Margarida Rebelo Pinto: “Quando diziam que eu era light, respondia que sim. Vou ao ginásio três vezes por semana e peso 55 quilos”

  • ECO
  • 15 Setembro 2025

No próximo episódio do podcast E Se Corre Bem?, a escritora Margarida Rebelo Pinto reflete sobre o mercado editorial, críticas, estereótipos e a sua ligação visceral à literatura.

No 43.º episódio do podcast E Se Corre Bem?, a convidada é a escritora e cronista Margarida Rebelo Pinto, autora que já alcançou a marca de um milhão e meio de exemplares vendidos. Questionada sobre a possibilidade de viver da escrita em Portugal, responde que só é viável quando se “alcança um número de vendas considerável”. Para Margarida Rebelo Pinto, os últimos anos trouxeram mudanças no mercado. “Nos últimos cinco anos, os escritores portugueses deixaram de estar tanto na moda e entraram no mercado não só escritores estrangeiros, como o setor da não-ficção começou a ganhar um lugar à ficção, por causa das plataformas de streaming.”

A autora observa que a sua geração, a geração X, lê cada vez menos e está mais virada para as séries, mas realça que surge uma nova vaga de leitores mais jovens, entre os 18 e os 25 anos, o que lhe dá esperança. “É preciso incentivar os miúdos, desde pequeninos, a ler”, afirma. Recorda que o sonho de ser escritora nasceu cedo. “Sempre quis ser escritora. Era um sonho de criança. Queria ser escritora e com 13 anos concorri a um prémio de contos na Gulbenkian. Não ganhei, mas escrevi o meu primeiro conto. Antes dos 18 anos já tinha escrito um livro de poemas que infelizmente está perdido”, conta.

Antes de se dedicar à literatura, trabalhou dez anos em publicidade, experiência que considera decisiva para a forma como encara a promoção dos seus livros. “Ensinou-me o que é um produto, como é que este deve ser colocado e qual é que é o seu público-alvo”. Ainda assim, sublinha: “Não escrevo para agradar. Escrevo sobre temas e questões que considero relevantes ou fraturantes sobre a minha geração.

"Na minha família não nos deslumbramos com o poder”

Margarida Rebelo Pinto, escritora e cronista

Ao longo da conversa, Margarida Rebelo Pinto reflete sobre a solidão do mundo atual. “Quero que as pessoas se sintam acompanhadas. Porque vivemos num mundo cada vez mais solitário. (…) As redes sociais servem de montra para o alter ego das pessoas. É mais importante mostrar onde se esteve do que viver aquilo que se faz”, explica.

Sobre as críticas de que foi alvo ao longo da carreira, responde com humor: “Quando diziam que eu era light, respondia que sim. Vou ao ginásio três vezes por semana e peso 55 quilos.” Reconhece que nestas críticas, estava presente uma certa dose de misoginia, algo que a marcou de forma particular. “Venho de uma família de mulheres muito fortes, todas com grandes carreiras. Eu não sabia o que era ser criticada ou desvalorizada por ser mulher, porque não cresci nesse ambiente. Sempre tive um pai, um irmão e um cunhado que incentivaram todas as mulheres da família”, conta.

Quando questionada se é difícil ser irmã de uma ministra, responde: “É muito divertido. A minha irmã tem uma característica, que é comum a todas as mulheres da nossa família, que é a capacidade de nos pormos no camarote e sermos espetadoras da nossa própria vida e de perceber o que é que está a acontecer. Na minha família não nos deslumbramos com o poder”, acrescenta.

Considera que persistem muitos estereótipos em torno da cultura, como a ideia de que esta pertence apenas à esquerda ou, então, que um escritor só é realmente bom se vender pouco. Sobre esse assunto é clara: “Quem trabalha não tem tempo para pensar nessas coisas. A caravana passa e os cães ladram”, diz.

Mais do que debates ou preconceitos, o que verdadeiramente define o seu percurso é a relação que construiu com quem a lê. A ligação com os leitores surge como um dos pontos mais fortes da sua vida de escritora. “A magia dos livros é conseguir criar um laço afetivo com o leitor, porque os livros fazem mesmo companhia às pessoas. Depois as pessoas passam palavra aos outros, não é? Eu não vendi praticamente 1 milhão e meio de livros a fazer campanhas massivas de publicidade com orçamentos brutais”, explica.

No campo pessoal e criativo, deixa clara a sua ligação visceral à literatura. “Sou do papel, porque tenho uma relação afetiva com tudo, com os livros, com os meus leitores. (…) Existe um profundo enamoramento entre os escritores e os leitores, que é uma relação platónica, mas que é muito bonita.” E conclui com uma certeza: “Vou ser escritora até ao fim da vida. E mesmo que um dia já não viva dos livros, vou continuar sempre a viver para os livros e para a escrita.

Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts. Uma iniciativa do ECO, na qual Diogo Agostinho, COO do ECO, procura trazer histórias que inspirem pessoas a arriscar, a terem a coragem de tomar decisões e acreditarem nas suas capacidades. Com o apoio do Doutor Finanças e da Nissan.

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