O que significa para os mercados a entrada dos Estados Unidos na guerra?
Com Donald Trump a ameaçar uma decisão relativa ao conflito entre Isarel e o Irão, que pode estar por horas, os mercados prepararam-se para o impacto.
“Posso vir a fazê-lo. Posso não vir a fazê-lo. Quer dizer, ninguém sabe o que eu posso vir a fazer”. Esta frase ilustra a indecisão de Donald Trump sobre o envolvimento dos Estados Unidos da América na guerra entre Israel e o Irão e deixa os mercados a tentar adivinhar os próximos passos do volátil líder do país mais poderoso do mundo.
O conflito continua a escalar no Médio Oriente. Se, por um lado, os ataques do Irão parecem estar a perder algum vigor, Israel tem aumentado a pressão, com investidas aéreas sobre Teerão e com um ataque a pelo menos uma instalação nuclear. Depois das declarações de Benjamin Netanyahu e do próprio Donald Trump, com este a aconselhar o Irão a render-se sem condições, o líder iraniano fez uma intervenção pública pela primeira vez desde o início do conflito, e o tom foi tudo menos conciliatório.
Ali Khamenei começou por afirmar que Israel tinha cometido “um erro enorme” ao lançar a guerra e deixou uma declaração de intenções, através de uma transmissão na televisão iraniana: “Pessoas inteligentes que conheçam o Irão, a nação iraniana e a sua história nunca falarão com este país usando linguagem ameaçadora, porque a nação iraniana nunca se vai render“. E acrescentou que “os americanos deviam saber que qualquer intervenção militar norte-americana será sem dúvida acompanhada por danos irreparáveis”.
Há muita poeira no ar, até porque enquanto os agentes se ameaçam publicamente há também relatos de possíveis negociações que possam conduzir a um cessar-fogo. Mas há informações, avançadas pela Bloomberg, de que as altas patentes do exército americano já discutiram com Trump um plano para uma intervenção direta na guerra.
Enquanto, no Médio Oriente, as bombas voam de um lado para o outro e, em Washington, Trump vai hesitando entre duas fações dos seus apoiantes, os mercados estão expectantes e a preparar-se para os vários cenários. Sendo a visão mais consensual a de que, caso os Estados Unidos entrem na guerra, haverá um impacto imediato negativo nos mercados acionistas. Quão sério dependerá do teatro de guerra e da duração do conflito.
Segundo analistas ouvidos pela Reuters, a entrada americana no conflito, de forma direta, será negativa para as ações, ainda que essa reação se possa inverter caso essa intervenção seja rápida e incisiva, ajudando a acabar com a guerra de forma mais rápida. Se isso é o cenário mais provável, ainda ninguém sabe.
No que toca ao mercado acionista, depois de meses muito duros durante o início do mandato de Donald Trump, o segmento tem vindo a recuperar e não está longe dos máximos históricos, nos Estados Unidos. O que significa que muitos investidores não hesitariam em vender, encaixando as mais-valias, caso esse passo seja dado, gerando pressão vendedora e a desvalorização dos títulos.
Chuck Carlson, CEO da Horizon Investment Services, defende em declarações à Reuters que “consigo antecipar que a primeira reação instintiva seja de ‘isto é mau’. Mas acho que isso até pode levar ao fim do conflito mais cedo”.
É claro que os diferentes setores se comportarão de forma diferente. As ações de energia, nomeadamente petróleo, poderão beneficiar de preços mais elevados, enquanto a área da defesa também poderá ser suportada.
Nos últimos dias de expectativa, o que temos visto é uma maior volatilidade nos preços do petróleo. O Barclays avisa que o barril pode subir para 85 dólares caso as exportações iranianas caiam para metade, e poderiam chegar aos 100 dólares “no pior cenário” de um confronto alargado. Isto face aos cerca de 75 dólares atuais.
Já os economistas do Citigroup avisam que preços do petróleo significativamente mais altos “seriam um choque negativo para toda a economia, baixando o crescimento e aumentando a inflação, criando novos desafios para os bancos centrais que já estão a tentar navegar por entre os riscos da guerra comercial”.
Para já, tem havido alguma procura por ativos de refúgio como o ouro, o franco suíço e até a dívida norte-americana. Também o dólar pode sair fortalecido com um aumento do conflito, envolvendo os Estados Unidos.
“Pessoalmente, não acho que iremos entrar na guerra. Trump vai fazer tudo o que puder para o evitar. Mas se não puder ser evitado, então isso vai ser inicialmente negativo para os mercados”, defende Peter Cardillo, Chief Market Economist na Spartan Capital Securities em Nova Iorque.
“O ouro ia disparar, as yields provavelmente desceriam mais e o dólar provavelmente ia subir de forma forte”, acrescentou.
No meio da incerteza, os investidores estão preparados para os vários cenários e, se Trump decidir avançar, isso não será uma total surpresa, pelo que parte do efeito estará descontado no preço dos ativos.
“Os investidores querem poder olhar para além disto, e enquanto não virmos razões para acreditar que isto vai ser um conflito regional muito maior com os Estados Unidos, com esse envolvimento e uma probabilidade elevada de escalar, vamos ver o mercado empenhado em tentar ignorar o tema o mais que puder”, defendeu numa conferência com investidores Osman Ali, global co-head da Quantitative Investment Strategies, igualmente citado pela Reuters.
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