“Governos dos últimos 6 anos não são sérios sobre tornar Portugal num hub tecnológico a sério”, diz CEO da Cloudflare
"Não posso investir se não posso ter pessoas que venham para Portugal e que treinem as equipas", diz o gestor, admitindo que está a repensar Lisboa como sede europeia. Nega o incidente em Tires.
“Os governos dos últimos seis anos falharam em cumprir com as suas promessas e não são sérios sobre tornar Portugal numa fábrica de unicórnios ou num hub tecnológico a sério”, afirma Matthew Prince, o CEO da Cloudflare que, recentemente, na rede social X, acusou Portugal de ser um “país pouco sério” por causa do atraso dos vistos e burocracia sufocante.
“Não posso investir se não posso ter pessoas que venham para Portugal e que treinem as equipas”, diz o gestor, admitindo que está a repensar Lisboa como sede europeia. “A resposta é sim, porque não podemos continuar a operar desta forma”, disse o gestor da tecnológica americana de cibersegurança ao Observador.
Nega ainda o incidente com bagagens em Tires, relatado ao ECO pelo responsável do aeródromo. “Não há base factual para essa história”. “Não tenho absolutamente nenhuma ideia sobre o que estão a falar”, diz. Na segunda-feira o ECO questionou a empresa sobre o tema, bem como sobre intenção de cortar investimento no país, sem obter nenhuma resposta.
“Isto não é sobre um Governo em particular”, garante o CEO da tecnológica norte-americana, em declarações ao Observador. “Acho que já contactei praticamente por todas as vias [o Governo] e já levei a questão a quase toda a gente com quem consigo falar”, diz. “Não vou nomear especificamente quem é que me desiludiu, digo que em todos os níveis o Governo português me tem deixado desiludido”, garante ao jornal online.
Com escritório em Lisboa desde 2018, o responsável diz ter escolhido o país “pelas pessoas, não foi por causa de impostos”. “Sei que há muita especulação à volta disso, de que poupamos dinheiro com os impostos — não poupamos nenhum dinheiro com os impostos ao estar em Portugal, isso é completamente irrelevante”, diz, negando ter recebido benefícios fiscais. “Não, não. Certamente não quando comparado com qualquer outro ponto onde estávamos.”
Promessas não cumpridas pelos Governos
Quanto às promessas feitas pelos governos, e não cumpridas, o CEO da tecnológica de cibersegurança diz: “O Governo prometeu ajudar a reduzir as complicações com a imigração para as pessoas que precisássemos de trazer para o país, porque não conseguíamos encontrar pessoas [em Portugal] que fossem especialistas nesses campos.”
Terão prometido “assistência para minimizar a burocracia para podermos continuar a operar e que seriam um bom parceiro para nós quando interagíssemos com a União Europeia, enquanto nossa sede europeia. E, enquanto nós estivemos à altura dos nossos compromissos, eles não estiveram”, acusa.
Já a Cloudflare comprometeu-se a “contratar pelo menos 100 pessoas nos próximos três anos, mais de metade deles cidadãos portugueses”, diz, garantindo que tem investido “milhões de euros” no país. “Se juntar todos os compromissos que fizemos, ter um novo escritório, contratar… Só os salários de 400 funcionários é um investimento grande que fizemos no país. Mas seria o dobro se o país estivesse à altura das promessas”, acusa.
“Temos 15 casos de renovação de vistos que estão a arrastar-se há anos. E, mais uma vez, fizemos chegar esta questão a toda a gente. Temos dez funcionários que não podem sequer renovar a autorização de residência, porque a burocracia demora tanto que não conseguiram fazê-lo antes de o visto expirar”, afirma.
Apesar de admitir a possibilidade de Lisboa deixar de ocupar a posição de sede europeia, irá manter escritório no país. A “equipa em Lisboa é de classe mundial e está a fazer algum do trabalho mais importante”, da tecnológica. “Não vamos encerrar o escritório, o trabalho ou as pessoas que temos aqui”, diz, mas não se compromete com mil funcionários nos próximos três anos. “Não sei se posso fazer isso”, diz.
“Há três anos, parei de recomendar Portugal [a outras empresas]”, diz. “Digo-lhes que há os ingredientes certos, mas problemas sérios. E, até que sejam resolvidos, recomendo cautela.”
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