Portugal vai reforçar investimento em defesa “sem colocar em causa” contas públicas

Ao lado do secretário-geral da NATO, Luís Montenegro pediu à União Europeia para montar “mecanismos que envolvam capacidade de investimento e alavancagem dos investimentos em defesa".

Luís Montenegro confirmou esta segunda-feira que Portugal vai antecipar em um ano, para 2029, o objetivo de gastar 2% do PIB em defesa, o que “significa um esforço financeiro grande” para o país. No entanto, advertiu, o reforço desse investimento será feito “sem colocar minimamente em causa o equilíbrio financeiro e as contas públicas saudáveis”.

Ao lado do secretário-geral da NATO, Mark Rutte, com quem almoçou na residência oficial, o primeiro-ministro garantiu que “em Portugal há um forte compromisso do Governo e também das demais forças políticas, em particular do maior partido da oposição [PS], para salvaguardar este trajeto” de aumento dos gastos em defesa, que “infelizmente nem sempre tem sido atingido nos últimos anos”.

Por outro lado, o chefe do Executivo salientou que este aumento do investimento na área militar é também “uma forma de tornar mais dinâmica a economia” nacional, ainda que isso “[dependa] do que formos capazes de fazer internamente”. A este propósito, lembrou a task force que junta vários Ministérios, incluindo o da Economia, que “está a finalizar o seu trabalho para tornar mais atrativo e exequível o reforço da capacidade produtiva e industrial” do país.

“Se não desenvolvermos todas as nossas capacidades, desde logo produzindo material e tirando partido do nosso conhecimento para fabricar melhores equipamentos, resta a alternativa de comprar a quem os produz. E cometemos dois erros: ficarmos nas mãos de entidades externas e mais dependentes e sempre sujeitos à boa vontade desses parceiros; e não aproveitamos para tornar a nossa economia mais dinâmica, gerando mais valor e empregos”, resumiu.

Colocando a mira na União Europeia e recordando que 23 dos 27 Estados-membros integram também a NATO, Montenegro avisou que “não vale a pena cada um estar a olhar apenas para si próprio”. “Isto deve passar por mecanismos que envolvam capacidade de investimento e alavancagem dos investimentos em defesa, que vão ter de ser agora acelerados. E também por uma concertação em relação à estratégia e localização dos investimentos”, pois seria “um erro” estar a duplicá-los, justificou.

“Isto não é uma resposta à nova administração norte-americana. Temos todo o interesse em estreitar laços com os EUA. Mas a Europa terá sempre de o fazer, independentemente da política interna americana. Estamos a falar de uma maior autonomia para a Europa, da salvaguarda da economia europeia e do seu estado social”, referiu ainda o primeiro-ministro, em conferência de imprensa.

Luís Montenegro aproveitou também a ocasião para assegurar que Portugal está comprometido com a “ajuda incondicional” à Ucrânia, “durante o tempo que for necessário”. Contabilizou que esse apoio ascendeu a 227 milhões de euros no ano passado, “mais do dobro do objetivo no início do ano”, o que incluiu apoio financeiro direto, mas também material militar e formação das forças armadas ucranianas “em áreas específicas”.

“Navios e bombardeiros russos ameaçam a costa portuguesa”

Já o secretário-geral da NATO começou por agradecer a Luís Montenegro o “contributo significativo” de Portugal para a “inovação” no domínio marítimo, em particular através do Centro de Experimentação Operacional da Marinha (CEOM).

Contudo, voltou a reforçar o apelo ao aumento dos gastos em defesa. Embora reconheça o esforço de Portugal, Mark Rutte salientou que “o objetivo de 2% do PIB definido há uma década não chegará para os desafios do amanhã”.

Para justificar o apelo a um maior aumento do investimento de Portugal em Defesa, o líder da Aliança Atlântica alertou para “os navios e bombardeiros de longo alcance russos [que] ameaçam a costa portuguesa”. “As ameaças da Rússia podem parecer distantes, mas não estão (…). As infraestruturas submarinas estão em perigo”, dramatizou Mark Rutte.

(Notícia atualizada às 14h40 com declarações de Mark Rutte)

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