Musk ‘castigado’ na Europa? Vendas da Tesla afundam após aliança com Trump
Só na Alemanha e em França, quedas atingiram os 59% e 63%, respetivamente, face a janeiro do ano passado. Analistas admitem reação negativa dos consumidores a comentários polémicos de Elon Musk.
O ano não arrancou bem para a Tesla na Europa. A empresa norte-americana viu as vendas dos seus veículos caírem por todo o continente em janeiro, depois de já ter registado uma quebra de cerca de 13% no ano passado.
Só na Alemanha, o único país europeu que acolhe uma fábrica da marca, o tombo foi de 59% face ao mesmo mês de 2024, o que poderá dever-se à desatualização dos seus modelos. Mas também há especialistas que atribuem este declínio a uma reação negativa dos consumidores ao recente envolvimento do fundador e dono da Tesla, Elon Musk, na campanha para as eleições legislativas de 23 de fevereiro, ao ter declarado apoio ao partido de extrema-direita AfD.
De acordo com a Autoridade Federal Alemã de Transportes Motorizados, o maior fabricante mundial de veículos elétricos registou apenas 1.277 automóveis novos na Alemanha no mês de janeiro. Tendo em conta que o total de vendas de veículos elétricos na maior economia da Zona Euro cresceu mais de 50% no arranque do ano em comparação com o ano anterior, a quota de mercado da Tesla no país baixou de 14% para 4%.
A quebra das vendas da fabricante norte-americana foi ainda pior na segunda maior economia da Europa. Os franceses compraram 63% menos novos Tesla no início de 2025 do que há um ano, sendo que as vendas totais de automóveis em França caíram apenas 6% e as de veículos elétricos, em particular, recuaram apenas 0,5%.
No Reino Unido, as vendas da marca norte-americana encolheram de forma menos acentuada: apenas 12%. Contudo, o total de vendas de veículos elétricos no mercado automóvel britânico cresceu 35% em janeiro em relação ao mesmo mês de 2024. Além disso, nenhum modelo da Tesla aparece na lista dos dez carros mais vendidos no país no arranque deste ano, o que acontecia regularmente no passado.
As vendas da Tesla também registaram quedas significativas na Suécia (-44%), onde uma greve de mecânicos contra a fabricante norte-americana vai para o seu segundo ano, assim como na Noruega (-38%) e nos Países Baixos (-42%).
Em Portugal, pela primeira vez, o número de unidades vendidas da chinesa BYD (de Build Your Dreams) em janeiro foi maior do que o da marca norte-americana: 392 carros comercializados, contra 389, respetivamente, sendo que no caso da BYD também estão incluídos modelos híbridos, segundo os dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP).
Controvérsias de Musk estão a afastar clientes
Segundo o analista automóvel Matthias Schmidt, citado pelo Financial Times, um dos fatores subjacentes ao decréscimo das vendas da Tesla na Alemanha pode ser o facto de os consumidores estarem à espera da atualização do Model Y, que deverá ser lançada no final de março.
Porém, há outros fatores que podem estar em jogo, designadamente uma reação negativa de alguns consumidores às recentes declarações polémicas de Elon Musk. Quando faltavam poucos dias para o 80.º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz, o multimilionário declarou o seu apoio à AfD durante um comício eleitoral do partido. Antes, na cerimónia de tomada de posse de Donald Trump, já tinha feito um gesto amplamente interpretado como uma saudação nazi.
Musk tem sido também acusado de propagar desinformação e amplificar as contas de extrema-direita com o algoritmo da rede social X, mas rejeitou as críticas, dizendo que são uma afronta à liberdade de expressão.
Também no Reino Unido o dono da Tesla tem mostrado apoio a movimentos políticos alternativos, como o partido populista de direita Reform UK, numa tentativa de afastar Keir Starmer, o atual primeiro-ministro, do Partido Trabalhista. Musk tem-se servido da sua plataforma no X para criticar o Governo britânico, tendo mesmo chegado a pedir a prisão do líder do Executivo.
Um inquérito realizado no final de janeiro pelo Electrifying.com revelou que 59% dos britânicos que têm veículos elétricos e daqueles que tencionam comprar um carro desse tipo afirmaram que a influência de Musk os dissuadiria de adquirir um Tesla.
Citado pela Reuters, o CEO do Electrifying.com, Ginny Buckley, afirmou que “a influência de Musk na marca está a tornar-se cada vez mais polarizadora, levando muitos compradores a procurar noutro lado”, e, “com mais de 130 modelos de veículos elétricos convencionais atualmente disponíveis no Reino Unido — em comparação com apenas 25 em 2020 –, a concorrência nunca foi tão feroz e a Tesla já está a sentir a pressão“.
Ainda assim, o presidente executivo da organização New AutoMotive, Ben Nelmes, considera que a queda das vendas da Tesla decorre menos das atitudes de Musk e mais do fracasso em lançar um novo modelo convencional desde o Model Y em 2020, enquanto as marcas concorrentes, incluindo da China, têm produtos mais frescos no mercado. “Não é devido às opiniões de Musk ou dos automobilistas britânicos sobre Musk. Eles [Tesla] pararam de inovar após o Model Y“, disse.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Musk ‘castigado’ na Europa? Vendas da Tesla afundam após aliança com Trump
{{ noCommentsLabel }}