A pesca portuguesa navega para a Expo 2025 para estreitar relações com o Japão

  • ECO
  • 12 Setembro 2025

Para Afonso Oliveira, Presidente do Conselho de Administração da Docapesca, a Expo Osaka 2025 é uma oportunidade única para reforçar a relação entre os dois países e impulsionar a internacionalização.

As relações entre Portugal e o Japão têm séculos, e há traços que nos unem para além da própria História. No que toca ao mar e ao setor alargado das pescas, a qualidade e sustentabilidade dos produtos portugueses é uma vantagem competitiva no mercado nipónico, mas há ainda muito mar para navegar nesse campo. Este foi o tema da conferência Missão Empresarial Osaka Tóquio, que decorreu esta quinta-feira, e que procurou identificar as prioridades da comitiva nacional ao Japão, realçar as nossas forças e fraquezas para fazer mais negócios neste país, e mostrar exemplos de empresas que já lá estão, e que podem ajudar outras a entender esse mercado.

O Japão tem uma excelente ideia de Portugal e, em alguns setores, olha para nós com alguma admiração”, afirma Salvador Malheiro, secretário de Estado das Pescas e do Mar, durante o evento Missão Empresarial Osaka/Tóquio, realizado no Estúdio ECO, no âmbito da participação da Docapesca na Expo Osaka 2025.

Salvador Malheiro mostrou-se estar muito otimista em relação à participação de Portugal nesta Exposição Mundial, que acontece em Osaka, no Japão, entre 13 de abril e 13 de outubro de 2025. “Nós somos bons enquanto povo a relacionarmos com os outros, a não ter medo de novos desafios. Portanto, eu estou muito esperançado que esta Semana do Mar possa ser um sucesso no que diz respeito à promoção de ligações e de negócios”, acrescenta.

Alinhada com este espírito de cooperação, a estratégia nacional portuguesa para o mar também encontra pontos de contacto com a visão japonesa. “O Japão tem realmente uma visão muito parecida na perspetiva de envolver todos para os assuntos do mar”, referiu Marisa Lameiras da Silva, diretora-geral de Política do Mar, identificando no setor do pescado “domínios essenciais de convergência, já que o Japão valoriza a alta qualidade dos produtos e a segurança alimentar”.

Além de Portugal ter um produto de qualidade, Marisa Lameiras da Silva referiu a importância dos setores emergentes, como é o caso das algas, que segundo a própria têm uma boa relação e potencial com o mercado japonês.

"Muitas vezes promovemos missões internacionais e aquilo que procuramos fazer é tentar angariar financiamento do outro lado para conseguirmos que as empresas nos acompanhem”

Gonçalo Santos, coordenador para a Internacionalização do Fórum Oceano

Essa aposta na diversificação e na inovação é também sublinhada pelo trabalho do Fórum Oceano. Gonçalo Santos, coordenador para a Internacionalização do Fórum Oceano, reforçou o papel do cluster português, que diz ser um dos “poucos clusters europeus que é verdadeiramente nacional, reconhecido pelo Estado e multissetorial”. O Fórum Oceano, explicou, está a trabalhar “num projeto comum que procura mostrar a economia do mar português em Osaka nas suas diferentes perspetivas e dimensões”, da inovação ao turismo.

Sobre a internacionalização, diz que apesar da boa vontade e da qualidade das empresas portuguesas, a falta de capital continua a ser um entrave. “Muitas vezes promovemos missões internacionais e quilo que procuramos fazer é tentar angariar financiamento do outro lado para conseguirmos que as empresas nos acompanhem”, afirma.

Relativamente a apoios, Marisa Lameiras da Silva destaca o Fundo Azul, que diz que foi criado, porque a economia azul era difícil de apoiar, até pela banca. “Este fundo tem na sua génese o financiamento de projetos de investigação, de inovação, de sustentabilidade da economia azul, bem como também na cooperação internacional”, explica.

A cultura antes do produto

Mesmo com a reconhecida qualidade do pescado português, a compreensão das diferenças culturais é decisiva para fazer negócios com o Japão. Vera Campos Lima, gerente na Vinhos Norte, Ana Pinto, Public Sector na Market Access e Nuno Costa, COO na By Foods / Nata Pura, todos com experiência direta neste mercado, sublinham que o Japão valoriza relações de confiança construídas no tempo e protocolos de cortesia, aspetos que podem influenciar futuras negociações e parcerias.

Vera Campos Lima partilhou a sua experiência na Vinhos Norte, que exporta para o Japão há mais de 15 anos. “Nós somos muito intuitivos e impulsivos, achamos que vamos ter a resposta na primeira ida ao mercado. Precisamos efetivamente de ter mais calma, até porque o mercado japonês e os decisores são muito ponderados. A questão do timing é muito importante, porque o dar tempo não significa esquecer, é ter tempo de absorver para depois voltarmos efetivamente a questionar”, explica.

"Nós temos que ter a consciência que se queremos estar no Japão temos que saber exatamente quais são os requisitos legais e culturais”

Vera Campos Lima, gerente na Vinhos Norte

Para a responsável, o Japão é um mercado de valor, onde não se vende volume, mas sim valor acrescentado para Portugal. “Nós temos que ter a consciência que se queremos estar no Japão temos que saber exatamente quais são os requisitos legais e culturais”, acrescenta.

Nuno Costa, explica como é que, neste mercado, se transforma um produto tradicional num sucesso. “Nós vendemos pastéis de nata, mas ninguém nos conhece aqui, porque as vendas que temos no mercado nacional são residuais, somos uma empresa de exportação. O que temos cá é praticamente para amigos ou amigos de amigos”, explica. Atualmente, a marca vende cerca de 2.500 unidades por dia no restaurante do pavilhão português da EXPO 2025.

Sobre a estratégia por trás desse sucesso, Nuno Costa refere que a empresa tem um departamento interno de marketing maior do que o de vendas. “Temos a clara noção que é preciso ativar o produto e criar awareness em muitos mercados. O produto tem muito boa aceitação, só que é preciso sabê-lo posicionar”, explica.

Também Ana Pinto deixou conselhos práticos para empresas portuguesas que negoceiam com o Japão. Além de sublinhar a importância dos formalismos, com os cartões, que não devemos guardar imediatamente no bolso, relatou um exemplo da meticulosa burocracia japonesa. “Para fazermos uma coisa simples como uma impressão numa gráfica, eles enviam-nos um contrato com cerca de 16 páginas, com condições.” É preciso entender os costumes locais e mostrar respeito e capacidade de adaptação. Isso permite estabelecer confiança e gerar relações de longo prazo, com muita estabilidade.

No final da sessão, Afonso Oliveira, Presidente do Conselho de Administração da Docapesca, referiu que “Portugal tem uma oportunidade única para reforçar a relação que tem com Japão”, onde irá perceber o mercado, acompanhar as empresas e promover a internacionalização.

Para o Presidente do Conselho de Administração da Docapesca, que lidera desde o início de setembro a nova administração da empresa pública, esta missão “não é um ponto de chegada, mas de partida”.

Assista à conversa completa aqui:

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

A pesca portuguesa navega para a Expo 2025 para estreitar relações com o Japão

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião