Construtora Conduril passa de lucros a prejuízos de 28,4 milhões de euros em 2024
Construtora da família Amorim Martins confirma “ano difícil” em que “pela primeira vez a rentabilidade foi significativamente abalada”. Pedido “reequilíbrio financeiro” à IP na Linha da Beira Alta.
A Conduril registou prejuízos de 28,4 milhões de euros no ano passado, que comparam com os lucros de 2,3 milhões em 2023 e de 7,3 milhões em 2022. No mais recente relatório e contas, a construtora confirma que “os últimos dois anos evidenciam uma tendência de quebra da rentabilidade e o acumular de várias situações circunstanciais e transitórias, não tendo sido possível a sua inversão” no último exercício.
“Em 65 anos de existência, o grupo Conduril pode orgulhar-se da robustez dos seus indicadores económico-financeiros que lhe permitiram ter músculo para enfrentar as situações mais adversas. Porém, o ano de 2024 foi um ano particularmente difícil e pela primeira vez a rentabilidade foi significativamente abalada”, escreve a empresa de Ermesinde (Valongo) no documento enviado esta quinta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Num ano em que viu o volume de negócios voltar a baixar mais de 32% para 124 milhões de euros, a construtora liderada por Benedita Amorim Martins reporta igualmente uma subida de 175% da dívida líquida, para 66,9 milhões de euros.
A autonomia financeira baixou de 49% para 40% e o rácio de solvabilidade deslizou de 98% para 66% no ano passado, em que o número médio de empregados foi de 2.637, menos 115 do que em 2023.
Ainda assim, o grupo nortenho assinala que “apesar da quebra ao nível dos resultados, que impactou diretamente o capital próprio, continua a apresentar indicadores de balanço sólidos, que bem demonstram a sua notável história ao longo da qual é inevitável enfrentar ciclos mais favoráveis e outros menos”. Contudo, lê-se no mesmo documento, “não são os períodos de adversidade que definem a empresa, mas sim as estratégias adotadas e a resiliência demonstrada para os superar”.
Com sucursais em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Zâmbia, Malawi e Marrocos, a Conduril contabiliza que o volume de obras em carteira ascende a 1.200 milhões de euros, “o maior de sempre”. Destaca em Portugal a linha de Alta Velocidade (troço Porto – Oiã), em que integra o consórcio LusoLav liderado pela Mota-Engil e que inclui também a Teixeira Duarte, Casais, Alves Ribeiro e Gabriel Couto; e em Angola as 186 pontes metálicas nas 21 províncias deste país africano.
Por outro lado, avança que as dificuldades sentidas no último ano obrigaram a uma “reflexão interna profunda e global, abrangendo não só o seu modo de atuar como também a sua estrutura e organização interna”. Em particular, diz ter iniciado uma remodelação do parque de equipamento – adequando-o ao tipo de projetos em carteira e alienando algum equipamento específico utilizado nas obras terminadas – e a “reestruturação de vários departamentos internos”, sem detalhar.
No que toca à situação financeira, a empresa assume que foi obrigada a um aumento dos financiamentos, mas garante que “através de um planeamento estratégico rigoroso e de uma gestão financeira prudente, os esforços encetados para ultrapassar e regularizar essas situações permitirão o escrupuloso cumprimento dos compromissos correntes assumidos”. Salienta ainda que prevê “retomar em breve os níveis normais de financiamento da empresa, mantendo a plenitude da sua estabilidade financeira”.
Pedido “reequilíbrio financeiro” à IP na Linha da Beira Alta
Entre as “situações” que contribuíram para estes resultados negativos, a Conduril começa por apontar o término das duas obras de referência executadas nos últimos anos (Barragem e Central Hidroelétrica do Alto Tâmega e a 3.ª fase da expansão do Molhe Leste do Porto de Sines), em conjugação com o que descreve como “constrangimentos das obras da ferrovia” em Portugal. Em particular, as empreitadas de modernização da linha da Beira Alta, criticando a Infraestruturas de Portugal (IP) pela “falta de colaboração incompreensível na resolução dos problemas com repercussão gritante na rentabilidade” destas obras.
No caso do troço Celorico – Guarda, cuja obra já se encontra totalmente realizada e em funcionamento, tendo sido até inaugurada em novembro do ano passado pelo ministro da tutela, Miguel Pinto Luz, a Conduril solicitou à IP o reequilíbrio financeiro do contrato. “As negociações decorrem há largos meses e apesar das dificuldades sentidas no entendimento da razão que assiste à Conduril, mantém-se a convicção que a empresa será ressarcida do prejuízo”, descreve.
Já no troço Cerdeira – Vilar Formoso, denuncia que a disrupção do faseamento construtivo linear previsto em fase de concurso obrigou à dispersão dos recursos, diminuição da dimensão das frentes de trabalho e aumento de microfases no processo construtivo da obra, provocando uma “forte quebra de produtividade em relação aos rendimentos normais e expectáveis”, traduzida numa maior permanência em obra dos meios de produção afetos aos trabalhos e, em consequência, na rentabilidade da empreitada.
“A Conduril solicitou o reequilíbrio financeiro, sendo que o dono de obra apenas concordou com parte do valor reclamado, obrigando a recorrer a Tribunal Administrativo, ação que se encontra em curso, com consciência do tempo que a justiça portuguesa demora na resolução deste tipo de processos. Além da ação judicial referida, continuam as negociações com a IP no sentido de ver ressarcidos os restantes prejuízos. Caso tal não ocorra, a Conduril ver-se-á obrigada a dar entrada com uma nova ação judicial”, detalha a empresa.

No caso do projeto da Alta Velocidade, em que garante estar empenhada em conjunto com os parceiros nacionais do setor da construção, sublinha que “a complexidade e o esforço financeiro” exigidos no processo de candidatura são “muito significativos, sendo o desfasamento temporal da sua recuperação, se existir adjudicação da proposta entregue, algo que obriga a uma grande exigência financeira nesta fase”.
Também no segundo troço, o consórcio que junta as construtoras portuguesas foi o único concorrente, o que a Conduril diz ser “consequência da falta de adequação dos valores base dos concursos”. “Esta é uma realidade em que as entidades públicas insistem, valores base dos concursos irrealistas, obrigando as empresas a esforços desmedidos e insustentáveis para garantir a participação nos projetos, culminado muitas vezes na desertificação dos concursos”, critica.
Ainda em Portugal, outra situação que a construtora da família Amorim Martins diz continuar a causar “desgaste e constrangimentos financeiros intoleráveis” é o processo de arbitragem relativo à participação da Conduril na concessionária da subconcessão rodoviária Rotas do Algarve Litoral. Remonta a 2019 e ainda não se encontra concluído. Uma “delonga inaceitável quando as obras de requalificação da N125 se encontram em plena utilização desde 2017”.
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