CEO da Air France-KLM vê Governo a querer troca de ações na TAP

O investimento na TAP só fará sentido se o grupo franco neerlandês puder gerir "sem interferência" a companhia portuguesa, apesar de a maioria do capital continuar a ser público, diz Benjamin Smith.

Benjamin Smith, presidente executivo do grupo Air France-KLM.

A Air France-KLM ainda não tomou uma decisão sobre a apresentação de uma proposta na privatização da TAP, mas ela acontecerá “muito rapidamente”, afirma o CEO. Certo é que, a avançar, o grupo franco franco-neerlandês quererá sempre ter o controlo da gestão. Benjamin Smith vê o Governo português a querer uma participação do Estado na casa mãe do grupo, como acontece com França e Países Baixos.

“Do ponto de vista da estrutura de capital, se o Governo português quiser manter uma participação, vemos o Governo português a tomar uma posição a nível do grupo, como temos com os Países Baixos”, afirmou Benjamin Smith durante uma conferência de imprensa com jornalistas portugueses em Amesterdão, na sexta-feira. “Há uma série de cenários onde o Estado português pode ter garantias”, acrescentou.

O grupo Air France-KLM tem como maiores acionistas o Estado francês, com 28%, e o holandês, com 9,1%. A troca de ações é uma das possibilidades admitidas no caderno de encargos da privatização de 49,9% da TAP, dos quais 5% estão reservados para os trabalhadores. Neste cenário, o Estado português trocaria 44,5% da companhia portuguesa por uma participação no grupo Air France-KLM, que tem atualmente um valor de mercado a rondar os 3.000 milhões de euros.

Benjamin Smith afirma que o processo com a TAP poderá ser idêntico ao da KLM, em 2004, nomeadamente quanto às garantias que foram dadas ao Governo neerlandês. “Com a KLM sentimos imensa pressão para que a KLM não perdesse a identidade, que mantínhamos a marca, que a rede de destinos não seria marginalizada e que os empregos eram mantidos“, conta.

Garantias que foram também dadas ao Governo dinamarquês em relação à escandinava SAS, onde a Air France-KLM tem desde 2024 uma participação de 19,9% no capital, tendo em julho anunciado a intenção de chegar aos 60,5%, ficando a Dinamarca com 26,4%. O CEO do grupo garante que o mesmo compromisso “fará parte de uma proposta para a TAP”.

Gestão “sem interferência” do Estado

Uma coisa é certa, o negócio só fará sentido para o grupo franco neerlandês se puder gerir livremente a companhia portuguesa, apesar de a maioria do capital continuar a ser público. “O mais importante para nós é estarmos numa posição de tomar as decisões comerciais na TAP. O investimento na TAP não tem interesse se não podermos gerir a companhia“, afirmou Benjamin Smith.

Até porque, só dessa forma, será possível extrair sinergias do negócio, que passam pela gestão comercial conjunta, preços mais favoráveis na compra de aviões e motores, a integração dos respetivos programas de fidelização de clientes (vulgo milhas) ou dos sistemas tecnológicos.

Este é um negócio muito complexo e com margens baixas. O Estados francês, holandês e agora dinamarquês dão-nos flexibilidade total e controlo total sem interferir na gestão das companhias. Esta vai ser a nossa posição.

Benjamin Smith

CEO da Air France-KLM

“Este é um negócio muito complexo e com margens baixas. O Estados francês, holandês e agora dinamarquês dão-nos flexibilidade total e controlo total sem interferir na gestão das companhias. Esta vai ser a nossa posição”, declarou o gestor.

O decreto-lei da privatização de 49,9% da TAP, dos quais 5% para os trabalhadores, prevê que o comprador assuma o controlo da gestão. A relação entre o novo acionista e o Estado será definida através de um acordo parassocial que fará parte da proposta dos interessados. “Teremos de fazer a nossa proposta e terá de ser negociada”.

Em aberto está ainda o modelo em que a Air France-KLM irá concorrer. “Pode ser só a Air France-KLM, pode ser com um parceiro financeiro, pode ser um acordo entre Estados. Não afastaria qualquer uma das hipóteses”, afirmou Benjamin Smith.

A comissão executiva está ainda a finalizar a proposta que vai levar ao conselho de administração da Air France-KLM. “Vamos decidir muito rapidamente se vamos apresentar uma oferta”, diz o gestor.

O jornalista viajou a convite da Air France-KLM

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