Gabriel Bernardino: “Somos um público de aforradores, mas não de poupança de longo prazo”
Na conferência anual do ECOseguros, o regulador reforçou a necessidade de produtos para a poupança a longo prazo, a importância de inovação nos seguros de saúde e da diretiva de Solvência II.
O setor segurador é muito desenvolvido mas enfrenta ainda importantes desafios, entre eles afirmar-se como um verdadeiro caminho de poupança de longo prazo para os portugueses, como forma de complementar as reformas.
Isto mesmo foi defendido por Gabriel Bernardino, o novo presidente da ASF, a entidade supervisora dos seguros em Portugal, que foi o primeiro orador da 6ª Conferência Anual ECOseguros, que decorre esta quinta-feira no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Numa intervenção sob o mote “Construir hoje a resiliência de amanhã”, O regulador falou da necessidade do setor segurador estimular a poupança a longo prazo para a reforma dos portugueses, da necessidade de inovação dos seguros na área da saúde, da importância da criação de um fundo contra as catástrofes naturais e, por fim, o papel da diretiva de Solvência II na libertaçao de capital para ser investido em projetos estratégicos.

“Num mundo marcado pela multiplicação dos riscos — climáticos, digitais, demográficos e geopolíticos — o setor segurador assume hoje, e assumirá cada vez mais no futuro, um papel essencial como pilar de estabilidade, proteção e confiança para os cidadãos e para as empresas, transformando incerteza em segurança e promovendo resiliência económica e social”, afirmou.
Porém, é preciso fazer mais. “No entanto, em Portugal, o setor segurador ainda não tem a expressão que se observa em muitos países desenvolvidos, e essa realidade tem implicações relevantes tanto para a proteção dos cidadãos como para a perceção externa da robustez da economia nacional. O facto de a penetração dos seguros no PIB português continuar bem abaixo da média europeia reflete uma cultura de menor valorização da proteção financeira e da gestão de risco e é uma clara fragilidade estrutural da economia portuguesa”, defende Gabriel Bernardino. Que conclui que “reforçar o setor segurador é, por isso, não apenas uma questão de proteção social, mas também uma
estratégia de credibilidade económica e competitividade internacional”.
Poupança a longo prazo
De acordo com Gabriel Bernardino, em Portugal “somos um público de aforradores, mas não de poupança de longo prazo”. O regulador acredita que esta “inércia é um flagelo” e, como tal, “é imperioso que se efetue uma mudança estratégica na forma como olhamos para a poupança”. O presidente da ASF defende que o setor segurador deve contribuir para esta mudança de mentalidades criando “um produto tão fácil de entender, como de subscrever” para que os portugueses comecem a aderir à poupança de longo prazo.
Os seguros de saúde
Com a dificuldade de acesso ao serviço nacional de saúde, os seguros de saúde são cada vez mais uma opção para os portugueses. Gabriel Bernardino sublinhou que este tem sido “o segmento com maior progressão”, mas que, apesar disso, é necessário continuar a inovar nesta área. Para o regulador, “o futuro do setor passa por três frentes: a reconfiguração da oferta de serviços”, nomeadamente com a “verticalização das redes das seguradoras”; bem como “a criação de seguros de saúde de longo prazo”, cujos prémios sejam nivelados; e, por fim, a implementação de IA “para ajudar a mitigar os riscos de saúde”.
O fundo de catástrofes naturais em foco
O Presidente da ASF também não deixou de falar naquele que definiu como uma das prioridades do seu mandato no órgão regulador: o fundo contra catástrofes naturais. Gabriel Bernardino frisou a necessidade de “avançar com um mecanismo de proteção” onde o setor segurador tem um papel fundamental, “com o estado como garante”, para “evitar falências e o endividamento”. O regulador disse também que a criação deste fundo iria criar “um incentivo para a adoção de medidas preventivas”. De destacar que, por comparação à forma como o instrumento era classificado até há pouco tempo, agora fala-se de fundo de catástrofes, mais abrangente, e não apenas o há muito discutido fundo sísmico.
A diretiva de Solvência II
Para encerrar a sua intervenção na conferência ECOseguros, Gabriel Bernardino não pode deixar de abordar a diretiva de Solvência II, sublinhando que “o novo enquandramento prevê uma supervisão mais ajustada”, permitindo assim um “alívio de capital de montante significativo para o setor como um todo” e que esse capital deve ser “visto como uma oportunidade estratégica”.
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