Grupo IAG gostaria de “ter um caminho para a propriedade total da TAP”

Dono da British Airways e Iberia é detentor de 100% dos direitos económicos das companhias do grupo, modelo que gostaria de replicar na TAP. Mas admite ficar com posição minoritária.

O grupo IAG, que detém a British Airways, Iberia ou Aer Lingus, admite ficar com uma participação minoritária na reprivatização da TAP, mas expressou ao Governo a preferência pela aquisição da maioria ou mesmo a totalidade dos direitos económicos. Uma vontade que pode esbarrar na oposição política.

“Dissemos ao Governo que pensamos que a forma como podemos criar mais valor é se pudermos ter uma cooperação comercial total. Gostávamos muito de ter um caminho para a propriedade total, se o Governo o quiser fazer, protegendo os interesses de Portugal”, afirmou Jonathan Sullivan, administrador executivo responsável pelo desenvolvimento de negócio do grupo IAG, num encontro com jornalistas portugueses em Dublin.

O responsável referiu que uma posição minoritária já permitiria uma cooperação comercial “eficaz”, mas criaria dificuldades num reforço do investimento na companhia aérea. “O desafio é quando existe uma oportunidade para crescer e temos de aportar capital. Aí preferíamos ser rápidos nesse processo e ser os únicos a pôr o capital”, explica Jonathan Sullivan.

“É por isso que com o tempo gostaríamos de ter um caminho para a maioria, porque permite aos negócios crescerem melhor sem necessitarem se capital de outros acionistas”, reforçou.

Jonathan Sullivan, administrador executivo responsável pelo desenvolvimento de negócio do grupo IAG.

O Governo pretende relançar a reprivatização da companhia aérea portuguesa durante o primeiro trimestre, com a aprovação das condições para a operação. Ainda durante o Executivo de António Costa foi aprovado um decreto-lei que previa a venda de mais de 51% do capital, que foi vetado pelo Presidente da República. Agora, ainda que Luís Montenegro tenha manifestado preferência pela venda da maior parte do capital, a maioria do Parlamento poderá inviabilizar essa pretensão. Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, tem afirmado que só admite a venda de uma participação minoritária e bloquearia outro cenário.

Lynne Embleton, presidente executiva da Aer Lingus, também defendeu o modelo maioritário. “Comercialmente, é possível fazer muito em termos de rede e vendas mesmo sem uma maioria, mas onde a Aer Lingus beneficiou imenso nos últimos anos foi na capacidade de fazer parte dos contratos com os fornecedores, em que o IAG inclui todas as companhias e todas beneficiam. Isso geralmente envolve uma maioria porque está-se a assinar contratos em conjunto”.

A responsável da companhia irlandesa deu como exemplo a inteligência artificial (IA), que exige investimentos muito significativos: “Estamos a investir em IA, mas não conseguiríamos resolver todos os problemas se estivéssemos a investir apenas o nosso dinheiro. Enquanto grupo podemos fazê-lo juntos e ver o que os outros fizeram e em que podem ajudar”. “Para melhorar a rentabilidade, há muitos benefícios em fazer parte deste modelo”, rematou.

Empresa local fica com maioria do capital e IAG com 100% dos direitos económicos

O IAG tem sede em Londres, está cotado nas bolsas de Londres e Madrid, e tem como maior acionista a Qatar Airways, com 25%. É dono de 100% dos direitos económicos das companhias aéreas do grupo, ou seja, dos resultados por elas gerados, mas não da totalidade dos direitos de voto.

Devido à obrigação de as transportadoras aéreas da União Europeia terem de ser detidas maioritariamente por acionistas do bloco, após o Brexit foram criadas estruturas para cumprir a regra. É o que acontece com a Iberia, cuja maioria dos direitos de voto é de acionistas espanhóis, e da Air Lingus, onde esse papel foi entregue a um trust irlandês. Os direitos económicos pertencem na íntegra ao IAG.

Não temos o controlo total. Temos os direitos económicos. Seria algo similar. Antecipamos que o governo português, tal como o irlandês, tentará proteger os interesses de Portugal e encorajamos isso.

Jonathan Sullivan

Administrador executivo do Grupo IAG

Um modelo que, segundo Jonathan Sullivan, seria replicado em Portugal. “Não temos o controlo total. Temos os direitos económicos. Seria algo similar. Antecipamos que o governo português, tal como o irlandês, tentará proteger os interesses de Portugal e encorajamos isso”, afirmou o administrador executivo responsável pelo desenvolvimento de negócio do grupo IAG. “O governo pode envolver-se nas questões mais estratégicas, como o irlandês e as partes interessadas representadas na Iberia”, acrescentou.

No caso irlandês, o Estado manteve ações de categoria B na Aer Lingus, que lhe permitem, por exemplo, impedir a cedência de slots (faixas horárias de aterragem) no saturado aeroporto de Heathrow.

IAG solicitará sempre aprovação dos reguladores

O membro da comissão executiva do IAG esclareceu ainda que, quer seja alienada uma posição maioritária ou minoritária, irá sempre submeter o negócio à aprovação da Comissão Europeia e dos reguladores locais, de forma a garantir que pode existir uma cooperação comercial.

“Seja a TAP integrada no grupo ou fiquemos com uma participação minoritária, iremos solicitar a aprovação regulatória, porque é a cooperação que permite que estes negócios se tornem maiores e melhores com o tempo”, afirmou Jonathan Sullivan, acrescentando que uma transação puramente financeira não interessa ao grupo.

“Se cooperarmos comercialmente podemos planear a rede em conjunto, podemos definir preços em conjunto e podemos partilhar o inventário” de lugares disponíveis para os passageiros, argumentou o administrador executivo. Para existir esta cooperação, mesmo com uma participação minoritária no capital da TAP, a operação tem sempre de ser examinada por Bruxelas.

Jonathan Sullivan elogia a gestão da TAP – “fizeram um bom trabalho e trouxeram o negócio de volta aos lucros depois do que foi a maior crise da aviação” – e afirma que o grupo IAG não vê urgência na reprivatização. “Não há uma pressão de tempo para fazer este negócio. O que é bom porque o Governo pode certificar-se que o interesse de Portugal é respeitado”.

O grupo IAG é um dos interessados na reprivatização da TAP, a par da alemã Lufthansa e da franco-neerlandesa Air France – KLM. Além da British Airways, Iberia e Air Lingus, é ainda dono da Vueling, Level, e IAG Cargo.

*O jornalista viajou a convite do Grupo IAG

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