade de monitorizar possíveis impactos operacionais e organizacionais decorrentes da mudança de liderança.

A Galp, que negoceia atualmente com uma capitalização bolsista de 11,3 mil milhões de euros em bolsa e registou lucros recordes de 890 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2024, enfrenta agora o desafio de manter a estabilidade e continuidade da sua gestão.

A empresa comunicou que irá divulgar o nome do novo presidente executivo “nos próximos dias”, o que pode ajudar a acalmar quaisquer preocupações remanescentes dos investidores.

Carlos Pinto refere que a Galp, “tendo já sido assumido que a designação de o novo CEO está por dias, e que não implica qualquer alteração ao plano estratégico, tudo indica que será uma nomeação interna.” Esta perspetiva de continuidade parece ser um fator tranquilizador para os investidores.

No entanto, Carlos Rodrigues, presidente da Maxyield – Clube de Pequenos Acionistas, refere que “os pequenos acionistas e o mercado de capitais valorizam a estabilidade, pelo que entendem que a Galp não deve continuar a ser um ‘cemitério’ de CEO, como se verifica pela renúncia ao cargo pelos últimos três presidentes da comissão executiva, no decurso dos últimos quatro anos e antes do termo dos seus mandatos.”

Além disso, o presidente da Maxyield sublinha a necessidade de a avaliação anual da administração e fiscalização da petrolífera nacional, não dever “continuar a ser um ritual praticado pelo acionista maioritário nas Assembleias Gerais anuais, sem explicitar de forma quantitativa e qualitativa os méritos da respetiva atividade”.

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