Investimento em hidrogénio de baixas emissões dispara 80% a nível mundial

A AIE aponta para uma subida do investimento em hidrogénio de baixas emissões de cerca de 80% em 2024, salto que deverá repetir-se em 2025. China e Europa deverão liderar o investimento.

Um total de 340 projetos de produção de hidrogénio de baixas emissões — feito através de eletrólise ou com o auxílio de tecnologia de captura de carbono — estavam em construção, a nível mundial, em 2024, o correspondente a 4,3 mil milhões de dólares em investimento, um salto de 80% face a 2023. Em 2025 deverá verificar-se um salto equivalente, de mais de 80%, atingindo-se assim à fasquia de oito mil milhões de dólares, prevê a Agência Internacional de Energia (AIE). Isto, apesar de as perspetivas em termos de produção até ao final da década estarem a abrandar.

China e Europa deverão liderar o investimento nestes projetos em 2025, seguidos dos Estados Unidos, de acordo com os dados partilhados pela Agência Internacional de Energia esta sexta-feira, no Relatório Global de Hidrogénio 2025.

O investimento dividiu-se, quase equitativamente, entre projetos que usam a tecnologia de eletrólise e aqueles que se reduzem as respetivas emissões através da captura de carbono. Em 2025, o investimento em eletrólise deverá representar 80% do total, apesar de só contribuir para pouco mais de metade da produção, já que os projetos de eletrólise são mais intensivos em capital.

“Os últimos dados indicam que o crescimento de novas tecnologias de hidrogénio [como a eletrólise e a captura de carbono] está sob pressão, devido a ventos contrários por parte da economia e incertezas regulatórias, mas ainda assim vemos sinais fortes de que o seu desenvolvimento está a avançar globalmente”, avalia o diretor executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, citado no comunicado que acompanha o relatório.

A procura global por hidrogénio aumentou para quase 100 milhões de toneladas em 2024, uma subida de 2% face a 2023. Este aumento foi suportado, sobretudo, por setores como a refinação de petróleo e indústria. A produção deste gás continua a ser largamente fóssil. O hidrogénio que tem por base combustíveis de baixas emissões deverá atingir um milhão de toneladas em 2025, pesando menos de 1% na produção global.

Os últimos dados indicam que o crescimento de novas tecnologias de hidrogénio [como a eletrólise e a captura de carbono] está sob pressão, devido a ventos contrários por parte da economia e incertezas regulatórias, mas ainda assim vemos sinais fortes de que o seu desenvolvimento está a avançar globalmente.

Fatih Birol

Diretor Executivo da AIE

A travar a aceleração do hidrogénio de baixas emissões estão custos elevados, procura incerta o ambiente regulatório e o desenvolvimento de infraestrutura, identifica a agência.

Ainda assim, a tendência é de crescimento: a produção de hidrogénio de baixas emissões cresceu 10% em 2024 e, apesar da onda recente de cancelamentos e adiamentos de projetos, “vários indicadores sugerem que o setor continua a amadurecer”, indica a agência.

Um dos indicadores dados como positivos é que mais de 200 projetos de produção de hidrogénio com baixas emissões tiveram uma decisão final de investimento favorável desde 2020, apesar de o número de decisões finais ficar muito atrás do número de projetos anunciados. Em paralelo, a AIE regista um número recorde nos casos de progresso de tecnologias que servem a cadeia de valor do hidrogénio.

De momento, é expectável atingir-se um nível de produção de 37 milhões de toneladas por ano (Mtpa) em 2030, abaixo das 49 Mtpa previstas no ano passado. O potencial caiu tanto no que diz respeito a projetos baseados em eletrólise como aqueles que planeavam usar combustíveis fósseis aliados a tecnologias de captura de carbono, embora os primeiros sejam responsáveis por mais de 80% da quebra.

Do outro lado da equação, abrandaram os acordos de aquisição, atingindo as 1,7 Mtpa em 2024, que comparam com as 2,4 Mtpa do ano anterior. Os novos acordos concentraram-se nas indústrias de refinação, químicos e transporte marítimo. Os portos são vistos como bem posicionados para incentivarem a adoção de hidrogénio no setor marítimo. Os países do sudeste asiático são também referenciados como estando a ganhar tração no mercado de hidrogénio, tanto na produção como na procura.

De forma a continuar a promover o desenvolvimento deste gás, os legisladores devem manter os programas de apoio, incentivar a procura e construir rapidamente a infraestrutura necessária, sugere a agência internacional. “Políticas para criar procura estão a ser implementadas, mas a um ritmo lento”, denuncia a AIE.

China domina nos eletrolisadores, mas não ficam muito mais baratos

A China concentra em si 65% da capacidade global de eletrolisadores, olhando tanto à capacidade instalada como àquela que já chegou a uma decisão final de investimento, e detém quase 60% da capacidade mundial de fabrico destes equipamentos essenciais à produção de hidrogénio. Ainda assim, o gigante asiático pode enfrentar dissabores, já que a capacidade de fabrico existente está “significativamente acima” dos níveis atuais de procura. A capacidade instalada de eletrólise no mundo atingiu os 2 gigawatts em 2024, mais que 1 GW foi adicionado até julho deste ano.

Noutros locais, os fabricantes têm enfrentado pressões financeiras devido ao aumento dos custos e a uma adoção mais lenta do que o esperado”, contrabalança a AIE. No entanto, o relatório deteta que o custo de instalar eletrolisadores chineses fora do território chinês “não é significativamente mais baixo” face a outros produtores, tendo em conta custos de transporte e decorrentes das tarifas aduaneiras.

O custo de fabricar a instalar um eletrolisador fora da China, em 2024, variava entre os 2000 e os 2600 dólares por quilowatt (kW). Se feito e instalado na China, o intervalo de preços estava entre os 600 e os 1200 dólares por kW. Contudo, instalar um eletrolisador chinês fora da China custava 1.500 a 2.400 dólares por kW. As barreiras ao uso de eletrolisadores chineses fora da China mantêm-se, “mas isto pode mudar brevemente”, avisa a AIE.

hidrogénioLusa

Além disso, é feito o paralelo entre os custos do hidrogénio de baixas emissões e aquele cuja produção tem base fóssil. A diferença entre ambos “é uma barreira decisiva para o desenvolvimento de projetos, mas deverá reduzir-se”, escreve a AIE, ao mesmo tempo que reconhece que, para já, aumentos nos custos dos eletrolisadores e a diminuição dos preços do gás natural têm agravado esta diferença.

No final de contas, o hidrogénio renovável deverá tornar-se competitivo em termos de custo, na China, já no final desta década, tendo em conta os custos com tecnologia e o custo do capital. Na Europa, o hiato entre as duas tecnologias – eletrólise e captura de carbono – deve diminuir, já que o gás é mais caro que noutras regiões. Em localizações como os Estados Unidos e o Médio Oriente, tendo em conta que o gás natural é mais barato, é mais provável que se torne competitiva a produção de hidrogénio com baixas emissões aliada a tecnologia de captura de carbono.

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