“Politicamente, a União Europeia não deve considerar a China um parceiro confiável”, defende Cavaco Silva
Antigo Presidente da República considera que UE deve adotar uma atitude de "grande firmeza face à agressividade e concorrência desleal" das exportações chinesas e recordou apoio de Pequim à Rússia.
O antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva defendeu esta quinta-feira que a União Europeia não deve considerar a China um parceiro de confiança, devido ao apoio às decisões de Vladimir Putin. O antigo Chefe de Estado alertou ainda que as guerras comerciais são prejudiciais para uma “pequena economia” como a portuguesa, considerando que o Mercosul é uma importante alternativa às relações comerciais com os Estados Unidos.
Aníbal Cavaco Silva falava numa conferência do Financial Times sobre “a posição de Portugal numa ordem global em mudança”, na Nova SBE, em Lisboa, quando identificou os desafios que se colocam atualmente no quadro internacional.
“A China, a maior potência comercial do mundo, com uma economia que se aproxima rapidamente do tamanho dos Estados Unidos e cuja moeda é aceita regionalmente como meio de pagamento, deve inevitavelmente ocupar uma posição relevante nas relações externas europeias. No seu diálogo com as autoridades chinesas, na defesa dos seus interesses, deve adotar uma atitude de grande firmeza face à agressividade e concorrência desleal das exportações chinesas”, afirmou.
No seu diálogo com as autoridades chinesas, na defesa dos seus interesses, deve adotar uma atitude de grande firmeza face à agressividade e concorrência desleal das exportações chinesas.
No entanto, alertou que, “politicamente, a União Europeia não deve considerar a China um parceiro confiável, visto que apoia a invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin e as atrocidades por ela praticadas”.
O antigo Presidente da República defendeu ainda que a União Europeia precisa de investir mais em defesa, sendo necessária a união dos Estados-membros para que a indústria ganhe escala. “Tanto a ameaça da Rússia como a nova Administração americana deixaram claro que a União Europeia precisa de investir mais em defesa”, afirmou.
“A Europa, defensora da democracia, da ordem liberal e da prosperidade dos cidadãos, não pode hesitar no apoio à Ucrânia e na imposição de sanções à Rússia. Os ditadores do mundo não podem ter a perceção de que as democracias ocidentais são frágeis”, sublinhou.
Para o antigo Presidente da República “uma coordenação eficaz entre os Estados-membros é essencial para reduzir a fragmentação da indústria de defesa europeia e permitir que esta ganhe uma escala internacional competitiva”.
Cavaco Silva recordou ainda a guerra comercial a que se assistiu desde que Donald Trump chegou à Casa Branca, considerando que o acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos “não será o fim das tensões comerciais e políticas com a Administração norte-americana”, argumentando que embora o documento favoreça os Estados Unidos, “com o presidente Trump, o futuro é sempre incerto”.
“Para uma pequena economia como a portuguesa, as guerras comerciais são prejudiciais, e este é um momento de grande incerteza global, com regimes autocráticos a ganhar cada vez mais peso económico e político. Portanto, a União Europeia deve fortalecer e melhorar as relações externas para reduzir vulnerabilidades e garantir uma posição geopolítica de destaque na nova ordem mundial emergente”, considerou.
Para uma pequena economia como a portuguesa, as guerras comerciais são prejudiciais, e este é um momento de grande incerteza global, com regimes autocráticos a ganhar cada vez mais peso económico e político.
Neste sentido, recomendou não só a diversificação dos mercados de exportação, como “autossuficiência em produções estratégicas para evitar interrupções nas cadeias de abastecimento”. Neste contexto, “Portugal deve defender o fortalecimento das relações europeias com a África, a América Latina e os países fronteiriços do Mediterrâneo”, apontou.
“Igualmente estratégico para Portugal é o pleno aproveitamento do acordo de livre comércio da União Europeia com países terceiros como o Canadá, o Japão, a Coreia do Sul, o México, o Mercosul“, defendeu, considerando “inaceitável” que a entrada em vigor do Acordo comercial da União Europeia com o Mercosul, assinado em dezembro do ano passado, “esteja a ser bloqueado por um ou dois países. Para Cavaco Silva, o bloco “deve inevitavelmente ocupar um lugar relevante nas relações externas dos europeus”.
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