“Os nossos clientes já querem cúpulas com diversidade”. A mulher na advocacia

Mariana Sarávia, Susana Afonso e Ana Ferreira Neves debatem a igualdade de oportunidades nos grandes escritórios de advocacia. O projeto "Mulheres com ECO" está de regresso. Veja o vídeo.

“Ao longo do tempo tivemos os nossos desafios e ainda temos portanto, sim, ainda faz sentido celebrar este dia”, disse Susana Afonso, sócia da CMS Portugal e membro do Conselho de Administração do escritório gerido por um homem, José Luís Arnaut. “Tenho 30 anos de advocacia e na altura era muito diferente, muito masculina, muito vertical na hierarquia, havia advogados em que quando eu os cumprimentava, a minha voz tremia. E sentia imenso a necessidade de me vestir de uma forma mais masculina, achava que tinha de me impor pela roupa”, disse a advogada.

Um estudo divulgado em 2021 pela Ordem dos Advogados revela que ainda muitas mulheres relatam sentir-se excluídas das redes informais de poder dentro dos escritórios. Um estudo divulgado em 2021 pela Ordem dos Advogados revela que ainda muitas mulheres relatam sentir-se excluídas das redes informais de poder dentro dos escritórios. Esse estudo demonstra ainda que – do total de cerca de 40 mil advogados – 57% são mulheres. Apesar destes dados demonstrarem um progressivo domínio da mulher na advocacia, nem sempre são traduzidos de forma igualitária na progressão de carreira, no equilíbrio entre género nos cargos de topo e na conciliação da vida profissional com a pessoal. Mulheres com ECO é uma iniciativa que reúne várias marcas do universo ECO, com um novo episódio divulgado todas as sextas-feiras. Este é o quarto da série de oito. Veja o vídeo.

Ana Ferreira Neves, sócia da TELLES, advogada há mais de 20 anos, refere que começou a exercer nos anos 90 e já nessa altura as mulheres estavam presentes na advocacia.”Já havia algum terreno conquistado, mas a cúpula ainda era muito masculina. O próprio código de como nos vestíamos na altura era diferente. A credibilidade vinha com uma imagem de masculinização” E admite que há anos se evitava a desculpa de não fazer certo tipo de trabalhos porque “tínhamos filhos pequenos”. Agora, “o teletrabalho ajudou muito, toda a flexibilização no exercício do trabalho no pós Covid veio facilitar e muito”.

Susana Afonso avisa que são cerca de 57% mulheres advogadas e isso significa muito. “Nos escritórios também….mas quanto à cúpula é outra história, é um caminho que ainda se tem de fazer”.

Mariana Caldeira Sarávia, sócia da SRS Legal, considera que não sentiu obstáculos na carreira mas sente, sim, “que tenho necessidade de provar que tenho uma disponibilidade igual à dos homens. Não tendo… mas desfazendo-me para isso”.

Foi em 2006 que pela primeira vez a classe da advocacia contabilizou mais mulheres do que homens: 12.996 advogadas face aos 12.720 profissionais do sexo masculino. Desde então que o sexo feminino tem dominado a classe, com exceção do ano de 2008.

Atualmente – segundo dados mais recentes de finais de 2023 – são 40.065 advogados, mais 1.261 do que em 2022, um novo recorde, a maioria do sexo feminino, totalizando cerca de 57%, ou seja 22.852 advogadas, outro recorde. Já advogados do sexo masculino foram contabilizados 17.213, ou seja cerca de 43% da classe. Recorde-se que a advocacia esteve durante vários anos restringida às mulheres e só em 1918 é que viram assegurado o seu direito de acesso à profissão.

Ana Ferreira Neves, sócia da Telles, Susana Afonso, sócia da CMS e Mariana Sarávia, sócia da SRS Legal. Fotos: Hugo Amaral

Ana Ferreira Neves acrescentou ainda que “havia fases , quando fomos mães, que nos questionamos : será que quando eu chegar da licença, vou continuar a receber trabalho, vou conseguir avançar com a minha carreira?”.

Já Susana Afonso admitiu que “não tinha esta consciência do work life balance, não tinha este receio que o trabalho não existisse mas a verdade é que não fiz interrupção com a maternidade e, oito dias depois dos gémeos nascerem, estava sentada em frente ao computador”.

Mariana Sarávia, advogada e sócia da SRS Legal, concluiu: “temos 48% de mulheres sócias na SRS Legal. Mas depois esbarramos no Conselho de Administração onde temos duas mulheres em nove. Mas acho que há uma atenção verdadeira ao papel da mulher. O escritório valoriza, gosta de ouvir e dá atenção às mulheres. Isto na cúpula, no fórum de sócios”.

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