Saab acena com parcerias com empresas locais para vender caças a Portugal
Depois de assinar MoU com a Critical Software e com a OGMA, a Saab admite que possa falar com mais empresas do cluster de defesa nacional. A sueca está na corrida para a renovação dos caças nacionais.
Com Portugal a querer substituir a frota de F-16 ‘em fim de vida’, a sueca Saab está a posicionar-se para ser o potencial vencedor na corrida e acena com a possibilidade de repetir em Portugal a estratégia levada a cabo no Brasil: uma parceria com a indústria nacional de defesa que levou à criação de 13 mil empregos diretos e indiretos. A empresa produtora dos Gripen já fechou dois memorandos de entendimento (MoU) com empresas nacionais, um com a OGMA e outro com a Critical Software.
“Vimos um grande interesse nos Gripen neste momento no mercado mundial e na Europa, vamos precisar de parceiros aqui em Portugal. A OGMA e a Critical [Sofware] são excelentes parceiros independentemente do que aconteça”, diz Daniel Boestad, vice-presidente do negócio Gripen na Saab, quando questionado pelo ECO sobre se a execução desse MoU com as duas empresas nacionais estaria dependente da compra dos Gripen pelo Governo português.
“Vamos precisar de parceiros dado o que se está a passar no mundo”, reforça o responsável da companhia sueca. “Assinamos os MoU apenas na semana passada. Estamos a começar essa conversa, mas estamos já a a encontrar projetos”, diz quando inquirido sobre quais os contributos efetivos que as duas empresas poderiam dar no âmbito desse acordo.
Com a Critical Software estão a ser avaliados projetos conjuntos na área de software relacionado com a aviação e com a OGMA, empresa detida pela Embraer, uma potencial cooperação na área da produção, manutenção, reparação e revisão, detalha fonte oficial da empresa.
No Brasil, depois da compra de 36 Gripen, ficou acordado que parte das aeronaves será produzida no país — no início do próximo ano está previsto o roll out da primeira das 15 aeronaves made in Brasil — resultando da parceria — também com a Embraer — a criação de 13 mil postos de trabalho diretos e indiretos, segundo números partilhados pela empresa sueca.
E Portugal, no que poderá resultar a execução desses MoU? “Certamente criar empregos sustentáveis e qualificados. O número exato irá depender”, diz Daniel Boestad, sem mais detalhes, embora admita que possa vir a realizar mais parcerias com empresas do cluster de defesa nacional. “A indústria que têm aqui é muito boa”, assegura.
“Para nós é um princípio de uma parceria muito interessante. Temos já parcerias com outras empresas — como a BMW ou a Airbus, com quem vamos ter uma empresa conjunta —, ao nível do software, portanto muitos carros e aviões por este muito fora já têm o nosso cunho, e a Saab é uma parceiro de referência, portanto, para nós é mais um projeto com muito potencial. Neste momento, não sabemos que potencial é esse, esperamos que seja grande”, diz João Pedro Mortágua, gestor de negócio da área de Defesa da Critical, ao ECO, à margem do encontro com os jornalistas.
“A Saab cada vez mais quer parceiros europeus, estão cada vez mais focados na Europa, por isso parceiros tecnológicos europeus são apetecíveis neste momento. Connosco estamos a falar há mais de um ano e o MoU foi assinado há uma, duas semanas”, conta.
“Temos empresas muito boas em Portugal capazes de participar em programas destes, prevejo, se tudo correr bem, que consigamos responder aos desafios que eles têm”, argumenta. “Nós, enquanto empresa de software que trabalha em sistemas de missão críticos, [queremos] participar na construção das novas funcionalidades que eles querem desenvolver para Portugal ou outros países onde vendam os seus aviões. Portanto, para nós é um parceiro a nível mundial e não só para este potencial negócio”, afirma.
No setor da Defesa europeu a Critical Software, recorde-se, integra o consórcio BEAST.
Concorrência americana
A empresa sueca é uma das que está na corrida para a renovação dos caças nacionais, mas enfrenta, pelo menos, a concorrência dos americanos da Lockheed Martin, e dos seus caças furtivos F-35, uma opção que agrada a Força Aérea Nacional, como admitia em maio do ano passado, em declarações à CNN Portugal, o CEMFA Cartaxo Alves. Para isso, haveria que desembolsar 5,5 mil milhões de euros pelas 27 aeronaves a serem pagos a 20 anos.
Sem falar em nomes, nem avançar valores, a Saab garante que são “de longe os mais baratos”, destacando ainda as capacidades de atualização rápida do software, dando capacidade de resposta aos caças, e desvalorizando as capacidades ‘stealth‘ das aeronaves militares de ‘nova geração’ como é o caso dos F-35. “A tecnologia stealth é velha“, atira.
O atual momento das relações entre Europa e Estados Unidos, com repercussões na Defesa do Velho Continente, está a ter impacto, como alertou em março o ministro da Defesa. “Os F-16 estão em fim de ciclo e teremos que pensar na sua substituição. Mas, nas nossas escolhas, não podemos ficar alheados da envolvente geopolítica. A recente posição dos Estados Unidos, no contexto da NATO e no plano geoestratégico internacional, tem que nos fazer pensar as melhores opções, porque a previsibilidade dos nossos aliados é um bem maior a ter em conta”, afirmava Nuno Melo, em entrevista ao Público. “Temos que acreditar que, em todas as circunstâncias, esses aliados estarão do nosso lado. Há várias opções que têm que ser consideradas, nomeadamente no contexto de produção europeia e também tendo em conta o retorno que essas opções possam ter para a economia portuguesa”, disse ainda.
Face ao atual momento geopolítico, poderá a Saab ter aqui uma vantagem concorrencial junto do Governo português? “O Gripen é um caça europeu, mas como país e empresa as relações com os EUA são muito importantes, não quero entrar numa análise das relações entre a Europa e os EUA”, reage Daniel Boestad, quando questionado pelo ECO.
Mas estaria Portugal melhor servido com um caça europeu? “Cabe ao Governo português decidir”, diz apenas.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Saab acena com parcerias com empresas locais para vender caças a Portugal
{{ noCommentsLabel }}