Alqueva gera 364 milhões de euros por ano na economia nacional, segundo estimativas de analistas

O Estado, acionista único da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, já investiu cerca de 2,5 mil milhões de euros no empreendimento até 2023.

O Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EFMA), que trouxe a grande parte do Alentejo segurança de abastecimento através da distribuição da água da barragem do Alqueva, não é apenas um projeto de gestão hídrica. É um motor económico que transformou o Alentejo e gerou impactos significativos na economia nacional.

De acordo com um estudo encomendado pela EDIA — Empresa de Desenvolvimento das Infraestruturas do Alqueva e desenvolvido pelo Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano, em conjunto com a EY-Parthenon, o EFMA impactará a economia nacional em 27 mil milhões de euros na produção nacional e com 12 mil milhões de euros para o Valor Acrescentado Bruto (VAB), considerando o período compreendido entre 1995 e 2028.

Este estudo, apresentado esta terça-feira, tem por base uma análise sobre os impactos autónomos do EFMA gerados na sua construção e exploração, e os impactos catalisados, os quais decorrem da viabilização das atividades económicas nos principais setores beneficiários – agrícola, agroindustrial, turismo e energia, nos 23 concelhos que constituem a área de influência.

Em 2023, os impactos do EFMA somam 3,3 mil milhões de euros no que diz respeito à produção e atinge 1,4 mil milhões de euros de VAB, sendo que a agricultura suporta dois terços deste valor, seguida da indústria.

“O EFMA impactou significativamente a economia regional e nacional”, lê-se no estudo, que aponta para um contributo acumulado para o período 1995 a 2028 de 12 mil milhões de euros de Valor Acrescentado Bruto (VAB), correspondente a 0,2% do VAB nacional. Neste sentido, o impacto médio anual do empreendimento, ao longo dos 33 anos que terminam em 2028, é de cerca de 364 milhões de euros.

No mesmo período, os autores contabilizam um valor de 27 mil milhões de euros de produção nacional, 3 mil milhões de euros de receita fiscal e 22.569 empregos (correspondente a 0,5% do emprego total nacional).

No estudo lê-se ainda que os efeitos do EFMA “são ainda mais relevantes nos últimos anos e em particular a partir 2017”, o que é justificado por a maioria dos efeitos ser decorrente da atividade económica viabilizada pelo EFMA e, nesse sentido, verificados mais tardiamente.

O EFMA trouxe um retorno positivo para o Estado a partir de 2022, ano em que a receita gerada acumulada superou a despesa, em grande parte investimento, já realizado.

Relatório 'Avaliação do Impacto Económico da Implementação do Empreendimento e Fins Múltiplos do Alqueva'

Em 2023, os impactos do EFMA somam 3,3 mil milhões de euros no que diz respeito à produção e atinge 1,4 mil milhões de euros de VAB, sendo que a agricultura suporta dois terços deste valor, seguida da indústria. A maioria do impacto do VAB — 65% — foi de âmbito regional. No mesmo ano, o empreendimento suportou mais de 26 mil empregos.

O cálculo destes impactos considerou os investimentos realizados pelas empresas do setor agrícola na região de influência do EFMA, sendo que a área usada nesse ano era seis vezes superior à de 2011. O volume de negócios do setor agrícola em 2023, no universo do empreendimento, foi de 1,147 milhões de euros, marcando uma trajetória ascendente desde 2015.

O investimento agrícola, contudo, está em trajetória descendente desde 2019, cifrando-se nos 96 milhões em 2023. Já o setor agroindustrial viabilizado pelo empreendimento, que engloba desde a produção de vinho, óleos e gorduras até leite e seus derivados, registou um volume de negócios de 746 milhões de euros em 2023. No turismo, a soma apresentada é de 109 milhões, considerando os investimentos realizados pelas empresas do setor agrícola na região de influência do EFMA.

Agricultura é o motor

O impacto calculado está associado sobretudo à atividade agrícola“, indica o estudo. O valor acrescentado do setor passou de 243 milhões de euros em 2009 para 779 milhões em 2022, representando 14% do VAB regional.

O aumento da representatividade do olival e frutos de casca rija, de 11% do VAB das empresas do setor em 2009 para 40%, em 2022, impulsionou os valores, assim como a “transição para regimes de exploração intensivos e superintensivos” e a mudança da predominância de produtores singulares para sociedades.

Em 2023, ano em que o valor acrescentado bruto ascendeu a 1,4 mil milhões de euros, este teve sobretudo origem no setor da agricultura, que pesou 66% neste resultado, e da indústria, que contribuiu com 24%. Já o setor do turismo apresenta “um reduzido contributo” para os impactos atribuíveis ao EFMA, pesando apenas 2% do VAB.

Estado com retorno a partir de 2022

O empreendimento do Alqueva já garantiu um retorno financeiro para o Estado superior aos recursos investidos, aponta ainda o estudo, olhando à recuperação do investimento simples, não atualizada de acordo com a inflação nem ponderada pelo custo de oportunidade.

Entre 1995 e 2023, foi considerado e estimado um investimento total público nas infraestruturas do EFMA de 2,5 mil milhões de euros, maioritariamente constituído por investimentos registados no Plano de Investimento do EFMA (disponibilizado pela EDIA), mas também considerando os subsídios correntes à exploração, recebidos pela EDIA desde 2002.

Fonte: Estudo Avaliação do Impacto Económico da Implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva

O EFMA trouxe um retorno positivo para o Estado a partir de 2022, ano em que a receita gerada acumulada superou a despesa, em grande parte investimento, já realizado”, lê-se no estudo.

O mesmo documento considera que o facto de “não ter sido possível apurar a quantia de reforços de capital destinados a financiar défices operacionais da EDIA” não impede que se possa afirmar que o EFMA já garantiu um retorno financeiro para o Estado superior aos recursos investidos. Por cada euro investido no EFMA, o Estado já recuperou 1,2 euros de impostos, indicam os autores.

Escassez de água e mão de obra preocupam

O estudo aponta alguns desafios “que o EFMA poderá enfrentar, caso não sejam previamente abordados e mapeados”. Entre estes destaca-se a necessidade de gestão da escassez de água, em que “o EFMA deve equilibrar a expansão da sua zona de influência com a disponibilidade limitada deste recurso, crucial para manter a atratividade para os investidores”.

A escassez de mão-de-obra para trabalhar nas fileiras dinamizadas pelo EFMA também é referida, assinalando-se que a respetiva mitigação, através de trabalhadores estrangeiros traz desafios de integração profissional, social e cultural, além de pressão sobre o mercado habitacional e infraestruturas locais

Em terceiro lugar, são referidos os “estrangulamentos colocados ao desenvolvimento do setor do turismo”, relacionados com o ordenamento do território, infraestruturas de transporte e comunicação deficitárias, que mitigam a atratividade do Alqueva enquanto destino turístico.

A construção do EFMA iniciou-se em 1997, sendo atualmente constituído por um conjunto de 72 barragens, reservatórios e açudes, interligados por condutas e canais, que perfazem uma área de influência total de 10.000 quilómetros quadrados. A barragem do Alqueva, a maior da Europa, é a peça central, que permite garantir o abastecimento durante, pelo menos, três anos consecutivos de seca.

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