Caixa, BCP e Novobanco superam novo teste de stress do BCE

Testes de stress do BCE mostram que bancos da Zona Euro mantêm resiliência num cenário adverso, apesar de perdas projetadas de 628 mil milhões de euros. Bancos portugueses ficam bem na fotografia.

O setor bancário da Zona Euro demonstrou capacidade para resistir a choques económicos severos, mas enfrentaria perdas acumuladas de 628 mil milhões de euros num cenário de crise prolongada, segundo os mais recentes testes de stress divulgados esta sexta-feira pelo Banco Central Europeu (BCE).

O rácio de capital CET1 do sistema bancário desceria para 12% após três anos de tensão económica, uma queda de quatro pontos percentuais face ao ponto de partida de 16%, mas ainda assim acima dos 10,4% registados no teste anterior de 2023.

Os resultados, que abrangem 96 bancos sob supervisão direta do BCE – incluindo três dos principais bancos portugueses (Caixa, BCP e Novobanco) –, revelam que “a forte rentabilidade oferece aos bancos um tampão sólido contra o aumento das perdas projetadas”, como destacou o organismo supervisor europeu.

No cenário adverso testado pelo BCE, apenas quatro bancos não cumpririam os seus requisitos mínimos de capital, necessitando de 4 mil milhões de euros adicionais para restabelecer os níveis de capital adequados.

Este exercício, realizado entre janeiro e julho de 2025, testou a resistência das instituições financeiras a um cenário adverso marcado por tensões geopolíticas combinada com políticas comerciais protecionistas que resultariam numa fragmentação do sistema de abastecimento global. Esta situação levaria a preços mais elevados de energia e matérias-primas, culminando numa contração significativa do crescimento económico global.

“No cenário adverso, uma agravação das tensões geopolíticas perturba os canais comerciais e, em última instância, reduz o crescimento económico global”, explica o relatório do BCE, que detalha como “o aumento dos preços das matérias-primas – e particularmente dos preços da energia – juntamente com a fragmentação comercial e as perturbações nas cadeias de abastecimento levam a preços de inputs mais elevados”.

Apesar do aumento das perdas projetadas face ao teste de 2023 – quando se estimavam 548 mil milhões de euros –, a diminuição de capital foi menor do que em exercícios anteriores. “O exercício revela que o setor bancário da Zona Euro é resiliente contra uma recessão económica severa, mas plausível”, revela o BCE em comunicado.

Impacto heterogéneo nos bancos

O exercício abrangeu duas amostras distintas: 51 instituições de maior dimensão que participaram no teste coordenado pela Autoridade Bancária Europeia (EBA) e 45 bancos médios que participaram no teste paralelo coordenado pelo BCE. Entre estes últimos encontra-se o Novobanco, enquanto a Caixa Geral de Depósitos e o Banco Comercial Português (BCP) integraram o grupo dos bancos de maior dimensão.

  • Segundo cálculos dos técnicos com base na inclusão das regras e exigências legais que vão ser obrigatórias no futuro, de acordo com a mais recente atualização da regulamentação europeia para os bancos (CRR3), a Caixa parte com um rácio de fundos próprios principais de nível 1 (CET1) de 20,71% e mantém esse mesmo rácio em 2027, sob o efeito do cenário adverso considerado. Esse feito é conseguido por conta de um balanço apoiado numa forte margem financeira e cobertura elevada de exposição não produtivas (NPE). Entre os 64 bancos avaliados pela EBA, a Caixa é não apenas o banco com a menor destruição de capital no exercício como também o segundo com o rácio CET1 mais elevado após o cenário adverso, apenas superado pelo italiano ICCREA Banca S.p.A. – Istituto Centrale del Credito Cooperativo, que apresenta um rácio CET1 (21,3%) ano final do exercício.
  • o BCP, considerando o balanço do final do ano passado e numa perspetiva estática, regista uma perda de capital mais de 1,2 pontos percentuais no período de três anos considerado no exercício, caindo de 15,91% no final do ano passado para 14,89% de CET1 em 2027 no cenário adverso, apesar de manter rácios confortáveis e melhorias de capital ao longo do período.
  • O Novobanco contaria com uma redução de 1,78 pontos percentuais do rácio CET1 até 2027, conforme o cenário hipotético considerado pelo BCE e com base no balanço estático de dezembro de 2024, “situando-se nos 18,6% no final do período”, refere o Novobanco em comunicado enviado à CMVM.

Os bancos mais pequenos da amostra mostraram uma perda superior aos de maior dimensão: as instituições médias registaram uma redução do rácio CET1 de 5,1 pontos percentuais, comparando com 3,8 pontos percentuais para os bancos maiores, num cenário de stress, referem os números do BCE.

Contudo, mesmo que a depleção do capital seja superior para os bancos mais pequenos, “o seu rácio CET1 no final de 2027 situa-se em 15,4% versus 11,7% para os bancos EBA”, precisa o relatório.

O exercício confirma que o reforço de capital da última década continua a sustentar a resistência bancária, com o BCE a concluir que “os tampões de capital atuais são favoráveis à capacidade do setor bancário da Zona Euro para resistir a choques adversos significativos”.

Sob o cenário adverso, 24 bancos violariam o ponto de ativação do montante máximo distribuível, enfrentando restrições na distribuição de dividendos, recompra de ações e pagamento de remuneração variável. Apenas quatro bancos não cumpririam os seus requisitos mínimos de capital, necessitando de 4 mil milhões de euros adicionais para restabelecer os níveis de capital adequados, referem os técnicos do BCE.

Mas “como o teste de stress não é um exercício de ‘aprovação ou reprovação’, quaisquer deficiências de capital identificadas informarão o SREP para cada instituição”, esclarece o BCE, referindo-se ao Processo de Supervisão e Avaliação Regulamentar que determinará os requisitos de capital específicos para cada banco.

O exercício confirma que o reforço de capital da última década continua a sustentar a resistência bancária, com o BCE a concluir que “os tampões de capital atuais são favoráveis à capacidade do setor bancário da Zona Euro para resistir a choques adversos significativos”, embora recomende “prudência contínua no planeamento de capital” face à elevada incerteza macrofinanceira atual.

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