Portugal escapa (para já) a pessimismo que encolhe crescimento da Zona Euro
Desde o início do ano, três das principais instituições económicas internacionais cortaram as perspetivas de crescimento dos países do euro para 2025. Desempenho do último trimestre ajuda Portugal.
A incerteza internacional, sobretudo relacionada com a Administração Trump, está a fazer-se sentir na Zona Euro, região para a qual já se espera menos crescimento. A performance dos países da moeda única é também, e principalmente, penalizada pelo desempenho da economia alemã. Mas, para já, Portugal parece escapar à onda de pessimismo, ajudado por um último trimestre acima do esperado.
Após uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro de 0,7% em 2024, o cenário agora esperado é de uma ligeira aceleração do crescimento. Contudo, desde o início do ano, três das principais instituições económicas internacionais já cortaram as projeções para este ano.
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Na segunda-feira, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apontou para um crescimento de 1% em 2025 e de 1,2% em 2026, menos 0,3 pontos percentuais (pp.) em ambos do que previa em dezembro. O tom ligeiramente mais pessimista seguiu o manifestado pelo Banco Central Europeu (BCE) na reunião do Conselho de Governadores há duas semanas.
Os técnicos da instituição liderada por Christine Lagarde reviram em baixa de 0,2 pp. a previsão para 2025 e 2026 face a dezembro, para 0,9% e 1,2%, respetivamente, refletindo um desempenho mais fraco do investimento e das exportações no quarto trimestre de 2024, que consideram não deverá ser recuperado em 2025.
“Além disso, as taxas de crescimento trimestrais foram revistas em baixo em 2025 e 2026 devido à incerteza política persistente e dos desafios de competitividade”, assinalou o BCE na análise divulgada na altura.
Um pessimismo que já tinha tido o rosto do Fundo Monetário Internacional (FMI), quando em janeiro cortou as projeções de crescimento dos países da moeda única. A instituição de Bretton Woods apontou para um crescimento de 1% este ano e de 1,4% em 2026, menos 0,2 pp. e menos 0,1 pp., respetivamente, do que nas projeções de outubro.
“Na Zona Euro, espera-se que o crescimento recupere, mas a um ritmo mais gradual do que o previsto em outubro, com as tensões geopolíticas continuando a pesar sobre o sentimento“, destacou.
Apesar das nuvens negras, Portugal e Espanha parecem escapar para já às repercussões mais negativas. “Apesar da conjuntura mais adversa da Zona Euro, acredito que Portugal poderá manter um crescimento acima da média da União Europeia, porque é isso que tem acontecido. O país tem conseguido destacar-se pela positiva”, considera Ricardo Ferraz, professor no ISEG e na Universidade Lusófona, em declarações ao ECO.
Apesar da conjuntura mais adversa da Zona Euro, acredito que Portugal poderá manter um crescimento acima da média da União Europeia, porque é isso que tem acontecido. O país tem conseguido destacar-se pela positiva.
O economista assinala que na contribuição para o crescimento do PIB se tem destacado o consumo das famílias e o turismo, não esperando “grandes alterações” nestas dinâmicas, “apesar das guerras e das tarifas” e da conjuntura de incerteza. Segundo Ricardo Ferraz, “eventualmente pode vir a ter algum impacto, mas não é para já”.
Uma confiança com a qual o Governo também se mostra em campo. Um dia após a queda do Executivo devido ao chumbo da moção de confiança no Parlamento, o ministro das Finanças afastou a possibilidade de as eleições terem um impacto negativo na economia e reafirmou a expectativa de o país superar o crescimento de 2,1% previsto no Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) e, na ausência de choques imprevistos, chegar a uma taxa de 2,5% este ano.
“A economia portuguesa teve um crescimento de 1,9%, superior à estimativa das instituições. O quarto trimestre foi francamente positivo. Tivemos o maior crescimento em cadeia da união europeia com 1,5%, o terceiro maior crescimento em variação homóloga com 2,9% e isso significa o efeito carry over para 2025 de 1,4%”, referiu o governante.
O efeito de arrastamento da reta final do ano passado é também destacado pelo diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira. “O último trimestre do ano foi muito melhor do que se estava a espera, só por isso as estimativas deveriam ter sido automaticamente revistas em alta em função desse número do final do ano“, referiu ao ECO.
O último trimestre do ano foi muito melhor do que se estava a espera, só por isso as estimativas deveriam ter sido automaticamente revistas em alta em função desse número do final do ano.
Um desempenho também assinalado recentemente pela presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP), Nazaré da Costa Cabral, em entrevista ao ECO. “Não obstante estarmos num período bastante crítico e que nos suscita uma série de riscos para o futuro, a dimensão externa também foi favorável. A economia portuguesa apresentou um excedente externo em 2024 de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Estamos a revelar alguma resiliência, por exemplo, no sentido de obtenção de alguns ganhos de quota de mercado”, destacou.
No entanto, ninguém deixa de reconhecer os riscos associados à incerteza externa. Pedro Braz Teixeira assinala que “atualmente está a valorizar-se os riscos de más notícias, que vêm sobretudo da América”.

“Há a incerteza sobre as políticas norte-americanas, nomeadamente sobre tarifas, com este avança e recua que não há meio de estabilizar. E depois, os primeiros sinais do primeiro trimestre da economia dos EUA são bastante negativos. Ou seja, ainda antes das políticas de Donald Trump estarem no terreno já estão a ter um efeito bastante negativo”, aponta.
O economista destaca que, por outro lado, o protecionismo de Trump “está a levar a União Europeia a acordar de alguma maneira e a tomar um conjunto de medidas que poderá estimular a economia”.
Ainda assim, admite que “todas estas más notícias, a determinada altura, se vão repercutir para Portugal, a que acresce a incerteza política”, considera. Isto porque, argumenta, se temos uma continuação do primeiro-ministro é capaz de não haver grandes alterações e impacto na economia, mas se vamos ter dificuldade em formar um Governo isso vai trazer mais incerteza à economia”.
Por seu lado, Ricardo Ferraz, acredita que as legislativas antecipadas “não terão propriamente impacto a nível macro, uma vez que até lá o Governo vai continuar a fazer o que está a fazer e as eleições são daqui a dois meses”.
Embora as instituições internacionais não tenham para já atualizados as projeções para a economia portuguesa — na quinta-feira será a vez de o Banco de Portugal (BdP) fazê-lo –, divulgaram-nas para Espanha, economia cujo desempenho recente Ricardo Ferraz assinala ser semelhante ao português. Tanto a OCDE como o FMI reviram em ligeira alta, esperando agora uma expansão do PIB de 2,6% e de 2,3%, respetivamente, este ano.
Alemanha escapa à recessão, mas não às revisões em baixa
As instituições económicas internacionais preveem que a economia alemã saia da recessão este ano, após uma contração de 0,2% em 2024, embora também tenham cortado as perspetivas face aos últimos relatórios.
A OCDE reviu em baixa de 0,3 pp. o crescimento da Alemanha deste ano face a dezembro, para 0,4%. Um pessimismo ao qual o FMI já se tinha adiantado quando, em dezembro, cortou a expansão do PIB em 0,5 pp., para 0,3%.
Na segunda-feira, o instituto alemão Ifo apontou para um crescimento de 0,2% em 2025, menos 0,2 pp. do que esperava anteriormente. “A economia alemã está a estagnar. Apesar da recuperação do poder de compra, a confiança dos consumidores continua baixa e as empresas também estão relutantes em investir”, salientou Timo Wollmershäuser, responsável pelas previsões económicas do Ifo, citado em comunicado.
Porém, não é apenas a Alemanha que é alvo de cortes nas perspetivas. A OCDE também está ligeiramente mais pessimista sobre a economia francesa e italiana, esperando agora um crescimento de 0,8% e de 0,7% em 2025, menos 0,1 pp. e menos 0,2 pp. do que anteriormente.
Já o FMI cortou o crescimento da economia francesa, para 0,8% (menos 0,3 pontos do que anteriormente), e da economia italiana este ano para 0,7% este ano (menos 0,1 pontos).
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