Auditora de Gaia entra como ‘listing sponsor’ na Euronext Dublin para fundos de investimento abertos
Consultora de auditoria e gestão Carmo e Cerqueira dá “salto para outro campeonato” com a credenciação como 'listing sponsor' na Euronext Dublin para cotar fundos de investimento abertos.
A portuguesa Carmo e Cerqueira (C.) foi confirmada oficialmente como tier 1 listing sponsor na Euronext Dublin, adiantou ao ECO o cofundador e presidente executivo, José Carmo. A consultora de auditoria e gestão avançou com esta acreditação com o objetivo de cotar fundos de investimento abertos — algo que só é possível fazer na Irlanda ou nos Países Baixos (Amesterdão). É que em Lisboa, onde nos últimos anos tem participado em várias operações nos mercados secundários (Access e Growth), só poderia cotar fundos de investimento fechados.
“Tivemos de demonstrar o nosso background e o conhecimento que temos do mercado de capitais e de fundos em Portugal. Facilitou o facto de já sermos listing sponsors da Euronext em Lisboa, no Access e no Growth. Mas tivemos de demonstrar também que cumprimos com algumas exigências, nomeadamente em termos de independência. Por exemplo, que não somos auditores dos fundos que estamos a apresentar, que há chinese walls entre a auditoria e o advisory, que não somos revisores e listing sponsors da mesma entidade”, resume.
Estamos a falar de outro campeonato. Já não são empresas de cinco ou dez milhões, mas fundos de 150 milhões. Do ponto de visto de remuneração também é outro nível.
José Carmo destaca que a consultora de auditoria e gestão de Gaia fica “apta a prestar esse serviço também a empresas estrangeiras – e aí é competitiva do ponto de vista de preço” – e que esta acreditação será atrativa em termos de negócio, sendo que atualmente esta atividade como listing sponsor vale ‘apenas’ 7,5% da faturação. “Dando este salto e passando a listar fundos, estamos a falar de outro campeonato. Já não são empresas de cinco ou dez milhões, mas fundos de 150 milhões. Do ponto de visto de remuneração também é outro nível, nomeadamente no acompanhamento. E até do ponto de vista de cadência de faturação garante um nível de remuneração que é interessante”, aponta.
“Se quiser investir num fundo de investimento fechado, a pessoa tem de se registar em Portugal, ter um número de contribuinte português ou passar por todo o processo de KYC [Know Your Customer] dos bancos portugueses [para mitigar riscos nas operações financeiras]. Se tiver um fundo de investimento aberto que está cotado, a partir do broker lá fora pode comprar unidades de participação no fundo, sem ter de passar por todas as exigências de KYC e de branqueamento de capitais no país de destino, fazendo o investimento diretamente como faz em ações normais. Há fundos portugueses que têm esse interesse e vamos tentar fazer o listing desses fundos em Dublin”, acrescenta o gestor.

Qual o trabalho de um listing sponsor? Em resumo, numa primeira fase está responsável pelo processo de due diligence e em ajudar a reestruturar as empresas para que possam ser colocadas em bolsa, verificando se está ou não em condições de ser listada. Numa segunda fase, ajuda igualmente na elaboração do documento informativo – na maior parte dos casos não é preciso um prospeto porque o valor do investimento é baixo. Uma vez listada a empresa, compete-lhe depois fazer o papel do public relations, especificando, por exemplo, o que tem ou não de divulgar, quando é que deve publicar as contas e outras informações do género.
Nos últimos anos, a C. tem apostado nesta atividade como listing sponsor nos mercados secundários da Euronext Lisbon, com destaque para três operações que avançaram por motivos diferentes. No caso da Farminvest, o objetivo era facilitar as trocas de participações entre os proprietários das farmácias e foi criada uma classe específica de ações que está listada. Na Vila dos Números, organizar os investimentos do ponto de vista familiar e otimizá-los do ponto de vista fiscal: constituíram uma SIGI, que obriga a uma dispersão de capital num mercado e o Euronext Access serve esse propósito.
No caso mais recente da Samba Digital, que é neste momento a única empresa portuguesa no Euronext Growth, a startup de marketing desportivo quis listar-se para facilitar a entrada de investidores. No início deste ano, a empresa fundada em 2018 nos EUA anunciou um aumento de capital de quatro milhões de euros para financiar o desenvolvimento de uma plataforma de inteligência artificial para organizações desportivas.

Cofundada por José Carmo e David Cerqueira, ambos ex-quadros da PwC e que já se conheciam da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), a C. tem também Bruno Neves como sócio desde o final de 2017: era senior manager no escritório da KPMG no Porto e foi convidado nessa altura para liderar o departamento de fiscalidade.
Com clientes nos setores da banca, indústria, farmacêutico, advocacia, hotelaria ou imobiliário, esta sociedade de revisores oficiais de contas e consultora especializada em corporate finance, fiscalidade e mercado de capitais emprega atualmente 27 pessoas e fechou o último exercício com uma faturação de dois milhões de euros, com a auditoria a equivaler a cerca de 45% do negócio.
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