Caravela quer entrar no top 5 das seguradoras em Portugal
Luís Cervantes, presidente da seguradora, tem como objetivo atingir os 200 milhões de euros de prémios já em 2025, apontando para os ramos Vida e Saúde como decisivos para poder ambicionar ao top 5.

A seguradora Caravela multiplicou o volume de negócios 10 vezes nos primeiros 10 anos de vida e começou a expandir para os mercados de Espanha, França, Grécia e Países Baixos. Luís Cervantes, presidente da companhia, orgulha-se desse crescimento contínuo e de a seguradora contar com um dos melhores níveis de produtividade do mercado não vida em Portugal, com mais de 1,2 milhões de euros de volume de negócios por colaborador. Em entrevista a ECOseguros, Luís Cervantes, presidente do conselho de administração, revê o passado e aponta ao futuro.
Como resume o que se passou na Caravela desde que, em 2014, compraram a Macif em Portugal?
Foram dez anos muito intensos. A primeira fase, iniciada com a aquisição por parte dos fundadores da Caravela, foi marcada pelo processo de reestruturação. O volume de negócios era inferior a 20 milhões de euros e estavam a decorrer os trabalhos preparatórios para a implementação das regras de Solvência II. A equipa de Administração liderada pelo Diamantino Marques, com o Paulo Trigo como administrador delegado, deu os primeiros passos determinantes para que em 2017 se iniciasse um novo ciclo. A segunda fase iniciou-se com o primeiro private placement. Nesta altura, já comigo como presidente do conselho de administração, iniciámos o investimento em tecnologia que nos permitiu ir mais longe. O trabalho desenvolvido nesta segunda fase permitiu que fossem reunidas as condições para a terceira fase. Em 2019, um private equity sediado em Londres liderou um aumento de capital, que não só fortaleceu a posição de capital da Caravela, mas também permitiu continuar a senda de inovação e atingir, 10 anos após o aparecimento da marca, o 7.º lugar no ranking das companhias de seguros Não Vida.
Qual é a atual estrutura de capital da Caravela?
O referido private equity, o Toscafund, detém 48% do capital, sendo a única participação superior a 10%, sendo os restantes 52% detidos por um conjunto de 21 acionistas portugueses.
Desde 2020 a Caravela começou uma expansão para outras geografias. Qual é o propósito estratégico subjacente a este passo? Quais os mercados mais interessantes?
Existe um facto curioso que vale a pena recordar. A concretização do aumento de capital em 2019 foi realizada em dezembro. Três meses depois estávamos todos confinados na sequência da pandemia. Foram momentos muito difíceis para uma seguradora jovem e pequena, que não poderia tirar muito partido da redução da sinistralidade pois a carteira era muito pequena e se via confrontada com a dificuldade de novas relações com potenciais clientes. A prospeção de novos negócios ou novas parcerias não se consegue fazer através do Teams! É neste contexto que, aproveitando o tempo disponível, reatamos contactos antigos com o mercado ressegurador e com alguns atores importantes no mercado europeu e verificamos que existia uma oportunidade ao nível dos projetos de MGA (managing general agents, ou agentes de subscrição de riscos) que se estão a desenvolver na Europa. A realidade de MGA é muito comum nos EUA e no passado houve vários projetos que se desenvolveram na Europa a partir do Lloyd’s of London.
Como se desenvolve esse negócio?
É um processo que posso caracterizar como triangular. É composto pelo nosso parceiro especialista na distribuição de determinado produto em determinado mercado, denominado MGA, por nós enquanto companhia de seguros que emite as apólices, denominado de risk carrier, e pelo Ressegurador ou painel de Resseguradores que partilham o risco com o risk carrier.
No decurso do nosso desenvolvimento internacional estamos a observar novas tendências, novos atores e um conjunto de inovações que podemos vir a adotar. Por outro lado existem parcerias no mercado português que podem ser alavancadas, tal como a que existe com a Médis há mais de 10 anos.
Em que mercados atuam e qual é o peso atual deste negócio? Qual o objetivo de peso relativo para os negócios internacionais?
Iniciámos a nossa presença em 2021 no mercado francês, através de um MGA chamado Dune, em 2022 entramos no mercado da Grécia, através de um MGA chamado Brokins, em 2023 entramos nos Países Baixos através de um MGA chamado The Core/Biesbosch e em 2024 em Espanha através de dois MGA’s, Get Involved e Credican. Em 2024 o negócio de MGA’s representou 10% do volume de negócio, com tendência para aumentar nos próximos anos, podendo vir a representar em 2027 um quarto do volume de negócios total.
Nestes 10 anos multiplicaram o volume de negócios 10 vezes. E em 2024?
Do ponto de vista da atividade comercial mantivemos a nossa tendência de subir acima do mercado, com um crescimento superior a 17%, alargando a nossa base de parceiros estratégicos. Reforço que o nível de profissionalismo que continua a aumentar ao nível da mediação de seguros e é uma satisfação pessoal ver que os pilares lançados pela APROSE na década passada têm sido prosseguidos pelas várias direções se materializaram. O resultado é termos menos atores no mercado, uma redução de 45 mil para cerca de 10 mediadores, mas muito mais profissionais e com capacidade de ir muito mais além.
Do ponto de vista técnico e de infraestrutura de base tivémos em 2023 e 2024 um desafio muito grande. Por um lado, um processo de inflação que ao nível dos custos do ramo automóvel e dos custos com saúde ultrapassaram os dois dígitos, para o qual o setor segurador não estava preparado, o último processo inflacionista aconteceu em 2002/2003. Por outro lado, a implementação das novas regras IFRS17 em 2023, num contexto de extrema volatilidade de taxas de juro, apresentaram bastantes desafios que se prolongaram para 2024.
As consolidações continuarão quer ao nível da distribuição quer ao nível das seguradoras, principalmente se olharmos ao potencial que ainda existe à escala europeia.
A transição para IFRS17 foi interna ou recorreu a conselheiros externos?
A Caravela sendo uma companhia pequena, mas ágil do ponto de vista comercial, com um rácio de prémios por colaborador superior a 1,2 milhões de euros, seguramente o melhor rácio de produtividade do mercado Não Vida em Portugal, recorre a um conjunto de consultores especializados para este tipo de transição. Fizemos o processo de adaptação da IFRS17 com a KPMG e recorremos em 2024 à WTW para a realização de um assessment independente do nível de passivos.
E como correu 2024 do ponto de vista do negócio?
Em 2024 o Cash Flow Operacional foi superior a 30 milhões de euros, os capitais próprios tiveram uma evolução positiva, para os 70 milhões, com o resultado integral positivo. No entanto, foram reforçados os passivos relativos a serviços passados em mais de 17 milhões de euros, líquidos de resseguro, pelo que o resultado líquido do exercício foi negativo. O nível de solvência está acima dos 150%. Encontramo-nos numa boa posição e bem preparados para iniciar um novo ciclo.
Quais são as perspetivas para o futuro? Entrar no segmento Vida? Aquisições de empresas em Portugal ou fora? Novos ramos?
Neste novo ciclo, em Portugal, achamos que existem duas áreas de negócio onde deveremos passar a estar de uma forma muito ativa: a área Vida e a área de Saúde. Existem várias formas de desenharmos esta nova etapa, desenvolver novas parcerias, aquisições, acordos de distribuição ou banca seguros. Atingindo os 200 milhões de euros no ramo Não Vida já em 2025, o Ramo Vida e Saúde são áreas chave para podermos ambicionar atingir o Top 5 em Portugal. No decurso do nosso desenvolvimento internacional estamos a observar novas tendências, novos atores e um conjunto de inovações que podemos vir a adotar. Por outro lado, existem parcerias no mercado português que podem ser alavancadas, tal como a que existe com a Médis há mais de 10 anos.
Inteligência Artificial, FiDA (Open Insurance), contínua consolidação entre distribuidores e ainda de seguradoras. O que pensa disso?
Temos visto muita inovação a ser adotada não só na Europa, mas principalmente nos Estados Unidos da América. A Caravela está desde 2019 presente no InsureTech Connect e nos dois últimos anos o tema da Inteligência Artificial tem sido a questão principal. Já não é um hype, uma moda, como foi o BlockChain aplicado aos seguros. Não tivemos uma adoção massiva dos SmartContracts através de BlockChain.
Pelo contrário, ao nível da Inteligência Artificial, temos já exemplos de aplicação prática, nos contact center, nos assistentes operacionais e no tratamento e modelização de grandes quantidades de informação.
A tecnologia sempre foi e continuará a ser um fator de diferenciação e de eficiência, mas sempre dirigido pela capacidade humana. O livro do Neil D. Lawrence, “Humano, Demasiado Humano (o que nos torna únicos na era da inteligência artificial) é um excelente contributo para este debate.
As consolidações continuarão quer ao nível da distribuição quer ao nível das seguradoras, principalmente se olharmos ao potencial que ainda existe à escala europeia. A nossa aposta na internacionalização e desenvolvimento do negócio através de MGA’s faz parte desse caminho.
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