Colisão de navios no mar do Norte pode custar até 300 milhões a seguradoras

A colisão entre um navio português e um petroleiro ativará múltiplas apólices de seguro, incluindo casco, carga e responsabilidade civil, aumentando as preocupações sobre a rentabilidade deste ramo.

As seguradoras deverão pagar entre 100 a 300 milhões de dólares (cerca de 92 a 275 milhões de euros) pelos danos provocados pela colisão entre o navio de carga de bandeira portuguesa e o petroleiro norte-americano na costa de Inglaterra no mar do Norte, prevê a Morningstar DBRS.

Apesar destas perdas serem financeiramente viáveis para o setor dos seguros marítimos a nível mundial, o incidente aumenta as preocupações da agência quanto à rentabilidade deste ramo de atividade. A consideração surge devido aos sinistros do ano passado que levaram a avultadas perdas, como o colapso da ponte de Baltimore e os ataques no Mar Vermelho.

Navio de bandeira portgueusa, MV Solong, após tervembatido no petroleiro americano, Stena Immaculate, na costa de InglaterraDAN KITWOOD, Getty Images Pool

“Embora o nível de perdas estimadas resultantes deste evento seja viável para o setor global de seguros marítimos, levanta preocupações sobre a lucratividade desse setor de negócios”, diz Marcos Alvarez, diretor administrativo da Global Financial Institution Ratings. “No entanto, não esperamos que este evento afete materialmente o perfil de crédito das seguradoras marítimas em 2025”, refere o responsável.

A colisão entre o Solong, o navio de bandeira portuguesa, e o norte-americano Stena Immaculate vai ativar “várias apólices de seguro, incluindo as de casco e maquinaria, responsabilidade civil e carga marítima”. “As perdas por responsabilidade civil (protection and indemnity insurance ou P&I) e salvamento excederão o custo dos sinistros do casco e da carga”, indica a agência. Ainda não são conhecidas as seguradoras que serão chamadas a indemnizar pelo acidente.

As imagens mostram que ambos os navios podem vir a ser considerados como perda total. O Solong e o Stena Immaculate são relativamente pequenos, com 140 metros e 183 metros de comprimento, respetivamente. A Morningstar estima que o seu valor segurado combinado ronde entre os 50 e os 100 milhões de dólares, valor que inclui os potenciais custos das operações de salvamento.

Vista aérea do navio americano MV Stena Immaculate. São visíveis os danos provocados pela colisão.DAN KITWOOD, Getty Images Pool

No entanto, mesmo que ambos os navios sejam considerados perda total, a maioria das perdas financerias recairá no âmbito do seguro P&I associadas ao derrame de elementos poluentes. O valor vai depender do volume de químicos e combustível libertado para o oceano e dos custos com a limpeza e recuperação das águas.

O seguro P&I é habitualmente oferecido pelo P&I club, uma associação que mutualiza os riscos, partilha informação, oferece representação legal e mecanismos de mitigaçao dos riscos para os seus membros, que incluem donos de navios, operadores e fretadores.

“O produto cobre quase todos os riscos de responsabilidade marítima associados à propriedade e exploração de navios, incluindo responsabilidades de terceiros relacionadas com a carga danificada durante o trânsito, o risco de poluição ambiental e riscos de guerra e políticos (se incluídos na apólice)”, explica a agência.

Importa relembrar o incidente deu-se na passada segunda-feira de manhã quando o navio de carga português atingiu o um navio-tanque que transportava combustível para aviões a jato destinado ao exército dos EUA, e que estava ancorado ao largo do estuário de Humber.

Ambos os navios sofreram danos graves devido à colisão e ao incêndio que se seguiu. Segundo o operador do Stena Immaculatem o petroleiro sofreu uma rutura no tanque de carga que continha combustível Jet-A1 quando o Solong o atingiu, tal provocou um incêndio e múltiplas explusões a bordo, resultando na libertação de combustível para o mar.

Dada a natureza da carga do Stena Immaculate, o governo dos EUA lançou uma investigação para averiguar a hipótese de sabotagem. As conclusões deste inquérito poderão ter implicações significativas no tratamento de eventuais pedidos de indemnização de seguros relacionados com o incidente.

Isto sucede porque os proprietários das cargas a bordo nos navios deverão apresentar pedidos de indemnização ao abrigo das suas apólices de seguro de carga pelas perdas sofridas mas, caso se determine que algum dos proprietários ou operadores de navios é responsável pelo acidente, as seguradoras da carga podem ter de recuperar as suas perdas junto das seguradoras de responsabilidade civil dos navios envolvidos.

Até agora foi detido o capitão do navio de carga registado na Madeira, de nacionalidade russa, por suspeita de homicídio por negligência grave na terça-feira, indicou à BBC Ernst Russ, porta-voz da empresa alemã dona do Solong.

Um tripulante do Solong está desaparecido. No total, 36 tripulantes de ambos os navios foram salvos.

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