Apagão ibérico foi o pior na Europa dos últimos 20 anos. Peritos com dificuldade em obter dados

O primeiro relatório sobre o apagão aprofunda os acontecimentos, mas não tira conclusões nem faz recomendações. Isso fica para o documento final, a ser lançado em 2026.

O painel de especialistas da Rede Europeia de Operadores de Redes de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E) apresentou, esta sexta-feira, o relatório preliminar sobre o apagão ibérico, “o incidente de apagão mais severo no sistema energético europeu dos últimos 20 anos“.

Desta comunicação, resultam três mensagens: foi uma situação inédita, na medida em que nunca um apagão tinha acontecido devido a voltagem elevada, foi difícil reunir os dados necessários, e o objetivo do grupo é prevenir acontecimentos futuros semelhantes; o apuramento de culpas fica do lado das autoridades espanholas.

Era “um dia típico de Primavera” que não deixava antever os problemas que seriam sentidos na rede elétrica da Península Ibérica. Contudo, pelas 10h30, registaram-se as primeiras flutuações de voltagem em Espanha, enquanto Portugal se mantinha “mais ou menos estável”. Mais tarde, “a sobrevoltagem espoletou uma cascata de perdas de geração que causou o declínio da frequência no sistema energético espanhol e português”, lê-se no relatório. Em menos de dois minutos, a falha espalhou-se por Espanha e Portugal, tendo sido estancada apenas na fronteira com França.

Neste sentido, o grupo de peritos afirma que irá concentrar-se, daqui para a frente, em estudar formas de controlar a voltagem em todo o sistema. Voltagem “é o nível de energia” e “tem de ser mantido dentro de um intervalo”, indicou Klaus Kaschnitz, do operador de rede austríaco, na apresentação do relatório à imprensa, que decorreu esta manhã.

Este tipo de problemas, explicou Kaschnitz, são geralmente muito localizados — neste caso, começaram no sul de Espanha. A solução é também mais local, “não se pode aumentar a voltagem a largas distâncias”. “O controlo de voltagem pode ser feito, não é uma tecnologia muito complicada. É simples, mas tem de ser requerido”, concluiu.

Ainda assim, ficou o elogio: “os operadores do sistema em Espanha e Portugal conseguiram recuperar muito rápido nesse dia. O último evento desta dimensão demorou quase três dias [a resolver-se]“, afirmou um dos porta-vozes, Klaus Kaschnitz.

Em paralelo, os porta-vozes deixaram algumas queixas, no que diz respeito à obtenção dos dados necessários para reconstruírem os eventos e tirarem conclusões. “Existiram dificuldades significativas em obter dados de alta qualidade”, indicou Kaschnitz, nomeadamente no que diz respeito à partilha por parte de produtores. Ainda há alguma informação em falta.

Culpas são com as autoridades

O relatório final deverá ser entregue no primeiro trimestre do próximo ano. É neste documento final que estará uma análise do evento, as causas por detrás dele e algumas recomendações.

Tanto no relatório preliminar como no próximo, não deverão ser “alocadas culpas”: o objetivo é “fazer uma descrição objetiva do que aconteceu, não é alocar culpas de qualquer tipo. Não somos um corpo judicial“, indicou Damian Cortinas, o presidente da administração do ENTSO-E. Deixa por isso o apuramento de culpas para as autoridades espanholas, “quando for oportuno”. “O nosso objetivo é aprender com este evento, de forma a que não se repita”, rematou.

 

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Apagão ibérico foi o pior na Europa dos últimos 20 anos. Peritos com dificuldade em obter dados

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião