André Brodheim: “Os oftalmologistas veem como ameaça o facto de oferecermos o serviço de consulta nas óticas”
Dá continuidade ao negócio familiar, mas confessa que nunca pensou fazer carreira nele. André Brodheim, no último episódio do podcast "E Se Corre Bem?", conta como foi o seu percurso até à Optivisão.
André Brodheim, Administrador Executivo da Optivisão e Vice-Presidente da ótica, é o 49º convidado do podcast “E Se Corre Bem?“. Apesar de ser um negócio familiar, o percurso profissional de André Brodheim não começou pelo legado do avô, mas sim noutros grupos bem conhecidos no mercado. Só anos mais tarde, quando se preparava para fazer uma mudança de carreira, é que recebeu a proposta do pai para assumir o cargo que ainda hoje detém.
“Eu tirei o meu curso e nunca pensei ir para o grupo. Nunca foi um plano de carreira, até porque nunca fomos educados para isso. Nós temos uma mentalidade muito arrumadinha. Somos uma empresa familiar, mas com gestão profissional. Uma coisa é ser acionista, outra é trabalhar na empresa. Por isso, eu comecei na Havas Media, depois fui para os Mosqueteiros e, mais tarde, trabalhei na SONAE, na Worten”, contou.
Apesar de ter destacado o percurso na SONAE como “muito interessante” por toda a experiência que adquiriu e pelo espírito de equipa que ali sentia, André Brodheim recebeu depois uma proposta que o entusiasmou muito: trabalhar numa empresa de telecomunicações. Contudo, na mesma altura, o negócio de família atravessava um momento mais complicado, e o seu pai, que passou a gerir o grupo desde 1980, convidou-o para gerir a distribuição da ótica do mesmo.
“O negócio estava a sofrer há quatro anos e o meu pai percebeu que o meu perfil cabia bem neste setor. Recebi uma proposta exatamente igual à da empresa de telecomunicações e aceitei“, disse, reconhecendo o peso que é continuar o legado do seu avô, um austríaco que veio para Portugal em 1939, que abriu a sua primeira empresa em 1946, e que, desde então, sempre teve como premissa trazer inovação para o país.
O negócio de família nasceu com grande ligação à indústria têxtil e teve o seu primeiro grande marco em Portugal com a inserção do fecho-ecler nas suas lojas de roupa, uma inovação que o avô de André Brodheim viu em França e quis implementar no seu negócio. Mais tarde cruza-se com outra inovação, desta vez relacionada com óculos, e foi aí que nasceu o grupo Erich Brodheim: “Ele viu uma marca italiana que fez, pela primeira vez, óculos industrialmente. Antes, os óculos eram feitos manualmente, mas ele passou para Portugal a possibilidade de serem feitos em fábrica. E foi assim que entramos no setor da ótica com o grupo Erich Brodheim”.
Atualmente, o grupo tem 70 lojas de roupa, “entre as quais a Timberland, a Guess, a Vans e a Michael Kors”. “Representamos estas marcas em Portugal, em exclusivo. São cerca de 500 clientes de multimarca na parte da moda. Mas fizemos uma clara distinção entre a moda e a ótica“, afirmou o administrador executivo, explicando que, para isso, abriram uma empresa dedicada apenas à ótica: “Antes, a mesma empresa cuidava de tudo. Começou por ser 50/50, mas depois era 92% e 8%. Quando eu entrei na empresa, em 2011, a ótica valia 8%”, declarou.
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André Brodheim, Administrador Executivo da Optivisão e Vice-Presidente da ótica, no último episódio do podcast "E se corre bem?" Hugo Amaral/ECO -
"Quando eu entrei na empresa, em 2011, a ótica valia 8%" Hugo Amaral/ECO -
"Durante dois anos e meio fiz cerca de 60 a 70 mil quilómetros por ano. Queria conhecer as pessoas que já não nos compravam e perceber onde estava a falha" Hugo Amaral/ECO -
"Os oftalmologistas veem como ameaça o facto de oferecermos o serviço de consulta nas óticas" Hugo Amaral/ECO
E foi precisamente para recuperar o que havia sido perdido que André Brodheim aceitou o desafio de entrar na empresa. “Durante dois anos e meio fiz cerca de 60 a 70 mil quilómetros por ano. Queria conhecer as pessoas que já não nos compravam e perceber onde estava a falha. Conseguimos dar a volta à situação e, em 2016, cruzamo-nos com a oportunidade de adquirir a Optivisão. Ao todo, eram 138 acionistas e eu tive que convencer a maioria a ficar no grupo. Fui pessoalmente a todos os acionistas e conseguimos adquirir a maioria do capital”, contou.
A partir daqui nasceu a vontade de criar o melhor serviço de saúde ótica para que todas as pessoas com dificuldades de visão conseguissem ter uma melhor qualidade de vida. No entanto, a falta de regulamentação é um entrave que preocupa o empresário: “Não há qualquer lei para abrir uma ótica. E depois é comum as pessoas dizerem que não se adaptam a determinados óculos, mas, na verdade, isso significa que a prótese ocular não foi feita à medida. Os óculos progressivos, por exemplo, são tão técnicos que têm de ser feitos para caber exatamente no olho daquela pessoa. Têm de ser técnicos credenciados, com experiência, a fazê-los“, alertou.
Para isso, André Brodheim optou por estabelecer a autorregulamentação na Optivisão, mas lamenta que não haja a quebra de algumas barreiras que impedem uma maior parceria entre optometristas e oftalmologistas: “Os oftalmologistas veem como ameaça o facto de oferecermos o serviço de consulta nas óticas. Mas Portugal é o único país da Europa que funciona assim. Os restantes países europeus têm um casamento entre optometria e oftalmologia. Aqui temos vindo a tentar, aliás, nos últimos 35 anos já tentamos três vezes a regulamentação da optometria, mas é sempre chumbada“.
“No país, somos dois mil optometristas para 800 oftalmologistas. Ou seja, nós podíamos ajudar bastante. Mas, infelizmente, este setor não é tratado na área da saúde visual. Ainda assim, para nós, só existe isso. O que me apaixonou no setor da ótica foi o propósito de ajudar as pessoas a terem melhor qualidade de vida. E, em termos de família, temos uma missão clara, que é entregar a empresa à próxima geração igual ou melhor do que nos foi entregue a nós“, concluiu.
Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts. Uma iniciativa do ECO, na qual Diogo Agostinho, COO do ECO, procura trazer histórias que inspirem pessoas a arriscar, a terem a coragem de tomar decisões e acreditarem nas suas capacidades. Com o apoio da Nissan e dos Vinhos de Setúbal.
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