“Europa trava um combate” e “tem de lutar pelo seu lugar no mundo”, avisa Leyen
No discurso do Estado da União, a presidente da Comissão Europeia alertou que "este tem de ser o momento da independência da Europa”, de assegurar a sua própria segurança e defesa.
“A Europa trava um combate. Trava um combate por um continente que queremos unido e em paz. Uma luta por uma Europa livre e independente. Um combate pelos nossos valores e as nossas democracias. Um combate pela nossa liberdade e capacidade de determinarmos, nós próprios, o nosso destino. Um combate pelo nosso futuro.”
Foi assim que Ursula von der Leyen arrancou o discurso anual do Estado da União, o primeiro do seu segundo mandato à frente da Comissão Europeia, deixando o apelo para que o bloco comunitário lute “pelo seu lugar num mundo em que muitas grandes potências adotam posturas que são ou ambivalentes ou abertamente hostis” à Europa. Uma referência clara aos EUA e à Rússia.
A líder do Executivo comunitário considera, por isso, que este é “o momento da independência da Europa”, em que deve ser capaz de assegurar a sua própria segurança e defesa, assumir o controlo das tecnologias e energias que irão estimular as economias, e escolher os aliados com quem quer estabelecer parcerias, “sejam novos ou velhos conhecidos”.
“Será que temos a capacidade para lutar? Será que existe unidade e sentido de urgência? Será que há capacidade política para alcançar consensos? Ou será que vamos ficar paralisados por aquilo que nos divide?”, questionou, diante dos 730 eurodeputados e do Colégio de Comissários no Parlamento Europeu.
Para von der Leyen, a escolha é “clara”: “Venho aqui para defender uma mensagem de unidade entre os Estados-membros, entre as instituições da UE, entre as forças democráticas pró-europeias deste Parlamento, para reforçar a maioria democrática pró-europeia, porque é a única que pode dar resultados concretos aos europeus.”
Depois de partilhar a história de uma avó e de um neto ucranianos, que estavam na plateia em Estrasburgo a assistir ao discurso, a presidente da Comissão Europeia anunciou a realização de uma “Cimeira da Coligação Internacional para o Regresso das Crianças Ucranianas”, prometendo continuar os esforços diplomáticos para pôr termo à guerra na Ucrânia.
Ursula von der Leyen avançou também que o Executivo comunitário está a trabalhar num novo pacote de sanções contra a Rússia e que irá apresentar um novo programa, “Vantagem Militar Qualitativa”, para apoiar o investimento nas capacidades das Forças Armadas ucranianas, como por exemplo em drones.
Adicionalmente, a Europa vai antecipar 6 mil milhões de euros ao abrigo da iniciativa de empréstimos ERA e entrará numa “Aliança de Drones” com a Ucrânia. “A Ucrânia tem o engenho, o que precisa agora é de escala”, assinalou a líder da Comissão.
Por outro lado, anunciou um “Observatório do Flanco Leste”, que está na linha da frente da defesa da Europa, para “investir em vigilância espacial em tempo real” e “construir uma muralha de drones”. Von der Leyen garante que “a Europa defenderá cada centímetro do seu território”.
Mas o anúncio mais inesperado seria o que se seguiu a propósito da guerra na Faixa de Gaza, a respeito da qual os responsáveis europeus têm sido frequentemente acusados de inação e de terem “dois pesos, duas medidas” em comparação com a Rússia.
Face ao cenário de fome e destruição em Gaza que “abalou a consciência do mundo”, Ursula von der Leyen disse que a Comissão vai pôr “em espera” o apoio bilateral a Israel, ao mesmo tempo que apresentará ao Conselho duas propostas: uma para sancionar os “ministros extremistas” do Governo de Benjamin Netanyahu e “colonos violentos” e outra para suspender parcialmente o Acordo de Associação em matérias comerciais.
“Sei que será difícil encontrar maiorias. E sei que qualquer ação será “demais” para uns e “de menos” para outros”, reconheceu a líder do Executivo comunitário, apelando, porém, ao sentido de responsabilidade do Parlamento, do Conselho e da Comissão.
Para a Palestina, será criado um “grupo de doadores” já em outubro, que incluirá um instrumento dedicado à reconstrução de Gaza. “Será um esforço internacional com parceiros regionais e basear-se-á no impulso da Conferência de Nova Iorque organizada pela França e pela Arábia Saudita”, apontou.
Em matéria de asilo e imigração, von der Leyen disse que a UE tem de intensificar os esforços para estabelecer um sistema que seja “humano”. “Mas não podemos ser ingénuos”, ressalvou. Isso significa levar a sério “o regresso dos requerentes de asilo rejeitados aos seus países de origem”, fazendo o apelo aos Estados-membros para que “ajam rapidamente” no sentido de criar um sistema europeu comum para os retornos. Aqui, prometeu ainda “trabalhar mais estreitamente com as companhias aéreas, especialmente no que toca a rotas problemáticas, como as que vão para a Bielorrússia”.
Mirando, por outro lado, a “vaga” deixada pelos Estados Unidos na liderança global da Saúde, a presidente da Comissão Europeia afirmou que “a Europa está pronta para liderar” nesta área, na qual, para combater a desinformação, prometeu uma iniciativa de “Resiliência Global da Saúde”.
(Notícia atualizada pela última vez às 12h18)
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