IAG garante que irá desenvolver ‘hub’ da TAP em Lisboa

Grupo dono da British Airways e Iberia garante que caso vença a reprivatização da TAP irá desenvolver a operação no aeroporto de Lisboa. Aponta Dublin como exemplo.

Experiente na integração de outras companhias aéreas e a gozar de boa saúde financeira, o principal calcanhar de Aquiles do grupo IAG na corrida à reprivatização da TAP é ser dono da Iberia, cujo hub em Madrid é visto como uma ameaça ao aeroporto de Lisboa. O grupo britânico garante, no entanto, que o seu objetivo é desenvolver o hub na capital portuguesa e defende mesmo uma cooperação entre as duas companhias.

O hub de Lisboa é um ativo central para a TAP. É do nosso interesse desenvolver o hub. É a única coisa que faz sentido para o negócio“, afirma Jonathan Sullivan, administrador executivo responsável pelo desenvolvimento de negócio do grupo IAG, que é também dono da British Airways e da irlandesa Aer Lingus, durante um encontro com jornalistas portugueses em Dublin.

Jonathan Sullivan, administrador executivo responsável pelo desenvolvimento de negócio do grupo IA.

O responsável vai mais longe e defende mesmo uma cooperação entre as duas companhias caso venham a ficar debaixo do mesmo grupo. “O que a TAP deveria querer destes dois hubs, que estão próximos, é como é que podem complementar-se e oferecer mais caminhos para os clientes“, afirma. “Isso ajuda a aumentar a escolha para a TAP, que assim pode crescer mais e melhor, porque os clientes saem beneficiados. Acreditamos que é uma vantagem ter estes dois hubs próximos”, justifica.

O grupo já enfrentou a oposição da opinião pública noutras ocasiões. Quando a British Airways e a Iberia se fundiram originando o International Airlines Group, em janeiro de 2011, houve resistência em Espanha. O mesmo aconteceu quando avançou para a aquisição da irlandesa Aer Lingus, em 2014.

“Ter a companhia de bandeira britânica a comprar a companhia de bandeira irlandesa era um assunto político delicado”, recorda Joe Gill, diretor de corretagem de empresas da Goodbody Capital. Foi necessário negociar um pacote que respeitasse a herança, a história e a marca da Aer Lingus, conta.

Fergal O’Brien, diretor executivo do Ibec, o maior grupo de lobbying e representação de empresas da Irlanda, assinala que a comunidade de negócios também levantou questões sobre a operação, mas que “os receios não se materializaram”.

O acordo firmado entre o grupo IAG e o Governo irlandês obrigou à manutenção da marca, da sede da companhia na Irlanda e dos voos da Aer Lingus entre Dublin e Londres. O Estado manteve ações de classe B, que lhe dão o direito de impedir a alienação de slots (faixas horárias de aterragem) no aeroporto de Heathrow.

O grupo britânico apresentou números para mostrar que desde que a companhia irlandesa foi adquirida o aeroporto de Dublin desenvolveu-se, com o lançamento de novas rotas sobretudo no Atlântico Norte. Em 2013, voava para apenas quatro cidades nos Estados Unidos e a partir deste ano vai voar para 20 destinos. O número de passageiros aumentou de 9,6 para 12,3 milhões em 2023, ficando, ainda assim, abaixo dos perto de 16 milhões transportados pela TAP.

O crescimento da Aer Lingus beneficiou também da sua posição geográfica, da proximidade cultural com os EUA, do forte investimento das multinacionais americanas na Irlanda que aumentou a interdependência económica entre os dois países nos últimos dez anos, e o facto de ser o único país da União Europeia com um sistema de pré-autorização nos aeroportos de Dublin e Shannon que permite desembarcar nos EUA sem passar pelo controlo de fronteiras. O grupo IAG fez também uma aposta estratégica nos Airbus A321LR e A321XLR, que permitem atravessar o Atlântico com custos mais competitivos — uma estratégia que foi seguida também pela TAP.

Outros dos argumentos apontados pelo IAG é que os grupos europeus de aviação têm todos hubs próximos uns dos outros, com distâncias até mais curtas do que os 514 km entre Lisboa e Madrid. Paris fica a 420 km de Amesterdão no caso da Air France – KLM; e Frankfurt fica a 306 kms de Bruxelas ou 286 kms de Zurique, no caso do grupo Lufthansa. Londres fica a 450 km de Dublin.

Portugal não é a Irlanda, Lisboa não é Dublin e Madrid não é Londres, pelo que não é garantido que as dinâmicas sejam as mesmas. Uma das diferenças é que enquanto o Humberto Delgado é um aeroporto saturado, Barajas tem ampla margem para crescer. Como acontece, de resto, com o aeroporto da capital irlandesa.

O Governo tem apresentado a manutenção do hub, da marca, da sede em Portugal e das principais rotas, nomeadamente de ligação à diáspora, como condições para a reprivatização.

O grupo IAG é um dos interessados na reprivatização da TAP, a par da alemã Lufthansa e da franco-neerlandesa Air France – KLM. Além da British Airways, Iberia e Air Lingus, é ainda dono da Vueling, Level, e IAG Cargo.

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